"...harmonia..." - Parte 2

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Twitter: ISBB5H

Narração especial: Normani

Miami – South Beach – 06:00

Abro meus olhos antes que o dia esteja propriamente desperto e encontro a porta do quarto aberta. Deixo a cama e arrasto meu corpo em direção ao banheiro cuja temperatura, já morna, não me desagrada. Afasto-me deixando a pasta de dentes posta sobre a escova e volto ao quarto para vestir-me para o trabalho. Vou até a cozinha e desligo o fogão que fervia a água e a despejo sobre o pó de café. Retiro de dentro do armário superior as duas canecas coloridas e as deixo sobre a pia. Volto ao banheiro para ajeitar meus cabelos e completar minha higiene. Faço minha última passagem ao quarto para agarrar minha mochila e então retorno à sala, onde uma das canecas coloridas me aguarda agora devidamente cheia, vedada e pronta para a viagem. Passo pela porta da frente já aberta, a tranco com a chave encaixada no segredo e parto para o trabalho.

Todos temos costumes. Todos temos um passo a passo habitual e esse é o meu. Uma rotina incompleta que se completa com partes que não me competem diretamente, mas que se encaixam perfeitamente às minhas, pois a apenas uma porta de distância, outra rotina se inicia minutos antes.

Seus olhos se abrem com o baixo som de seu despertador e ela se espreguiça. Deixa o quarto caminhando pelo corredor e em direção ao banheiro gelado, onde liga o chuveiro na mais alta temperatura possível, deixando que aos poucos o vapor quente crie a atmosfera morna da qual me beneficiarei minutos depois. Afasta-se do banheiro sem se esquecer de abrir a porta do meu quarto, o discreto sinal que uso para despertar. Vai até a cozinha trajando seu uniforme, se alimenta do que encontrar na geladeira, prepara a água para fervura e retorna ao banheiro encontrando sua escova de dentes a postos. Conclui sua higiene e segue para a cozinha, onde despeja o café já pronto nas duas canecas sobre a pia. Aguarda na sala, junto a porta da frente aberta, levando sua própria caneca em uma das mãos e a chave do carro na outra. E assim, juntas, partimos para o trabalho.

Após um longo dia de trabalho, uma noite entre sonhos e pesadelos, ou mesmo uma intensa madrugada de festa, voltar para casa e arrastar-se de volta para sua rotina é o caminho habitual para todos os corpos. É tão comum e automático que às vezes nos esquecemos de dar valor ao infinito de conforto embutido em cada pequeno passo ou gesto.

Tê-la, a minha gata, faz parte desse infinito. Ter Camila todos os dias para se encaixar em tudo o que me diz respeito têm sido o meu habitual por tantos anos, que vê-la, simplesmente vê-la me invoca o cheiro de casa. Lembra-me o meu lar. Lembra-me do costume adquirido de tê-la em meus domínios, em nossa sincronia matinal, nos desajustes, trombos e tropeços pelo corredor quando perdemos o horário e em qualquer direção na qual eu procure.

Mas então a vida acontece... Felizmente, ela sempre muda, invertendo as posições de seu enorme tabuleiro e a cada dia que passa uma voz no fundo da minha cabeça sussurra que é quase hora de assisti-la, com um sorriso no rosto, deixar parte da nossa rotina. De vê-la conquistar outros hábitos.

E afinal, como será a nova e estranha sensação de não ter Camila Cabello por perto durante todo o tempo?

– E então ela disse: "Vamos, entre e espere por mim na sala... Apenas minha tia e meus primos estão em casa", e eu, inocentemente entrei naquele apartamento, mas o que Dinah se esqueceu de me avisar é que possui um total de oitocentos primos, gata! Quer dizer, como ela me apronta uma... – Olhei para o lado e Camila caminhava por entre os poucos carros do estacionamento com os olhos grudados à tela do celular. – Você não está prestando atenção! – Reclamei aborrecida.

– O que? – A latina me fitou arrependida. – Dinah tem oitocentos primos, eu ouvi. – Atropelou as próprias palavras sem se atentar ao sentido que traziam. – Espera, oitocentos?

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