Aquela patricinha que você chamou de vadia na frente de toda a classe, ainda é virgem. O nerd que você ignora todos os dias, por ser estranho e calado, sofre abuso todas as noites do pai. Você sabe disso, mas não faz porcaria alguma a respeito.
A o...
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A sensação de impotência diante da cena que acabara de presenciar era bem mais dolorosa do que o dia em que marcou sua sentença pelo espancamento do sócio metido e racista do clube. Estava tão assustado com aquilo que precisou tapar a boca com as mãos ao deixar escapar um grunhido de dor ao ver o garoto de quem gostava apanhando do pai. O Sr. O'Brien nunca havia sequer levantado a mão para o filho. Thomas não conseguia compreender como então o Sr. Sangster fazia aquilo com experiência e maestria diante da sua própria cria.
Sua mente clareou e tudo passou a fazer sentido: era óbvio que o hematoma de Newt vinha dali. Era tão mais óbvio ainda que a mãe do amigo tinha abandonado a família por conta de possíveis agressões rotineiras. E era perfeitamente compreensível o estado de nervos que o loiro ficou naquele dia em que Thomas surtou sem querer, batendo nele. Concluiu que Newt deveria ser o saco de pancadas ali naquela casa e teve que controlar o impulso de invadir o lugar e talvez espancar até a morte o monstro do pai dele.
Newt não reagia. Apenas deixou o pai montado em cima dele dando tapas e mais tapas em sua cara, enquanto o sangue vermelho já escorria pela boca. O velho levantou-se e passou a acertar alguns chutes no garoto caído, que gemia de dor em meio a um choro baixinho.
- Você é igual ou se não pior que a sua mãe! São dois inúteis! Eu te odeio! – esbravejava o imbecil, alterado pelo álcool.
Só após esta pequena gritaria, Gally, com a maior cara de sono, se deu ao trabalho de sair do quarto e tentar acabar com a baixaria.
- Pai, chega. Ele já está patético demais no chão chorando feito uma bichinha – disse afastando o velho de cima do irmão.
Aquela foi a primeira vez na vida em que viu Gally "fazer algo de bom" a Newt. O caçula tentou levantar, espalmando as mãos no chão para erguer o corpo, quando Gally agachou bem na sua frente e destilou todo seu veneno como uma víbora:
- Eu falei sério quando disse bichinha. Sei muito bem com quem andas. Te cuida garoto. Se eu fosse você me afastava daquele gay nojento antes que ele contamine você também!
Aquelas palavras abafadas pela parede de vidro cortaram Thomas ao meio, fazendo seu coração despedaçar. Podia sentir o órgão dentro do tórax sangrando muito mais do que pulsando.
Percebeu que o amigo havia se levantado e corrido para o quarto. Thomas deu a volta na casa e dirigiu-se a janela do quarto de Newt. Ao ficar na ponta dos pés para alcançar o batente, viu o loiro deitado em formato de tatu bola na cama, agonizando baixinho. Tentou abrir a janela e por sorte o trinco estava aberto. Antes de entrar deu duas batidas fraquinhas para anunciar que estava ali para não matar o garoto do coração. Newt limitou-se a erguer a cabeça que estava enfiada entre as pernas e voltou a chorar. Cansado daquela cena, Thomas afastou o vidro e fez força para escalar a parede até entrar no quarto do amigo.
Sem dizer nada, sentou-se na cama e abraçou o garoto com força, chorando junto. Comprimia a cabeça frágil dele contra seu peito e beijava seus cabelos loiros.
