Em pratos limpos

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Fiquei surpreso quando me avisaram que Ba estava aguardando para falar comigo. Dulce havia ido à cabana para encontra-la, eu não entendia o que ela estava fazendo aqui. Cheguei a me preocupar com Dulce.

- Boa tarde, Padre Aurélio. - Cumprimentou-me e caminhamos para as ultimas cadeiras da igreja, mais reservadas.

- Boa tarde Ba. Algum problema com Dulce? - perguntei preocupado.

- Oh não, ela deve estar se divertindo com as novidades que deixei na cabana. - ela deu um pequeno sorriso.

- Eu não entendo...

- Pedi que Dulce fosse à cabana, pois gostaria de conversar com você a sós.

- Oh, sim! Eu já imaginava que isso iria acontecer. - era obvio que ela iria querer explicações sobre Dulce e eu.

- E então? O que esta acontecendo entre vocês? - questionou mirando-me fixamente, buscando qualquer falha.

- Bem, nós estamos apaixonados... Eu estou muito apaixonado. Parece muito cedo para dizer que a amo, mas não vejo de outra forma. Dulce provoca sentimentos em mim que nunca senti.

- Nunca sentiu, ou não lembra ter sentido? - era uma possibilidade.

- Eu já me fiz essa pergunta e já busquei em minha mente, varias vezes, tentando encontrar um sentimento tão forte quanto esse. Mas acho que você concordara comigo em algo... Eu não pertenço a esse mundo, nunca quis criar nenhum vinculo com nada, nem ninguém, que pertencesse a ele. Mulheres...? Bem, acho que não é segredo que posso ter, basta conversar com um dos padres... Não há nenhum motivo para eu querer criar um vinculo com Dulce, que não seja um sentimento realmente forte.

- E você procura muito essas mulheres? - Ba questionou e percebi que falei besteira.

- Uma vez. A experiência não foi muito boa... - as mulheres não eram as mais atraentes e a higiene, como já dito, não é o forte do século XVI.

- Ok. - Ela parecia não querer insistir mais. - Me parece que esta sendo sincero e se estou te pressionando, peço perdão, mas sei que os homens de sua época não levam as coisas muito a serio. Dulce ainda é uma criança, talvez com sonhos de mulher, mas ainda assim uma criança e precisa de proteção.

- Te entendo Ba, eu também sinto vontade de protege-la, é por esse motivo que quero leva-la daqui. - Ela ainda me avaliava a cada palavra.

- Se vocês estão realmente envolvidos, é o mais certo a se fazer, mas isso exige planejamento. Don Fernando, pai de Dulce, é um homem muito influente e poderoso, não ira gostar nada de saber que sua filha fugiu do monastério com um padre.

- Quanto a isso, espero contar com sua ajuda. - eu não tinha ideia para onde fugir com Dulce, precisaria muito da ajuda de Ba.

- Se isso fizer minha menina feliz, não tenha duvidas que poderá contar com minha ajuda. - ela quis dizer que só me ajudaria se eu fosse o cara certo para Dulce.

- Eu tenho a impressão que fará...

- Ok... Agora seja sincero, vocês já se envolveram fisicamente? - foi direta.

- Nã..., Não... - gaguejei. - Digo, nós apenas nos beijamos.... - não adiantava mentir.

- Nós? - exigiu mais.

- Eu lhe dei o primeiro beijo... - estava ficando nervoso.

- Então houveram outros... - não era uma pergunta e eu não respondi. - Escute bem Alfonso, não importa o que sentes por Dulce, não permitirei que a faça sofrer e não quero descobrir que você esta se aproveitando dela.

Sor Maria - O Espelho I (Sem Revisão)Where stories live. Discover now