Capítulo 39 - Anna é minha filha

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É no fim da tarde de sábado que as coisas começam a mudar. Em todos os sentidos.

Seu Olavo convida vovó para conhecer seus filhos e netos, e ela aceita – para minha total surpresa. Não que dona Tereza não quisesse conhecer a família de seu príncipe encantado, como ela o nomeia para mim; é só que, uma vez que eles moram em outra cidade, teriam que passar o fim de semana inteiro fora. E vovó não faz isso. Nunca.

Até hoje não descobri se é por causa de mim, ou se simplesmente não suporta a ideia de estar longe de casa, mas posso contar nos dedos as vezes em que se ausentou durante a noite nos últimos anos. O que importa, realmente, é que tive o dia inteiro para mim.

Uma vez que tive bastante tempo para pensar, também, acabo aceitando sair com Mathias. Eu sei que Olga provavelmente vai me estapear quando souber, considerando que a última vez que saímos foi um pouco chato - se é que "pouco chato" pode descrever Nadia dizendo que além de ser abandonada por minha mãe, fui também abandonada por meu namorado. Mas aceito pelo simples fato de que passar a noite de sábado com um garoto bonito e atencioso não soa mal aos meus ouvidos.

Toda a minha mansidão e tranquilidade, porém, vai por água a baixo às 17 horas, quando a campainha toca.

Olho para o relógio, já sentindo certo desespero, e imagino se Mathias estaria três horas adiantado do horário que combinamos. Respiro fundo, tentando arrumar meus cabelos ainda úmidos do banho que tomei há pouco, e corro para o andar de baixo, tentando desamassar a camiseta velha que peguei de meu armário. Provavelmente não é ele, certo? Com certeza avisaria se estivesse vindo antes...

Nem todo o nervosismo que sentia por ele poder estar adiantado me fez sentir alívio quando vi Sebastian e Anna parados em frente à minha porta. A menina, com os cabelos mais bagunçados que já vi, esfrega os olhos com preguiça, como se tivesse acabado de acordar, e meu vizinho me olha com certo pavor, parecendo inquieto.

– Posso falar com dona Tereza? – pergunta, apressado. – É um pouco urgente.

Eu volto a olhar para Anna, que agora boceja sem parar.

– Ela não está.

– Será que volta logo? – questiona, ainda mais apreensivo.

– Não até amanhã à noite.

Ele dá um tapa na própria testa e se apresse para pegar o celular em seu bolso, sem largar a mão da criança, que parece estar dormindo em pé. Observo sem entender nada enquanto disca algum número e então espera que alguém o atenda.

– Sebastian, quer me dizer o que está acontecendo?

Ele levanta um dedo, parecendo esperançoso de novo, e então enfia o celular com força no bolso, frustrado.

– Hoje é o pior dia da minha vida, é isso o que está acontecendo.

– O que houve?

Ele expira o ar, irritado.

– Eu iria ficar em casa hoje, então disse a Noah que cuidaria de Anna, para que ele pudesse ir à biblioteca pegar alguns livros e por sua matéria em dia. Ele está um pouco atrasado na faculdade, por conta de tudo o que aconteceu – explica, apressado. – Mas Olga acabou de me ligar e disse que quer conversar comigo para resolver as coisas, e ao mesmo tempo, Anna acordou e quer mingau.

Eu continuo o olhando, sem dizer nada.

– Não sei fazer mingau, Serena! – ele choraminga, parecendo realmente frustrado.

Quando você foi emboraOnde histórias criam vida. Descubra agora