A vadia

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Todo dia a dúvida pairava sempre sobre qual saia combinava melhor com seu salto alto e se a maquiagem e cabelo lhe cairiam bem para enfrentar mais um dia agitado pelos corredores da escola.

Cabelos devidamente escovados e tratados, unhas impecáveis sempre no estilo francesinha, pele hidratada e sedosa, um perfume doce um tanto quanto enjoativo demais para suas rivais e uma lábia diferente de todas as outras meninas do lugar.

Assim era ela e assim ela sabia que era desejada por quase todos os alunos da escola: fazia caras e bocas para todos, sempre muito provocativa no olhar.

Nas últimas semanas dispensou o cargo de líder de torcida para fazer parte das aulas de teatro com o povo esquisito, terminou o namoro com o playboy da escola para circular sozinha pelos corredores após ele forçar a barra com ela e decidiu errar de propósito todas as questões de uma prova marcando coraçõeszinhos a lápis no lugar de X no gabarito, só para decepcionar seus pais, criando um burburinho entre os colegas que acreditavam que Teresa estava louca.

Sim, de fato ela estava ficando louca a cada dia que se passava e sua vida era preenchida do mais completo nada! Era assim que Teresa se sentia; totalmente vazia, oca e sem uma perspectiva boa pela frente.

Pais omissos, amigos falsos e uma vida repleta de momentos que trocaria por um simples abraço sincero ou um carinho verdadeiro. A menina tinha tudo e ao mesmo tempo não tinha nada. Contraditório pensar assim, mas era exatamente deste jeito que ela se encontrava parada em frente a uma vitrine, fitando sua silhueta ser refletida entre manequins e paredes de vidro. Tentava entender o porque daquele vazio todo que sua imagem passava aos olhares alheios.

- Ih, olha lá a vadiazinha da escola tendo um dia difícil entre gastar ou não gastar o dinheirinho do papai! – ouviu ao fundo.

Nem relutou em virar o corpo para trás e conferir da onde vinha a ofensa. Ela sabia quem era e não valia a pena comprar a briga. Fez o que sempre fazia quando alguém a incomodava; jogou os cabelos negros em slow motion para o lado como num perfeito comercial de shampoo e saiu rebolando, ignorando por completo a situação. Sentiu o ser se aproximar e cercá-la contra a parede, fazendo os amigos rirem da cara de desespero que ela fazia.

- Sempre me ignorando né? Quando é que as meninas da sua raça vão notar que caras como eu existem?

- Qual é a sua hein Gally? Me deixe em paz!

Ela pediu, tentando sair do cerco do loiro. Em toda sua vida Teresa trocara apenas poucas palavras com o grandalhão. Na maioria das vezes era só esse lero, lero sobre as ofensas que o menino insistia em fazer a ela quando estava na companhia dos amigos. Ele a puxou pelo pulso, fazendo a morena perder o equilíbrio do salto plataforma e cair de bunda no chão, deixando a calcinha aparecer pela saia levantada. Todos a sua volta riram, exceto Gally que a encarava de cara feia:

- Isso é por você ser essa putinha que provoca a todos com esse seu jeito superior e não aguenta as consequências.

As investidas do garoto haviam piorado nas últimas semanas após Teresa anunciar que estava solteira. Isso deu a oportunidade de todo ser possuidor de um pênis na escola se achar no direito de tentar uma aproximação com ela e na maioria das vezes era sempre desta forma; todos tratavam ela como uma garota fácil e fútil e isso a chateou demais naquela tarde.

Recobrou a consciência dentro do provador da loja mais próxima que encontrara, enxugando as lagrimas de raiva que escorriam pelo seu rosto. Estava cansada de ser julgada por uma imagem que não era a dela. Boas notas, boa filha, boa amiga, namorada perfeita... sinceramente Teresa não entendia o que estava acontecendo com o mundo ou se o problema era só ela mesmo.

Enquanto dissecava sua imagem refletida no espelho gigante, teve uma ideia absurda, e resolveu arriscar, afinal, não tinha nada a perder mesmo e usaria aquilo como chamariz para sua situação. Precisava ter a atenção de seus pais de volta e quem sabe conseguiria perceber quem eram seus verdadeiros amigos quando a corda apertasse em seu pescoço, embora já soubesse no fundo do coração que não restariam muitos ao seu lado.

Ao sair da loja, o alarme entre as portas de metal denunciou seu plano. Mas era exatamente isso que ela queria e Teresa sorriu por dentro.

Parada ai garota – disse o segurança da loja – Você está encrencada!

WallFlowers - Newtmas FicTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon