"...a tempestade..." - Parte 2

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Twitter: ISBB5H


Narração: Camila

South Beach – Miami – Posto da Guarda – 10:40

As mãos grossas e firmes de Liam aumentaram a pressão em meu quadril e embora eu me sentisse internamente grata pela firmeza de seu aperto, eu sabia que isso deixaria uma marca que não passaria despercebida por Lauren. "Lauren... Droga, isso não é hora de pensar nela..."

– Terminou?

Olhei para baixo encontrando os olhos azuis e conhecidos me fitando com expectativa e então voltei a olhar para o mastro a minha frente. Nele, a bandeira vermelha, agitava-se freneticamente com o vento furioso e arrebatador. Dei mais uma olhada nas amarras que prendiam a bandeira ali e voltei a olhar para Liam, assentindo apenas uma vez, para que ele me ajudasse a descer para a segurança da cabine do Posto.

– Obrigada. – Agradeci sentindo meus pés tocarem o chão de madeira e me desvencilhei de suas mãos.

– É sempre um prazer. – Ele provocou sabendo que aquela proximidade me deixava desconcertada.

– Você é um idiota, Liam. – Me acomodei no refúgio de madeira e comecei a vasculhar pela praia, completamente deserta, antes de olhar para a imensidão cinza do céu. As nuvens carregadas revelavam a fúria do céu e os trovões arrancavam arrepios do meu corpo. O mar, parecendo um amante condescende ou uma espécie admirador ensandecido, respondia a cólera do Olimpo ofertando ondas enormes e violentas. Mortais.

– Com medo, Cabello?

Antes que eu pudesse responder um chiado nos nossos comunicadores roubou a nossa atenção.

– Posto 49. Liam na escuta. – Meu colega de trabalho respondeu e juntos aguardamos pelo retorno, cientes de que provavelmente não receberíamos uma boa notícia. Ajeitei minhas mãos nos bolsos do casaco da Guarda e olhei para a praia mais uma vez me certificando de que por hora estava tudo sobre controle.

– 49. – A voz do outro lado do rádio chamou. – Já tivemos alguns acidentes pela manhã. Como estão as coisas aí? Estamos seguindo na direção de vocês.

– Merda... – Liam sussurrou me olhando com preocupação antes de responder o chamado e me deixando muito confusa. – Central, precisamos de reforços.

Ouvimos mais um ruído no rádio antes da voz informar. – 49, estamos a caminho.

Liam largou o rádio e sinalizou pedindo que eu retirasse meu enorme e quente casaco e apesar da pouca vontade eu o fiz sabendo que seria necessário. – Pronta para problema, Cabello? – Assim que ele terminou de falar enxerguei ao longe na areia um grupo de homens caminhando em nossa direção com pranchas de surfe.

– Porque eles desceriam tão baixo na costa? – Perguntei enquanto descíamos a rampa do Posto. Liam também costumava surfar e era a pessoa ideal para se ter quando o assunto era esse. Era comum que em dias de tempestade alguns malucos se atrevessem a entrar no mar atrás das ondas grandes, mas quando isso acontecia era sempre mais acima na costa, nas praias mais distantes e menos patrulhadas.

– Ouvi dizer que aumentaram a patrulha lá em cima, Mila. – Nossos passos tensos deixavam pegadas perfeitas no chão molhado e uma fina camada de chuva começou a cair sobre nossas cabeças. – Porra, corra até o Posto e sinalize para chamar os outros! Eu conheço esses idiotas. Eles vão cair na água!

Concordei sem questioná-lo e corri de volta para a casa de madeira procurando pelos rádios com pressa e não hesitei em chamar o restante da equipe que trabalhava conosco naquela região. Assim que o fiz voltei para o lugar onde havia visto Liam pela última vez, mas não o encontrei. Busquei pela turma com as pranchas de surfe, mas encontrei somente dois deles, sentados na areia fria e encarando o oceano violento à frente. Corri até eles e agitei os braços chamando a atenção dos homens, mas ao ser notada os dois correram de volta pelo caminho de onde vieram e eu não me preocupei em segui-los.

Guarda VidasWhere stories live. Discover now