XXIV

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[dia 53]
• Marília Dias Mendonça •

Se eu dissesse que ter que deixar Maiara ali naquele banheiro não estava mexendo comigo, eu estaria mentindo. Eu queria voltar lá, abraçar a minha mulher e dizer que iríamos ficar juntas, que nada mais importava, que tínhamos uma a outra, eu queria tanto tocar seu corpo, beijar sua boca. Estava com tanta saudade, queria leva-la para minha casa e aproveitar cada segundo, compensar todo o tempo que perdi. Mas eu era cabeça dura, não queria dar o braço a torcer, ainda me lembrava claramente daquela noite, me lembrava do quanto meu coração doeu quando vi ela nos braços daquela médica e queria que ela sofresse o quanto eu sofri. Queria que ela pagasse por cada lágrima que derramei, cada choro guardado em meu peito, por cada vez que eu me perguntei o que havia de errado comigo, eu só queria que ela sentisse na pele a dor de um coração partido.

— Cadê ela? – Maraísa perguntou, quando eu voltei, tentando disfarçar a tristeza em meu olhar.

— Tá lá ainda.

— Uai! O que houve? Achei que vocês iriam se entender.

— Acho que isso está longe de acontecer. Maiara e eu não temos mais volta, você sabe. – murmurei, encostando minha cabeça no ombro dela.

Maraisa virou o olho suspirando, e me empurrou para um canto mais silencioso.

— Toma. Bebe tudo. – ela me entregou um copão de 500ml com um líquido transparente.

— Que isso, boa noite cinderela? – ela forçou uma risada, me forçando levar o copo até a boca.

— Engraçadinha. Só bebe.

Dei os ombros e fiz o que ela pediu, virando de uma só vez sem ao menos sentir o gosto da bebida, fiz ânsia de vômito algumas vezes quando o álcool puro bateu no meu estômago.

— Que isso, doida? Cachaça!?

— Só um copinho de cachaça cabaré. – eu arregalei meus olhos – É pra você parar de pensar e ir lá agir. Você só pode estar de brincadeira com essa de "não temos mais volta" não tá não? Durante todo esse mês, tudo o que eu fiz foi ouvir as lamentações de vocês duas! Uma porque foi idiota e inconsequente, fez merda. A outra porque quer a todo custo punir a idiota, sem pensar que está punindo ela mesma. Lila, você não tá vendo o quanto está sofrendo com essa distância?

— Eu sei, eu sei. Mas não posso ser fraca assim, voltar pra ela na primeira oportunidade, ela tem que sentir como dói ficar longe de quem ama.

— Você acha que ela já não sabe? O tanto que a Maiara se arrependeu, você não tem nem idéia! Se conversasse com ela, você saberia. Estou do seu lado nessa briga mas já deu, já está na hora de você desculpa-la.

Eu a olhei, tentando buscar uma resposta, algo que fosse contra mas ela estava certa, não poderia mais perder tempo.

— Tá, entendi. Mas hoje não, não vou voltar atrás depois de tudo o que eu disse dentro daquele banheiro. – ela me olhou como se soubesse como me intimidar, me fazendo recuar alguns passos.

— Hoje, amanhã ou depois, uma hora você vai ter que falar com ela. Eu quero seu bem, Lila, e estou dizendo que vocês precisam uma da outra para poder ser feliz. Não perde mais tempo do que já perdeu, ou você vai esperar ver sua mulher com outra pessoa de verdade para aí, sim, ir lá dar valor?

Pensei por alguns segundos, eu queria mais do que tudo ir lá, voltar atrás e dizer que eu estava errada. Mesmo com o orgulho dentro de mim gritando para não fazer nada daquilo.

— Vou lá. Vou buscar minha mulher. – eu disse, agora mais decidida do que nunca.

— Issoooo! Boa, vai. Estou aqui, torcendo por vocês!

Não era pra ser assim - MAIARA E MARÍLIA Where stories live. Discover now