Ⓔ04 Ⓒ03 ✖ KAT e STOKER

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O ar parecia faltar em seus pulmões. Era como se Theodore tivesse desaprendido a respirar ou como se tivessem sentado em cima do seu peito; e nem afrouxando o nó da sua gravata ou abrindo os botões da sua camisa social ele conseguia aliviar essa sensação desesperadora de insuficiência respiratória.

Sua mente estava perdida num turbilhão de pensamentos desconexos, como um trem desgovernado ou uma montanha russa descarrilando.

Levou ambas as mãos aos ouvidos tentando fazer o zunido persistente sumir, mas quanto mais apertava suas mãos contra suas orelhas, mais alto o zunido soava.

Num acesso de fúria e descontrolo ele varreu todos os objetos que encontrou na sua frente, deixando o seu apartamento num estado caótico de destruição.

Quando percebeu que não tinha mais o que destruir, Theodore respirou sofregamente, cambaleou e tropeçou pelos destroços, fazendo um caminho curto até o seu quarto. Se jogou na cama e deixou que a escuridão o consumisse e aplacasse a dor que estava sentindo.

Sua noite foi atormentada por pesadelos com Kat, Mina e a jovem garota que chamara Clara de mãe. As duas primeiras seguravam a adolescente que tentava correr até ele. Elas gritavam para ela e a alertavam de que ele era um monstro, mas a jovem parecia não acreditar. Por fim a menina conseguiu se soltar e correu na direção dele, mas a cada passo apressado que ela dava em sua direção os dois pareciam cada vez mais distantes.

Stoker percebeu que se não corresse até ela talvez a perdesse de vista para sempre e então correu como se sua vida dependesse disso. Assim que alcançou a adolescente, ele a puxou para um abraço apertado, sentindo no íntimo do seu interior que aquela era a filha que ele achava ter morrido por sua culpa. Mas tão cedo o abraço iniciou apertado, quanto afrouxou enquanto ela sussurrava em seu ouvido que ele era um monstro desprezível e que sentia apenas nojo dele.

A cor branca pintava todo o semblante de Stoker, que se afastou brevemente da jovem para ver o olhar frio e odioso da sua própria filha, o repudiando.

Atrás dela surgiram novamente Kat e Mina, apoiando suas mãos nos ombros da adolescente e a levando para longe dele de forma protetora.

Stoker acordou aos gritos, desesperado pela solidão agonizante que sentiu no sonho ao vê-las sumir diante dos seus olhos.

Depois de um banho demorado para tirar o suor que escorria por si e para acalmar seu corpo e sua mente, Stoker saiu de casa em direção ao Moulin Rouge. Tudo o que pudesse fazer para manter sua mente focada em qualquer outra coisa que não o encontro com Clara e a sua filha seriam bem vindos.

Entre essas distrações estava Katerina, que entre brigas e pegações fazia de tudo para conseguir alguma pista que indicasse o caminho certo. Ela necessitava conseguir o que precisava para desmantelar o negócio horrendo que Stoker cabeceava.

Em um desses dias, Kat estava fingindo dormir no chão do escritório de Stoker, depois de ter feito sexo várias vezes seguidas. Assim que baques surdos e repetitivos soaram na porta, ela ficou alerta. Theodore se mexeu cuidadosamente, saindo de debaixo de Kat e se certificando de que ela estava realmente dormindo e então se encaminhou até o batente da porta, a entreabrindo o suficiente para ver quem era.

— Entre, mas fale baixo — Stoker sussurrou, olhando para o corpo aninhado de Kat, que mantinha o rosto virado para o lado contrário de onde ele estava. — O que você quer?

— Chegou um catálogo novo — Alf informou num tom baixo, estendendo uma maleta prateada para Stoker.

Este olhou para a mesma e então olhou novamente para Kat.

— Você não devia ter trazido isso sem me avisar.

— Foi preferível trazer sem avisar do que andar com isso por aí esperando o momento certo em que você acabasse de foder ela.

Amsterdam [PT-BR] ▬ Versão WattpadOnde as histórias ganham vida. Descobre agora