XIII

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[dia 13]
• Marília Dias Mendonça •

Abri meus olhos e me arrependi no segundo seguinte. Minha cabeça estava explodindo, parecia que tinham passado com um caminhão por cima do meu corpo, sem contar com a vontade insuportável de vomitar. Pisquei algumas vezes praguejando ter deixado o blackout aberto na noite anterior. Do meu lado, Luísa ainda dormia tranquilamente, encolhida na beirada da cama no lugarzinho onde era da Maiara.

O cheiro do álcool impregnado em cada poro do meu corpo estava me incomodando, me levantei tentando não fazer barulho e fui em direção ao banheiro. Me enfiei na água gelada por alguns minutos, tentando voltar ao normal. Meu banho foi demorado, pelo menos ali naquele momento eu não pensava em nada, ainda era cedo demais para começarem as preocupações. Voltei para o quarto, peguei dentro da mala uma roupa qualquer, penteei meus cabelos molhados e já estava finalizando com perfume, quando ouvi a voz da Sonza.

— Puta merda, eu esqueci do Chico. – ela disse se levantando às pressas, tropeçando nas próprias roupas.

— Quem é Chico? – perguntei.

— Meu ficante confort premium. – Luísa continuou apressando, agora vestindo as roupas que estavam jogadas.

— Fala sério, você? Ficante confort premium?

— Por enquanto, mas eu sei que não vai dar em nada. A cara dele não me engana. Enfim, Lila, você vai ficar bem aqui sozinha?

— Vou, vou sim.

— Liga pra Maiara. Vocês precisam conversar.

Eu bufei, me sentindo incomodada com o nome sendo citado.

— Não faz essa cara, nem parece que você gosta dela desse jeito.

— O que ela fez não tem perdão. – dei os ombros, ela colocou a bolsa de lado jogando o cabelo para trás.

— Foi traição?

— Não, mas...

— Então tem perdão sim. – eu pisquei lentamente, ela tinha razão.

Eu estava pegando pesado demais com a Maiara. Não precisava de toda essa frieza e indiferença, mesmo que eu estivesse muito magoada, precisávamos conversar, colocar os pontos nos i's como duas adultas.

— Tá bem. Eu ligo pra ela. – concordei, ela sorriu me dando um beijo na bochecha e saiu com pressa.

Assim que a Sonza saiu, eu desci as escadas observando a bagunça instalada na sala e na cozinha. Copos descartáveis por todos os lugares, petiscos jogados no chão, garrafas espalhadas, vazias, pela metade e quebradas. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo, pra dar uma animada liguei a JBL e coloquei a minha playlist de sertanejo favorita, pra completar a faxina que viria logo a seguir e comprovar que uma ressaca só se cura com mais uma bebedeira, abri um gin de morango e comecei beber direto do bico.

Eu levei mais ou menos umas duas horas para arrumar toda a casa, e com isso, três garrafas de gin. Uma de morango, uma de melancia, e já estava finalizando uma de frutas tropicais. Completamente bêbada mas com a casa impecável, me sentei no sofá da sala, olhando para o teto e vendo tudo rodar. O sofrimento do bêbado chega, cedo ou tarde, e involuntariamente comecei a chorar, por estar ali, por estar sozinha, por Maiara estar tão longe e por ser tão idiota a ponto de eu ter que ir procura-la sendo que ela quem estava errada. O cenário era esse, pelo menos na minha cabeça.

Não era pra ser assim - MAIARA E MARÍLIA Where stories live. Discover now