"...Ass.: Camila..."

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Twitter: ISBB5H


Narração: Lauren

Floricultura – Centro Comercial de Miami – 08:00

Bati minha cabeça contra o vidro atrás de mim mais uma vez fechando meus olhos. Inspirei vagarosamente e levei minha mão direita até o meu pescoço como se aquele gesto aliviasse o meu desconforto de alguma forma.

Abri meus olhos e percebi que dessa vez alguma coisa havia mudado. Havia um novo foco de claridade próximo a mim e então girei meu corpo contra o vidro encontrando um rosto familiar me encarando do outro lado.

Devolvi o sorriso gentilmente e caminhei até a porta da loja.

– Bom dia, jovenzinha.

– Bom dia, Sr. Mckellen. Desculpe-me por incomodá-lo tão cedo. – Entrei na loja e entreguei-lhe o café que havia comprado mais cedo.

– Oh, muito obrigado. Mas me chame de Ian. Acho que já somos bons amigos a essa altura. – Ele tinha razão. Ainda que eu o conhecesse há pouco tempo já sentia uma enorme simpatia pelo senhor de olhos azuis a minha frente. – E de qualquer maneira eu já esperava encontrá-la aqui.

Tomei a liberdade de me sentar em um pequeno banco de madeira no fundo da loja aproveitando o doce aroma das flores logo cedo. O simples ato de respirar tornou-se particularmente difícil nos últimos dias, mas o ar fresco, úmido e adocicado dessa loja parecia entrar confortavelmente dentro do meu corpo, e talvez essa seja só mais uma razão para as minhas constantes visitas a esse lugar.

– É mesmo? – Sorri sabendo que era impossível não concordar. Eu estava criando uma nova rotina aparecendo em sua loja nas manhãs seguintes às minhas visitas para escolher flores e cartões na tarde anterior, mas não podia evitar.

– Sim, é claro. E confesso que estava particularmente ansioso pela sua visita hoje. – Voltei a me concentrar no homem com quem conversava e arqueei a sobrancelha tentando compreender o que ele queria dizer.

– Particularmente ansioso? E qual a razão dessa ansiedade?

– Vamos por partes, jovenzinha. – Ele disse se posicionando do lado de dentro do balcão da loja como se esperasse alguma atitude minha. – Primeiro você.

Trocamos alguns olhares significativos enquanto minha mente travava uma batalha exaustiva. Eu sabia que naquele momento existiam duas opções. Eu poderia sair daquela loja e deixar que as flores e os cartões fossem enviados ou eu poderia fazer como costumava e cancelar metade do pedido, enviando somente uma das flores e o cartão vermelho.

Os cartões vermelhos não eram necessariamente um problema, eram apenas uma forma de sustentar essa rotina que tornou-se de certo modo necessária nos últimos dias. Porém, metade de mim queria que os cartões brancos finalmente chegassem ao seu destinatário e a outra metade gritava que aquilo era uma grande loucura.

Meus dedos passeavam sobre minhas coxas e com os dentes eu maltratava meu lábio inferior. Aproveitei as flores tão próximas a mim e inspirei profundamente desejando que o cheiro se ocupasse do meu corpo e senti uma forte dor no peito.

Por quê era tão difícil decidir?

Por quê parecia tão errado tentar iniciar algum contato com a dona dos castanhos confortáveis? Será que ela se importaria? Será que se lembraria de mim?

E por quê diabos parecia ao mesmo tempo tão certo? Nós mal nos conhecíamos e ela não havia feito nada por mim.

– Pois bem? – A voz grossa de Ian me trouxe de volta a realidade. – Como faremos isso, mocinha?

Guarda VidasWhere stories live. Discover now