Quando você foi embora

Capítulo 25 - Cale a boca

Terminar a estranha relação que eu mantinha com Mathias foi provavelmente a melhor decisão que eu tomei na semana passada. Embora ele não tenha ficado feliz com minha decisão e tenha até mesmo erguido o tom de voz dizendo que era injusto que eu estivesse fazendo aquilo em nosso primeiro encontro, eu sabia que era melhor acabarmos com o que tínhamos antes que se tornasse um relacionamento de verdade. Quando era criança e sonhava com um príncipe encantado, em nenhum momento imaginava ele me trocando pela bruxa má, também conhecida como Nádia.

Planos para hoje?, eu digito para Olga, esperando que ela sugira qualquer coisa que possa me distrair de pensar em Mathias ou pior, pensar em Noah sem parar.

Odiar Sebastian, ela me responde. E você?

Eu sorrio e me espreguiço enquanto saio da cama, sentindo que era provável que eu passasse o dia inteiro de pijama.

Brigaram de novo?, pergunto, sem estar realmente interessada. Não que eu não me importe; é só que discussões entre esses dois são tão comuns quanto preguiça em manhã de segunda-feira.

Não quero falar sobre isso.

Você quer, sim.

Verdade, eu quero. Mas agora estou ocupada escrevendo uma mensagem gigante pra ele no Facebook. Ele vai ouvir umas poucas e boas.

– Vá se ferrar!

A voz de Sebastian vem do lado de fora da casa e parece animada demais para alguém que deve estar lendo os insultos de Olga. Curiosa demais para me conter, abro minha janela e me deparo com uma visão que poderia ser considerada maravilhosa por muitas mulheres. Sebastian passa a mão pelo rosto agora molhado, e quando vejo Noah rindo histericamente com uma mangueira na mão, compreendo tudo. O que meu ex-namorado recebe em resposta é o dedo do meio.

Os dois aproveitam o dia de sol para lavar o carro de dona Adelaide, e apesar do que acabou de acontecer, parecem estar engajados em uma conversa amistosa e descontraída. Era bom ver Noah sem o usual olhar de dor e culpa no rosto, agindo como se não carregasse consigo algo que o magoasse diariamente.

Perco a noção de quanto tempo passo o observando conversar com o irmão, e em certo momento, por algum motivo, ele se vira em direção à minha casa e me vê. De imediato, um sorriso largo estampa seu rosto e eu, um pouco sem jeito, tento sorrir de volta como se não tivesse acabado de ser flagrada o encarando.

– Oi – eu vejo seus lábios se mexendo, sem emitir nenhum som.

Inspirar. Expirar. Inspirar. Expirar. Apenas se concentre, porque é fácil, Serena.

Quando não respondo, ele põe a mão no bolso e tira de lá seu celular. Decido que sou idiota por estar me sentindo como um unicórnio saltitando em um arco-íris por causa de um simples sorriso, e penso que o melhor seria sair da janela ao invés de observar Noah digitando em seu celular, imaginando com quem ele estaria falando.

Meu próprio celular vibra e, quando vejo o nome de Noah no visor, volto meus olhos para ele, que sorri mais uma vez.

Pijama sexy.

Olho para baixo, para meu pijama com estampa de girafa, e não consigo evitar uma risada. Ele também está rindo, e acho que eu não poderia querer uma visão melhor para um sábado de manhã: seus cabelos castanhos avermelhados pelo sol, seus olhos escuros entreabertos por causa da intensa luz, e o sorriso largo nos lábios, por causa de mim.