Sor Maria - O Espelho I (Sem Revisão)

Recomeço

- Padre Aurélio, desperte. Padre Pedro está em nosso convento e quer vê-lo. – A voz da Sor (Irmã) Catarina me acordou. Eu estava no ambulatório do convento, onde eu passava a maior parte do tempo desde que vim parar nesse mundo surreal.

- Diga-lhe que estou a caminho, por favor. - Pedi e me levantei lentamente, enquanto Sor Catarina se afastava. Respirei fundo, deixei minha vista clarear e segui para o escritório de Padre Pedro, nosso superior.

Eu tive que reaprender a viver nesse novo mundo, era isso, ou a morte. Faz cinco anos que fiz a maior burrada da minha vida, quando entrei naquele espelho. Só estou vivo por causa de algum tipo de milagre, que me livrou da morte e me enviou para o inferno. Nunca descobri o que aconteceu, só me lembro de estar prestes a ser morto, queimado como uma bruxa dos livros antigos, quando vi tudo rodar e acho que desmaiei, mas quando acordei, eu estava vestido como Padre e todos me chamavam de Padre Aurélio. Minha fisionomia continuou a mesma, minhas lembranças eram as de sempre e aparentemente, eu continuava sendo Alfonso Herrera, mas todos diziam ao contrário. Para todo mundo eu era Padre Aurélio, nascido e criado em Toledo, na Espanha, um padre muito curioso e justo com as leis vigentes na época, mais precisamente 1590, século XVI. Eu me negava a acreditar que aquilo estava acontecendo, corrigia a todos que me chamavam de Padre Aurélio, eu queria ser chamado de Alfonso novamente..., ainda quero, porém, hoje já aprendi a aceitar minha realidade.

Todos diziam que Padre Aurélio estava louco, outros diziam que eu estava possuído e para que não restassem duvidas, fui submetido a um exorcismo, que só serviu para me abrir os olhos e perceber que as palavras do verdadeiro Padre Aurélio eram verdadeiras... "Você pôde chegar até aqui, mas jamais poderá voltar".

Fui levado a um convento onde residiam os eclesiásticos adoentados e idosos, para que pudesse me recuperar. Quando eu estava muito nervoso eles me davam um chá de ervas, que provavelmente é usado nos melhores calmantes em 2013. Eu dormia em segundos e passava o dia dormindo. Era assim que passava e passo a maior parte do tempo, tentando fugir da realidade. Mas quando estava acordado tinha que fingir estar melhorando. Tive que aprender a ser Padre Aurélio. Aprendi a falar e ser (em termos) como ele, além de ter aprendido a rezar e outras coisas que um padre faz.

Enfim estava na porta do escritório de Padre Pedro. Bati e abri um pouco a porta.

- Com licença, senhor. Me chamou? - Perguntei da porta e Padre Pedro, que estava sentado em sua mesa, fez sinal para que eu entrasse.

- Sim, precisamos ter uma conversa. - Me aproximei e sentei em uma das cadeiras a frente da mesa.

- Algum problema? - Perguntei curioso.

- Não, ao contrário... - fez uma pequena pausa. - Padre Aurélio, apesar das fortes dores de cabeça que ainda sente, - essa era a desculpa que eu usava para que me dessem o calmante. - Você teve uma grande melhora e acho que já está pronto para voltar ao seu monastério de origem, em Toledo.

- Padre Pedro, ainda me sinto inseguro para reassumir minhas devidas funções. Sinceramente, não estou certo se recordo certos detalhes. Sem falar as dores de cabeça que ainda sinto. - Eu não queria ser um padre, mas agora sou e não queria ter que assumir as funções de um padre, eu só ia à igreja em batizados, casamentos e, lamentavelmente, quando meus pais morreram. Missas sempre me deixavam entediado e ainda deixam...

- O que lhe aconteceu, sempre será um mistério, porém o mais certo é que tenhas caído e batido fortemente a cabeça, justifica seu esquecimento... - É um mistério para mim também, mas eu sei melhor que qualquer um, o que aconteceu. Ao contrário do que pensam o motivo da minha suposta loucura, é minha total lucidez. - Enfim, suas dores podem ser cuidadas em Toledo e Padre Francisco poderá ajudá-lo a retomar suas funções, lenta e pacientemente. - Eu não respondi nada, não sabia o que dizer. Depois de alguns segundos, ele continuou. - Escute, meu caro. Parece-me que ainda se sente enfermo, talvez impotente de seguir seu caminho, mas se aceitar um conselho meu... Não importa que Deus tenha lhe provado de maneira tão dura, talvez ele tenha apagado sua memória para dar-lhe uma nova oportunidade de vida. Aproveite Padre, aproveite esta oportunidade para fazer melhor, o que já fazia bem. - Em uma coisa ele tem razão, talvez seja uma nova oportunidade de vida. Quando eu vivia a minha vida, muitas vezes eu queria morrer. Agora que ela foi tirada de mim, eu queria viver, porém, agora sou um padre de 1595....