Capítulo 18

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Na manhã seguinte Porchay acordou um pouco mais cedo que o normal e, antes de olhar seu lado na cama uma onda de medo se instalou no garoto, medo de tudo aquilo da noite passada não ter passado de outro sonho ruim. Mas ele estava ali.
Kim dormia despreocupado virado para onde o garoto estava.

Chay levantou e meio receoso de sair do quarto abriu a porta devagar e olhou o corredor enorme, vazio e silencioso.

— Está com medo?

A voz de Kim soou atrás do garoto que gritou assustado e bateu na porta atrás de si, fazendo-a fechar.

— Você tá querendo me matar?

Com a mão no peito, Chay sentia seu coração bater desesperado enquanto Kim sorria.

— Sim, mas não desse jeito que você está pensando.

— Mas eu sei o jeito que você está pensando.

Kim sorriu e negou com a cabeça. Tudo estava bem depois de tanto tempo.
Chay tocou o rosto do mais velho e afastou da frente de seus olhos alguns fios de cabelo que caiam bagunçados sobre eles.

— Faz muito tempo que eu não te olho assim...

— Faz muito tempo que eu não te tenho assim...

Kim envolveu devagar suas mãos na cintura de Porchay e lentamente o puxou, colando seu corpo e encostando sua testa a do garoto.
Na noite passada, Kim havia vestido uma camisa azul ciano do garoto já que a sua estava manchada de sangue, e era isso que o garoto observava. O mais velho levou uma das mãos até o rosto de Chay e afastou seu cabelo para ver o corte que ele tinha na testa.

— Ainda dói muito?

— Eu não sou tão fraco assim, Kim.

— Você não é fraco, mas é frágil aos meus olhos. E não precisa ter medo de nada enquanto estiver comigo. Você pode ter medo de tudo, menos de mim e nem quando estiver comigo.

Porchay ficou tímido com os olhos de Kim sobre os seus e escondeu o rosto no pescoço do mais velho que com isso sorriu satisfeito.

— O que é que você viu em mim?

— Por que pergunta isso?

— Você ainda me olha como se fosse a primeira vez que me vê.

— Você nunca perdeu a graça pra mim...

Kim abraçou forte o garoto contra seu peito e sussurrou em seu ouvido.

— Espero que eu nunca perca a graça pra você...

Depois desse pequeno diálogo, ambos os garotos desceram para preparar algo para o café e Chay também havia pensando em juntar alguns de seus livros para estudar na mesa de centro da sala, até lembrar.

— Não tem mais mesa...

— O que disse?

— A mesa de centro, esqueci que foi quebrada ontem.

— Ia estudar?

— Pretendia...

— A gente estuda aqui. — disse Kim e sentou-se na cadeira da mesa da cozinha.

— A gente?

— Sim, vou te ajudar.

Depois do café o garoto recolheu seus livros na escrivaninha e voltou para se juntar a Kim na cozinha. Enquanto estudavam o tempo pareceu parar, pois a hora começou a passar bem devagar e eles já estavam ficando entediados.
Kim levantou da cadeira e começou a andar de um lado para o outro enquanto Chay o observava também inquieto.

— Você quer alguma coisa? Está me deixando impaciente.

— Vai me dizer que não está entediado com isso? E eu também estou com calor, não tem uma outra camisa? — Porchay sorriu travesso e levantou parando na frente de Kim — Por que sorri assim?

— Nada...

O garoto passou pelo rapaz que o segurou pelo braço e o puxou.

— Você é tão fácil e ao mesmo tempo tão difícil de ler. Por que sorri e me olha assim?

— Você não é o único que é bom em esconder emoções.

Kim depositou um beijo na testa do garoto e novamente voltou a encostá-las. O mais velho desceu suas mãos até a cintura de Chay e caminhou para trás o puxando e encostando na mesa da cozinha onde estavam sentados pouco antes.

— Eu te amo, Porchay...

Os dois permaneceram em silêncio depois do mais velho ter dito aquelas palavras que Porchay esperou por tanto tempo e que finalmente estavam ali.

— Eu... eu estou com fome!

O sorriso largo cresceu nos lábios de Kim, e Porchay se divertiu com isso. Essa havia sido a primeira coisa que o rapaz respondeu ao "eu te amo, P-Kim", que Chay falou para ela há alguns meses.

— O jogo virou...

— Sinto muito por aquilo...

— Eu sei. Tudo bem...

— Pega uma outra camisa pra mim? Essa esquenta muito e eu estou suando.

— Tira ela...

Kim olhou para o garoto que sorria presunçoso e também sorriu.

— Tá tentando mexer comigo?

— Eu tenho esse poder sobre você?

— Tem, — riu — tem esse e muitos outros.

— Então faz o que eu pedi.

— Não aqui.

Depois de entrelaçar seus dedos aos de Chay, Kim o puxou escada acima e no quarto ambos sentaram de frente para o outro na cama. As mãos do mais velho envolviam o rosto de Porchay  que corava cada vez mais, e ele aproximou sua boca à do garoto.
Aquele seria o primeiro beijo de verdade que Kim daria no garoto, o tempo dele era o tempo de Porchay, e ele nunca tentaria nada sem que o garoto realmente quisesse.

Kim avançava devagar, mas o garoto não queria que o mais velho o tratasse como algo frágil e fácil de quebrar, ele era como qualquer outra pessoa e então se afastou um pouco.

— Você não precisa ir tão devagar...

— Alguém pode chegar...

As respirações eram ofegantes e desreguladas, mas eles sabiam do risco que corriam se tentassem algo aquela hora da manhã. Eles teriam o dia e uma noite inteira para fazer tudo que não fizeram no passado. Naquela manhã os dois só ficaram juntos.

A campainha tocou e quando Chay levantou para ver quem era se assustou ao ver Porsche e Kinn parados no portão.

— Você tem que se esconder dentro do armário! Porsche está aqui!

— Demorei tanto pra sair e vou ter que voltar? — brincou e Chay o puxou para fora da cama.

— Anda!

KimChay: Por Que Você Não Fica? Where stories live. Discover now