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[dia 10]
• Maiara Carla •

Acordei sentindo beijos molhados pelo meu rosto, o cheirinho doce dela invadia o ambiente, o toque macio na minha pele me causava arrepios.

— Acorda, meu amor. – ela sussurrou, eu resmunguei sonolenta.

Abri meus olhos lentamente encarando aqueles olhos castanhos, ela tinha um olhar profundo, intimidador, que me fazia querer confessar todos os meus pecados. Dei um sorrisinho admirando a obra de arte que ela era, ainda mais daquele jeitinho, cabelo desgrenhado, carinha amassada, sorriso sonolento.

— Para de babar. – ela disse rindo, eu balancei levemente a cabeça tentando disfarçar.

— Você sabe o efeito que causa em mim. – respondi me ajeitando na cama para me levantar.

— Eu fiz um café da manhã com coisas que você odeia mas, eu quero que comece comer coisas saudáveis então, vai comer tudinho e no final ganha uma recompensa. – ela dizia rápido, me impedindo de interrompe-la.

— Oh, Lila! Ah não, nem quero descer. Vou ficar aqui na cama até a hora do almoço.

— Aí vai ser pior, vou cozinhar coisas que você odeia ainda mais. – ela deu os ombros despreocupada.

— Você é um monstro, sabia? – resmunguei derrotada.

Acabei me levantando, juntei meu cabelo no topo da cabeça e fiz um nó desajeitado. Fui até o banheiro, lavei meu rosto com bastante água gelada para tentar disfarçar a cara amassada, escovei meus dentes com a companhia dela, que também fazia o mesmo e logo descemos juntas para a cozinha.

A mesa posta estava repleta de frutas e suco natural, nem um chocolate, nem um docinho. Fiz um bico me sentando frustrada.

— Que maldade, na sua vez eu deixei um monte de coisas gostosas. Lembra? Deixei até chocolatinho pra você. – cruzei meus braços, ela deu uma gargalhada e se sentou do meu lado.

— Meu amor, eu sei. – Marília acariciou meu rosto. – Será que pode comer pelo menos uma frutinha?

— Impossível. – bati o pé. Ela riu leve balançando a cabeça negativamente.

— Por favor. Por mim. Pelo menos uma, e eu te dou uma recompensa.

Ela parecia minha mãe durante a infância tentando fazer com que eu comesse algo além de salgadinho, pipoca e pirulito, me chantageando para conseguir o que queria.

— Argh! – rosnei, mas ela me convenceu, afinal não custava comer um morango ou um mamão, mesmo que eu odiasse. – Tá Marília, ta bom!

Ela comemorou animada e me abraçou pelos ombros. Ela pegou um prato de sobremesa e colocou um pedaço inteiro de melancia, ao lado, um copo de suco de maracujá que havia batido há poucos minutos.

— Que eu não faço por você, ein? – perguntei colocando um pedaço na boca. Não era ruim, tava docinho até, mas mesmo assim eu não gostava.

— Mai... – ela chamou minha atenção. – Aquele assunto de filho – ela começou baixinho, demorando para me olhar. – É pra quanto tempo?

— Não sei, amor. Você está pensando nisso pra agora?

— Eu não estava, mas – ela suspirou fechando os olhos por um segundo. – Depois de ontem, depois de saber sobre o tumor eu comecei a pensar. Estou com tanto medo de te perder, e a ideia de que você pode partir para sempre e não deixar nem um pedacinho de você comigo está me torturando.

Não era pra ser assim - MAIARA E MARÍLIA Where stories live. Discover now