Capítulo 5 - Gosto do jeito que você fala meu nome

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Passei todo o sábado trancada no quarto, porque me sentia assustada demais para encarar o mundo lá fora. Não me conformava com a reação de meu corpo perante a presença de Noah e, muito menos, com a vontade que tive de passar cada segundo junto dele, desde que o vi na festa. Por isso, disse a vovó que não estava me sentindo muito bem – o que, só para constar, era verdade e não cometi um pecado ao mentir para uma senhorinha – e passei o dia encarando o teto. O resultado dessa experiência foi péssimo.

Com todo o tempo ocioso, acabei revivendo em meu pensamento as cenas da noite anterior diversas vezes. Na minha imaginação, no entanto, ela tomava rumos diferentes do que teve na realidade: em uma delas Noah ignorou completamente minha presença, me poupando de todos os sentimentos contraditórios; na outra, veio até mim e pediu perdão por tudo o que aconteceu; e na pior de todas, assim que seus olhos encontraram os meus ele veio até mim e me envolveu em seus braços.

Envergonho-me por dizer que a última foi minha preferida.

No domingo de manhã, sou acordada com o som das risadas de vovó vindo do andar de baixo. Com muita preguiça, me viro para checar que horas são: já passa das dez. Vou quase que rastejando até o banheiro, me perguntando o que fiz de errado para estar me sentindo tão mal - eu nem mesmo havia bebido muito na noite passada. De qualquer forma, a água fria que jogo em meu rosto ajuda a espantar a nuvem de sono que pairava sobre mim.

Mais uma vez, a risada de vovó ecoa pela casa e, curiosa, começo a procurar por ela. Eu conseguia dizer que ela estava conversando com alguém, mas a voz da outra pessoa era inaudível a mim. Passo pela cozinha apenas para encontrá-la vazia, e não deixo de aproveitar a oportunidade para me servir uma grande xícara de café.

Quando atravesso a porta da frente, estou certa de que irei flagrar vovó e seu Olavo em uma conversa amistosa, mas a cena diante de mim quase me faz derrubar minha bebida no chão. Rindo muito, dona Tereza plantava pequenas mudas de rosas vermelhas com a ajuda de Noah, que vestia uma bermuda bege e camiseta branca já sujas de terra. Seu cabelo estava desgrenhado por causa do vento e vê-lo sorrindo, feliz, fez meu corpo inteiro se aquecer.

Sei que deveria provavelmente ter dito alguma coisa, ou até mesmo ter saído correndo para dentro de casa, onde meu ex-namorado não pudesse me ver e me fazer sentir como uma pré-adolescente conversando com um garoto pela primeira vez. Mas, ao invés disso, eu apenas fiquei ali, parada, admirando a forma como seus lábios se curvavam em um sorriso genuíno. Eu estava hipnotizada pelo som de sua risada.

- Não, filho, você até que está indo bem – vovó diz a ele, que se atrapalha com o preparo da terra.

Eu franzo o cenho, porque ele estava fazendo tudo errado. Tinha terra demais e a quantidade de adubo era completamente nula. Não posso evitar de achar engraçado que, se fosse eu ao invés dele, vovó já estaria gritando ofensas por fazer as coisas erradas.

- A senhora tem certeza? – ele pergunta, desconfiando, se afastando um pouco para olhar seu trabalho. – Ela parece um pouco torta.

- Imagina! – vovó diz, sorrindo. – E pode parar de me chamar de senhora. É a terceira vez que te falo isso. Da próxima, vou acertar você com a pá.

Ele ri mais uma vez, fazendo as covinhas em suas bochechas ficarem evidentes.

- Desculpe, dona Tereza. É só que passei muito tempo fora e vou demorar até me acostumar com todo mundo de novo.

- O pessoal recebeu você bem? – ela pergunta, mas pelo tom de sua voz, sei que estava apenas curiosa para saber se ele e eu já havíamos nos encontrado.

Quando você foi emboraOnde histórias criam vida. Descubra agora