Guarda Vidas

"...culpada, omissa ou inocente..."

Twitter: ISBB5H

Narração: Lauren

Miami – Complexo Garden's – Apartamento 101 – 20:00

– O jantar está pronto! – Ergui a cabeça na direção da mulher e arqueei as sobrancelhas desafiando-a. – O jantar está servido, está melhor assim? – Ela se corrigiu dando mais algumas ajeitadas nas diferentes embalagens entregues há pouco pelo restaurante chinês.

Assenti com um sorriso fraco. – Bem melhor. – Sentei-me à mesa posta. – Eu não comeria absolutamente nada que tivesse sido preparado por você e suas mãos destituídas de qualquer habilidade culinária, Jane.

– Rude. – Respondeu-me com humor. O jantar seguia calmo, silencioso. Essa era já a quinta noite consecutiva que passava no apartamento de Dinah. Após a minha discussão com Camila seguida do eu que achava ter sido um desastroso jantar na casa dos meus pais, não consegui me forçar a ficar em casa. Inclusive, a mais alta tinha sido a responsável por buscar Bart, afinal se dependesse do meu humor ou da minha disposição o pobre coitado já estaria morto de fome e sede.

No auge do desespero apenas pensei em buscar abrigo nos braços minhas velhas amigas, e aqui ainda estava, cinco dias depois do ocorrido. Desde então não troquei uma só palavra com Camila.

Após sua fuga, naquela mesma data tentei ligar algumas vezes para o seu celular, mas não fui atendida. Já no dia seguinte o silêncio se seguiu por ambas as partes. Foi somente à noite, período em que Camila havia dito que teria que trabalhar em um grande evento na praia, foi que meu celular veio finalmente a tocar. Seu nome piscava na tela de vidro, mas meu corpo parecia trabalhar em ritmo contrário. A chamada se repetiu quatro vezes mais e eu não a atendi uma vez sequer.

Na manhã deste quinto dia de silêncio despertei com o ruído da chegada de uma simples mensagem, que dez horas depois, eu ainda não havia respondido.

Mensagem de Camz: Eu sinto muito. E eu sinto a sua falta. Dói tanto...

Essa era a primeira vez que eu fazia isso. A primeira vez que eu a ignorava. Os papéis estavam invertidos e isso me deixava ainda mais confusa. Eu não sabia o que dizer à latina e por isso fugia, mas a cada segundo que passávamos em isolamento, mais o meu coração parecia se despedaçar. Sentimentos conflitantes. Sensações agonizantes. O lado obscuro de estar apaixonada por alguém.

Enquanto comíamos, Dinah e eu fomos surpreendidas pelo som da campainha e foi inevitável conter a tensão em meus músculos. À mesa, trocamos olhares apreensivos até que ela levantou-se e preguiçosamente arrastando os chinelos felpudos pelo chão da sala de jantar foi ver do que se tratava.

– Meus amores! – Escutei a voz de Allyson e respirei aliviada. O susto misturado as pitadas de ansiedade desfazendo-se aos poucos. É claro que seria Ally. Quem mais poderia ser? Camila. Foi esse o pensamento que despontou no fundo da minha consciência, passando como uma estrela cadente em um céu melancólico e escurecido, e que sumiu tão rápido quanto havia surgido em primeiro lugar. – Oba, comida chinesa! – Ela disse ao tomar o assento à minha direita. – Me passe um prato limpo, Dinah.

– Dez dólares. – A outra respondeu com ar de seriedade.

– Mas o que?

– Lauren e eu pagamos por esse manjar. Se você quer desfrutar desse apetitoso jantar, vai ter que contribuir. – Ri da fala da mais alta.

– Desde quando você é assim tão perversa comigo? – Ally esforçava-se na criação de um enorme bico com os lábios. Sua feição infantilizada era impagável de tão fofa.