XVI

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[dia 16]
• Marília Dias Mendonça •

Estava quase voltando para o quarto quando encontrei Maraísa saindo de lá com uma cara não muito boa. Parei no corredor, há alguns passos da porta.

— Que foi? Eu fui lá embaixo para comprar alguma coisa pra Mai, talvez ela esteja com fome. – falei, me aproximando, mas ela me parou com as mãos.

— Lila, você tá com uma carinha tão cansada. – disse, acariciando meu rosto.

— Que isso, eu estou bem. – insisti. – E aí, o que a Menezes falou?

— Maiara precisa fazer exames. Vai ficar aqui por um tempinho, acho melhor você ir descansar Lila, está aqui já há um tempão.

— Não tem problema, Isa. Eu fico, não me importo. – continuei insistindo. Ela respirou fundo me olhando, meio perdida. – O que foi? Quer dizer algo? – dei um passo a frente, tentando entrar no quarto mas ela colocou o corpo na frente do meu me impedindo.

— Não é isso... Na verdade, sim, quero dizer.

— Então diz. Porque está me prendendo aqui fora?

— Aiiii que difícil. – murmurou. – Lila, a Mai não lembra de nada, nada mesmo, nem dela ou de mim, muito menos de você. – ela dizia calmamente, me olhando nos olhos calculando as palavras para usar. – Ela está diferente, não é a mesma de antes da cirurgia, não é a sua noiva lá dentro, na verdade, ela quem pediu pra você ir.

Eu abri minha boca sem reação. Eu sabia que ela não lembrava de mim, mas que ela não me queria por perto era outra história. Meu rosto mudou, minha feição se entristeceu. Pensei que fosse acontecer de tudo, menos que ela quisesse que eu me afastasse.

— Eu vou lá falar com ela. – eu disse, com certa raiva no tom de voz, passando por Maraísa e batendo nossos ombros.

Ela não tinha culpa. Ninguém tinha culpa, mas o misto de tristeza e raiva se fazia presente e eu, infelizmente não consegui evitar.

Entrei no quarto igual um furacão. Ela estava distraída olhando para a televisão e quando bateu os olhos em mim sua expressão endureceu, aquilo me doeu, doeu muito. Tanto que eu quase engoli as palavras, eu só tive vontade de chorar, mas segurei firme.

— Maiara... Porque não conversamos um pouco?! – pedi me aproximando.

Maraisa havia ficado lá fora, mas ainda conseguia vê-la através da janela. Tanto eu quanto ela sabíamos que não seria uma conversa fácil.

— Não temos o que conversar, Marília. – ela disse, seca. Meu nome saiu com certo desdém, me estremecendo por completo. Eu não tinha emocional para suportar aquilo.

— Temos, você sabe que temos. Me deixa te fazer enxergar através dos meus olhos, por favor. – ela revirou os olhos, a cada segundo ela conseguia quebrar meu coração um pouco mais. – Eu sei que no momento está tudo confuso, é novo pra você, pra mim também é. Há algumas horas atrás você me declarava amor eterno e agora estamos aqui, você praticamente me odiando.

— Já disse que não quero conversar, muito menos com você. – respondeu rancorosa, meus olhos se encheram de lágrimas ao ouvir aquilo, respirei fundo tentando controlar.

— Por favor, tenta me entender também, se está sendo difícil pra você, imagina pra mim? Antes de entrar na cirurgia você dizia que me amava, e agora falta pouco me atirar pela janela!

Não era pra ser assim - MAIARA E MARÍLIA Όπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα