Guarda Vidas

"...os demônios de Camila..."

Twitter: ISBB5H

Narração: Lauren

Miami – Condomínio Solar – Apartamento 12B – 15:00

Era ainda tarde e o Sol imperava majestoso no céu.

Espalmei minha mão livre contra a porta da frente do apartamento de Camila, enquanto girava a chave na fechadura com a outra. Ainda repassava mentalmente a lista de pequenos afazeres que ali dentro deveriam ser cumpridos, afinal desde o dia em que minha pequena havia se instalado em meu apartamento suas tarefas semanais passaram a ser minhas, uma vez que Normani não demonstrava qualquer habilidade ou interesse em executá-las.

Recolher as correspondências... Ok.

Ordenar as cartas de cobranças por data de vencimento... Ok.

Regar a pequena e solitária planta que decorava a janela da cozinha do apartamento... Ok.

E por fim, minha última tarefa do dia... Buscar as peças de roupa pedidas por Camila. Segundo a menor as roupas já haviam sido separadas por Normani no dia anterior e para mim restaria apenas recolher a mala já pronta dentro do quarto. Com muita pressa e vontade de voltar logo para minha casa, avancei no corredor ganhando o cômodo desejado em questão de segundos e sorri aliviada ao avistar a mala em cima da cama.

Desde o acidente Camila não havia estado de volta em seu apartamento e é claro, no próprio quarto. Os lençóis ainda estavam bagunçados, bem como ela os havia deixado naquela noite, e o uniforme da Guarda esquecido em cima da cadeira. A janela cerrada, mas as cortinas semi abertas de forma a permitir que alguns raios de Sol perpassassem o vidro, aquecendo e iluminando o cômodo. Através do brilho era possível enxergar alguns pequenos pontos de poeira pairando suspensos pelo ar.

Fechei o aperto sobre alça da mala a tempo de me dar conta de um objeto peculiar abandonado em meio à pilha de bagunças no canto esquerdo do quarto e de repente toda a minha concentração ali se concentrou. Pequena, quadrada e intocada, lá estava ela. A caixa de memórias de Camila. Nosso pedacinho de mito.

Sem muito pensar sobre o assunto comecei a caminhar na pretendida direção ao mesmo tempo em que refletia sobre a contagem feita logo após a extração da última fotografia, essa da Playa de Dos Cielos, e segundo os cálculos agora restavam ali dentro somente duas imagens. Correção, três, já que Camila nunca chegou a tomar conhecimento da iniciativa de Normani de depositar ali uma nova foto. Me ajoelhei no local já tomando a caixa em minhas mãos e respirando profundamente.

A minha frente estavam duas opções... Ir embora daquele apartamento deixando a caixa para trás e satisfeita por mais uma vez ter cumprido a vontade de Camila, ou fazer o não planejado, e pela primeira vez desde que a proposta fora feita, espiar o conteúdo da caixa. Que mal faria, afinal de contas? Nada, absolutamente nada no passado da menor me faria voltar atrás na promessa de permanecer ao seu lado.

E pensando assim me decidi por abri-la. Me sentia estranhamente desonesta agindo assim, mas dessa vez o impulso não foi reprimido e como esperado, ao retirar a tampa encontrei ali dentro três fotografias. Duas em perfeito estado de preservação e a terceira dobrada de forma a me impedir de vê-la de imediato.

Sabendo que dessa vez não teria minha namorada ao meu lado para traduzir as memórias por trás das capturas fiz o máximo para me concentrar nos detalhes mais aparentes enquanto tentava adivinhar a história por trás de cada uma delas. Logo na primeira pude identificar minha Camila. Estava mais jovem, talvez na casa dos 12 ou 13 anos de idade, mas se minha vista não falhava, aquela era definitivamente Camila. Estava de lado e o perfil indicava o grande sorriso de felicidade ao segurar outra garota cujo rosto estava escondido em seu pescoço. Camz e a desconhecida pareciam contentes dentro daquele abraço e essa simples, mas óbvia, constatação fez com que meu coração se comprimisse com a possibilidade latente.