...."longe de você..."

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Narração: Lauren

Condomínio La Place - Miami – Apartamento 802 – 06:30

O barulho do ar condicionado, o ruído dos ponteiros do relógio na parede e as vozes que saíam da televisão do outro lado da porta. Minha cabeça latejava a cada nova repetição desses sons quando tudo o que eu queria era o completo silêncio.

Abri os olhos e saí da cama recusando-me a olhar na direção da janela.

– Laur! É melhor que não faça nenhum esforço. – Bufei insatisfeita por ouvir aquela voz mais vez. – Você acabou de sair do hospital... Quer voltar para lá?

– Que parte do "saia já do meu quarto" você ainda não entendeu, Ally?

– Você vai ficar brava até quando?

– Não sei, ainda estou decidindo essa parte. – Fui sincera e notei que Ally baixou seus olhos para o chão. Ela sentia-se culpada, mas eu não aliviaria a barra. Nesse momento eu estava extremamente zangada com minhas amigas.

– Não foi nossa intenção esconder nada de você, Laur, mas aquela menina apareceu pedindo que colaborássemos com a história e bom, a tal da Camila também queria isso. A menina salvou a sua vida, pelo amor de Deus, como é que nós negaríamos qualquer pedido dela? – Pensei em Camila e cerrei os punhos. Com toda a certeza do mundo ela seria a próxima na minha lista de satisfações a tomar.

– Vocês tiveram quatro semanas para me contar a verdade, Ally. Quatro semanas! Era assim tão difícil para vocês me ligarem, ou mandarem uma mensagem ou mesmo aparecerem aqui na droga da minha casa para me contar a verdade?

– Lauren, nós não achamos que seria uma coisa assim tão importante! – Ela explodiu, mas não era difícil dizer que havia se arrependido da resposta no mesmo segundo.

Me aproximei da baixinha como um leão cercando sua presa. – Não era tão importante?! Não era importante, Ally? A menina salvou a porra da minha vida! E eu tinha o direito de saber que era ela e não Normani! Você não sabe o inferno que eu passei nas últimas semanas! – O grito fez com que eu perdesse o fôlego e comecei a tocar meu peito com extremo cuidado apenas para me certificar de que eu continuava respirando. A palma da minha mão direita contra o meu corpo subia e descia... Ar entrando e ar saindo.

– Não, Laur! Eu não sei, e nem Dinah. E isso porque você se isolou depois do acidente. – Uma pequena pontada de culpa me acometeu ao ouvir essas palavras e voltei a me concentrar na conversa. Sua acusação era verdadeira, eu havia o feito. Havia evitado qualquer contato com as meninas desde que voltei do hospital. – Como se a culpa fosse nossa...

Suspirei e caminhei até a baixinha. Tomei suas mãos entre as minhas e pressionei com delicadeza. – Não Ally... Eu não culpo vocês pelo que aconteceu de maneira alguma.

– Tudo bem, Laur. Talvez a culpa tenha sido nossa sim... Nós te arrastamos para a praia aquele dia e sequer tivemos a decência de te acompanhar quando você quis mergulhar.

– Allyson, pelo amor de Deus. Eu não tenho cinco anos de idade e a culpa não foi de vocês! Foi um acidente e acidentes acontecem. – Tentei usar o meu tom mais agradável para convencê-la disso. Não imaginei nem por um minuto que elas pudessem se sentir responsáveis pelo que aconteceu comigo. Isso era absurdo!

– Então porque se afastou?

– Eu não sei, pequena. Eu só... Queria ficar sozinha por um tempo. Pensar em tudo que aconteceu... – Essa não era totalmente uma mentira.

Quando saímos do hospital tudo o que eu conseguia pensar eram nos olhos de Camila, no som da sua voz e nos supostos delírios que eu havia criado, e que agora descobri serem memórias reais dos momentos após o afogamento. Eu estava tão confusa e sabia que se tivesse minhas amigas ao meu lado elas logo perceberiam que havia algo mais de estranho comigo, mas eu não me sentia a vontade para explicar minhas "fantasias" com uma mulher que havia visto uma única vez na vida e preferi me afastar apenas por alguns dias até colocar tudo em ordem.

Guarda VidasWhere stories live. Discover now