11. Família

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Liam segurou Zayn por mais um momento antes de soltar o rei Númenorino. Como sempre, estar com Zayn o fortaleceu. Sua dor ao ver os livros destruídos de sua mãe e depois a capa abrandou um pouco.

A capa que Zayn lhe dera estava arruinada. Seu padrasto tinha se enrolado nele. O manto de Zayn. O cheiro de seu padrasto o permeava. O estômago de Liam revirou mesmo quando suas mãos se apertaram.

—Você está bem?— perguntou Zayn.
—O que estou dizendo? Eu sei que você não está.

—Eu vou ficar. Você está aqui.— Liam beijou Zayn.

—E eu sempre estarei com você,— Zayn prometeu.

—Você diz isso neste lugar e eu não posso acreditar o quão sortudo eu sou. Em todos os lugares que eu olho aqui são principalmente memórias ruins agora,— Liam admitiu. Ele se inclinou contra o grande peito de Zayn. —Achei que seria diferente voltar. Mas... subestimei o peso do passado.

—Este era o escritório da sua mãe?— perguntou Zayn.

Liam assentiu. —Ela costumava ler esses livros para mim. Eu a fiz prometer que leríamos todos juntos. Quando ela morreu, eu estava proibido de entrar aqui,— ele engoliu, —mas eu costumava pegar um livro e ler antes de ir para a cama. Na maioria das noites, porém, eu estava muito cansado.

Muito cansado com pouca comida e pouca roupa para se aquecer. Um escravo em minha própria casa.

Zayn pegou um dos volumes rasgados. —Embora não possamos recuperá-los, podemos obter cópias, edições exatas, tudo isso.

—Obrigado.— Liam sorriu para ele e disse: —Esses livros não são dela, eu sei disso. As coisas dela não são ela. Assim como seu corpo não era ela depois que ela faleceu. E minhas memórias dela permanecem intocadas pela destruição aqui.— Liam gesticulou ao redor deles para os livros rasgados e prateleiras vazias. —Mas eu esperava...— Ele fez uma pausa, mas depois continuou quando percebeu que precisava reconhecer isso: —Eu sei o que meu padrasto é, mas continuei esperando que talvez estivesse errado. Eu pensei que era porque eu era Feerico  que ele não podia me amar. Mas agora vejo que ele não amava ninguém. Não minha mãe. Não Steven ou Tony.

A expressão de Zayn ficou sombria e Liam viu sua mandíbula apertar. O rei Númenorino ficou tão furioso quando viu o recanto de Liam e percebeu o olho roxo de Tony e a ansiedade de Steven. Liam quase pensou que Zayn mataria seu padrasto ali mesmo no saguão para limpar o mal dele deste lugar. Ele quase desejou que Zayn tivesse. Mas isso estava errado. Este não era o fardo de Zayn, mesmo que ele o tirasse dos ombros de Liam.

—Eu sei que você não me contou um décimo do que aconteceu com você nesta casa,— Zayn disse finalmente.

—Se eu te disser, isso se torna real.— Liam deu de ombros. —E então o ódio e a raiva que eu forcei por anos... Bem, isso vai me sobrecarregar.

—Mas e a justiça?— Zayn se sacudiu. —Eu sinto Muito. Isso não cabe a mim julgar. Isso aconteceu com você.

—Não, você está certo.— Liam mordeu o lábio inferior. —Quando eu estava em Aymar havia um mercador que ia bater em Jani, a garotinha Feerico  da aldeia. Você lembra dela?

—Sim claro.

Seria tão típico de Zayn lembrar-se da menor das pessoas em termos de posição ou importância como se fossem reis e rainhas também.

—Bem, ela estava roubando do carrinho dele. Ela estava morrendo de fome. E eu... eu o ameacei. Usei meus poderes para destruir um pedaço de fruta,— Liam admitiu. —Não tive dúvidas em defendê-la. Mas toda vez que é para mim, uma parte de mim pensa que eu mereço o que quer que tenha sido feito. Eu sou um Feerico  mestiço! Uma criança sem pai! Quem matou a mãe dele.

Cinders and Ashes  - ziamOnde histórias criam vida. Descubra agora