Ⓔ02 Ⓒ03 ✖ LEONA

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A casa estava num clima pesado desde o desaparecimento de Brigitte. Embora os Brams não quisessem admitir em voz alta, eles estavam preocupados.

Já Leona estava nos céus. Finalmente voltara a ter o quarto só para ela e, de quebra, a maior parte das roupas de Bree.

Olhando-se no espelho, soltou uma risada irônica.

— Aquela cara de anjo nunca me enganou — comentou ao se admirar belamente trajada com um vestido pérola rodado, com decote em barco complementado por uns sapatos de salto, cor nude e as jóias que Alf dera e Bree deixara de "presente". — Otária — gargalhou maquiavelicamente rodando sobre seus próprios pés, se sentindo como uma princesa.

De repente Leonore parou e se fitou pelo espelho mais uma vez todavia, dessa vez haviam faíscas de desprezo em seus olhos azuis. Ela olhou em volta do quarto belissimamente decorado, digno de qualquer adolescente de classe média. Para Leonore aquilo era um pesadelo, como se ela estivesse trancada na torre mais alta e mais suja do mundo.

Duas coisas que ela detestava. Alturas e podridão.

Outra coisa que ela detestava eram os Brams. Com aquelas caras de pais do ano, quando na verdade tudo o que lhes interessava era o dinheiro que os órfãos traziam. Isso podia se ver pelo modo como deixaram Bree fugir com o pedófilo gostoso, como Leona gostava de o chamar. Os Brams preferiram ficar calados, continuando a receber grana do Estado pelo acolhimento de Bree e continuar receber mais um extra de Alf para se manterem calados.

Porém o extra durou pouco, apenas 4 meses. O último envelope enviado por Alf Schuler continha uma ameaça. Ou eles ficariam calados sobre o desaparecimento de Brigitte ou outros o fariam por eles.

Ficou bem claro quem "os outros" seriam para o casal e desde então a despreocupação pela "viagem" de Bree desapareceu e eles resolveram adotar a pose de pais preocupados.

Enquanto isso, Leonore amaldiçoava a vida de Bree lhe desejando o pior nas mãos daquele monstro. Desde o começo a garota sabia o que ele era e o que ele queria. mesmo sem ter certezas. Tudo sempre indicou que ele iria colocar Bree num mundo negro e sujo do qual ela nunca mais iria se esquecer.

Contudo, havia ainda uma promessa que Leona havia feito a Bree da qual ela nunca mais iria se esquecer. Como ela iria tirar tudo da falsa anjinha se ela não estava mais por perto? Essa questão a deixava inteiramente frustrada e de uma maneira um tanto sádica, ela sentia falta da loira.

Sua primeira tentativa havia sido feita quando roubou uma paixonite de Bree. A loira suspirava pelos cantos há meses desde que botara os olhos no garoto.

Ele era jogador de Pólo Aquático do colégio onde elas andavam e, por coincidência, era do ano de Leona. O que se tornou muito mais fácil de roubá-lo da "irmãzinha".

Para infelicidade de Leonore, o desgosto de Brigitte não durou muito tempo, pois logo surgiu Alf na sua vida. Talvez tenha sido exatamente por isso que ela caiu tão facilmente na lorota dele.

Leona caminhou até um canto do quarto onde havia uma caixa repleta dos pertences de Bree. Ela mesma preparara aquela caixa com todo o gosto, mantendo nos seus lugares apenas aquilo que ela pudesse fazer proveito.

Para todos os efeitos, tanto na vizinhança quanto na escola, Bree tinha encontrado os pais verdadeiros e por isso havia desaparecido tão repentinamente do mapa. Assim, ninguém levantaria suspeitas e acionaria o alerta no Sistema.

Tinha sido uma ótima mentira na verdade e, claro, ideia de Leonore Vogel.

Dentro da caixa havia uma foto de Brigitte com os Brams. Leona estava junto, como é óbvio, mas parecia uma sombra no meio da família perfeita.

Amsterdam [PT-BR] ▬ Versão WattpadOnde as histórias ganham vida. Descobre agora