VII

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[dia 7]
• Maiara Carla •

No final das contas, acabou que Grazi nos chamou para almoçar na casa dela pois já se passavam das quatro da tarde e não havia nenhum restaurante aberto aquele horário. Ela teve de insistir muito para convencer Marília, eu já estava acostumada com Grazi e Loui mas eles ainda eram desconhecidos para minha mulher. Acabou que depois de tanta enrolação, subimos para a casa deles que ficava encima do estúdio e Grazi disse que faria algo rápido para nós.

Assim que entramos Loui chamou Marília para ir até a sala pegar os brinquedos dele.

— Vem titia, a madinha disse que você gosta de ver desenho, pode ver um comigo? – pude ouvi-lo se afastando.

— Claro que sim. – ela concordou segurando na mãozinha dele.

— Eu gosto de PJ masks, você gosta?

— Adoro!

E eu fiquei na cozinha com Grazi. Pela bancada podia ver Marília no sofá e Loui ligando a televisão, ele só tinha três aninhos mas era muito avançado para a idade, dava para notar isso pelo tanto que ele falava e a maioria das palavrinhas de forma correta. Fiquei observando-os por alguns minutos com um sorriso bobo no rosto, eu não era tão presente na vida de Loui mas amava tanto que parecia ser meu filho, sempre que podia passava no estúdio para vê-los, mandava mensagens e fazia chamadas de vídeo. Mesmo que eu não quisesse pensar, eu me lembrei que meu tempo estava acabando, que dali alguns dias nada disso iria existir, nem eu iria existir.

— Que carinha é essa, Mai? Parece triste – Grazi me tirou dos meus pensamentos.

— Tem uma coisa acontecendo e eu precisava muito contar pra alguém. – suspirei.

— Você sabe que pode dizer qualquer coisa pra mim, não sabe?

Me virei para onde Marília estava, me certificando de que ela estava distraída o bastante para não escutar nada, ela estava deitada no chão enquanto Loui fazia cócegas na barriga dela, e ela fingia ser a coisa mais engraçada do mundo.

— Estou com um tumor no cérebro e eu só tenho trinta dias de vida. – pensei um pouco fazendo as contas. – Bom, agora tenho vinte e três.

Grazi abriu a boca algumas vezes sem saber o que falar. Ela parou tudo o que estava fazendo para me olhar, com os olhos marejados.

— Maiara eu... Meu Deus, quando você descobriu isso?

— Há poucos dias. É inoperável, então, sem chances de viver por muito tempo. – dei um sorriso triste, tentando amenizar o clima pesado.

— E você foi em quantos médicos pra ter certeza disso?

— Um só.

— Sério? É você confia plenamente nisso? – veio até mim colocando as mãos em cada lado do meu rosto.

— Eu não quero criar falsas expectativas. E se no fim todos disserem a mesma coisa?

— E se disserem o contrário? E se tiver uma cura, Mai? Não pode desistir. Tem noção do quão grave isso é pra você perder tempo com medo?

— Eu só vou morrer, o que tem de mais nisso? – dei os ombros, na verdade eu já estava conformada com o diagnóstico e mesmo que doesse muito, eu não me importava mais com o fato de realmente morrer dentro de alguns dias.

Não era pra ser assim - MAIARA E MARÍLIA Where stories live. Discover now