Capítulo 1 - O que você disse?

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Hoje é sexta, dia de "Quando você foi embora"! Preciso admitir que estou morrendo de ansiedade para saber a opinião de vocês sobre essa nova história...

Divirtam-se!

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Minha vida social chegou ao fundo do poço.

Cheguei à essa conclusão quando decidi que não havia nada mais triste do que estar no Facebook, às sete horas da manhã de um domingo, vendo fotos de pessoas que se divertiram na noite passada: meus colegas na balada, no shopping, em um show de rock, cozinhando com os amigos, sendo felizes...

No meio de tantas fotos de pessoas com latas de cerveja nas mãos, me deparo com uma em particular que chama minha atenção; nela está Sebastian Martinelli, meu vizinho e também ex-cunhado. Ele está sorrindo ao lado de uma garota, que usa um vestido que de tão curto se parece com as camisetas que tenho em meu armário.

A pior parte de tudo isso não é que estou olhando a foto do irmão de meu ex-namorado há pelo menos dez minutos, mas sim que, em todo esse tempo, todos os meus pensamentos se voltaram a Noah. Seria impossível não fazer a relação: Sebastian e Noah têm o mesmo tom de cabelo castanho acobreado, olhos que sempre parecem sonolentos, e a mesma habilidade de quebrar corações.

Fecho a página antes que me depare com alguma foto de meu ex-namorado – não preciso de mais alguma coisa para me deixar ainda mais depressiva. Talvez porque o excluí de meu Facebook há três anos, e porque Sebastian não tem nenhuma foto do irmão em sua conta, eu não tenho visto Noah desde a noite de sua formatura, no Ensino Médio.

Confesso que, nas semanas seguintes após Noah ter ido embora, não fiz esforço algum para tentar saber qualquer informação sobre ele, porque sentia-me triste demais para sequer sair da cama. Quando tive coragem para encarar o mundo novamente, eu já estava o odiando. Portanto, guardo em minha mente a última vez em que o vi: de terno, cabelos desgrenhados, as poucas sardas em seu nariz invisíveis sob a luz fraca, e os olhos castanhos tristes ao me encarar logo depois de ter me contado que estava indo embora.

Olho pela janela, irritada por ainda me sentir abalada com a lembrança. A memória de Noah era tão insuportavelmente presente em minha vida que, mesmo após tantos anos e milhares de quilômetros de distância, eu ainda conseguia a proeza de sentir-me triste com a falta dele.

A casa ao lado da minha, infelizmente, ainda era a casa dos Martinelli. Dona Adelaide e Sebastian ainda moravam ali, o que era uma recordação diária da felicidade que me escapou. Embora eu tentasse me manter longe de Sebastian, já que não queria lembrar de seu irmão mais novo, não era sempre que eu conseguia. O universo fez a sacanagem de fazer minha melhor amiga se apaixonar pelo garoto e, por isso, ela vivia planejando pequenas "coincidências" para encontrá-lo – mesmo que não tivesse coragem de trocar uma palavra com ele.

O que tornou tudo mais fácil foi que, apesar de ter sua mãe e seu irmão morando ali, ao lado de minha casa, Noah nunca veio visitá-los. Não vou mentir e dizer que a curiosidade não me mata, mas gostaria de saber o porquê de ele nunca ter voltado.

O pai de Noah e Sebastian é americano – o que, como você pode perceber, explica os nomes pouco comuns – e desde que ele se separou de Adelaide, há quatro anos, voltou a morar nos Estados Unidos.

E foi para lá que meu ex-namorado foi. Por escolha própria. Sem mais, nem menos.

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Enquanto caminho para minha aula de anatomia, me pergunto por que levantei da cama hoje, no que parece ser o pior dia da minha existência. Como se acordar atrasada e com um cabelo todo arrepiado não bastasse, eu ainda precisava escorregar em uma calçada e molhar todo o meu traseiro numa poça de lama.

Quando você foi emboraWhere stories live. Discover now