Preparada?

50 2 0
                                    


Ba me deixou confusa quando entrei na cabana e não a encontrei. Só encontrei algumas roupas e acessórios novos em cima da cama. Não que eu pudesse usa-los livremente, mas eu costumava vestir-me com os vestidos estranhos, porém lindos, que Ba me presenteava, quando estava na cabana. Eles eram um pouco curtos de mais, iam até o joelho, tinham bem menos pano, alguns tinham tecidos desenhados e outros eram simples, mas com algum detalhe bonito e singelo.

Eu costumava usar as pulseiras escondidas, por baixo do habito e às vezes, compartilhava com Anahí. Também havia novos produtos pela casa, de higiene, de comida e novos livros. Nunca entendi como Ba fazia para que tudo isso chegasse até aqui. Na verdade, acho que nunca me questionei sobre isso, talvez tenha se tornado parte da minha rotina...

Tomei um bom banho, daqueles que eu só tinha direito na cabana. Comi alguns doces e comecei a ler um livro de Shakespeare novo, que Ba havia deixado. Mas a melhor parte, foi voltar e encontrar com Alfonso esperando-me. Eu adorava passar as tardes na cabana, mas hoje me senti muito incomodada por não ter Alfonso por perto, acho que faz parte de amar...

Estava pronta para dormir, quando ouvi pequenas batidas em minha porta. A principio, pensei que não era nada, mas as batidas persistiram. Abri uma brecha na porta e quase tive um ataque do coração.

- Anahí! Quer me matar do coração? - lhe dei a bronca e abri a porta para que entrasse.

- Xiiu! Fale baixo! - entrou e fechei a porta. - Desculpe-me pelo susto, eu precisava conversar com você.

- Sobre Padre Aurélio? - questionei e sentamos na cama.

- Com toda certeza... Desde quando ele passou de Padre não confiável, a príncipe encantado. - não pude evitar uma pequena risada.

- Por algum motivo, Ba confia muito nele e acabou nos forçando a ter uma aproximação. Ele não é só o Padre mais compreensivo que já existiu por aqui, como é o homem mais incrível que já conheci neste mundo.

- Oh céus, que amor! - Anahí riu. - E o que ele tem de tão incrível?

- Não sei explicar direito. Ele é muito inteligente, parece já ter passado por muita coisa, o que parece tê-lo amadurecido. É sensível, protetor... e extremamente carinhoso. - eu só pensava em como era bom estar nos braços de Alfonso.

- Eu percebi como ele é carinhoso e protetor, hoje, com você... Alias vocês estavam se beijando quando cheguei ao quarto de deposito, certo? - me senti corar de imediato.

- Si... Sim - gaguejei constrangida.

- Vocês perderam a sanidade Dulce? E se entra outra pessoa, além de mim? - me deu o sermão.

- Eu sei. Mas eu não sei o que acontece comigo, acho que nem Alfonso entende. Quando ele se aproxima, eu esqueço tudo que me cerca, eu só escuto meu coração e meu estômago revirando. É tão fora da realidade... - Essas palavras não eram suficientes para descrever o que sinto.

- Não se esforce tanto para explicar, sei como se sente. - ela sorriu solidaria, mas eu sabia que isso não lhe trazia boas lembranças. - Se você quiser, podemos pular para a parte dos sermões, para evitar que pense em coisas que te entristecem...

- Esta tudo bem Dulce. Desde quando entrei aqui, todos evitam falar disso e acho que é por isso que ainda sofro como se tivesse acontecido ontem... - Ela falou tentando se manter o mais firme possível. Anahí chegou aqui um mês depois de mim. Lembro-me de seu pai a trazendo arrastada pelo braço, chorando e humilhada vestindo roupas simples e vulgares para nossa sociedade. Padre Pedro mandou as freiras leva-la e foi com o Pai de Anahí ao seu escritório. Assustada e curiosa com a cena, eu os segui e escutei atrás da porta. O pai de Anahí contou que ela havia fugido de casa já há duas semanas e que havia a encontrado vivendo em uma casinha simples e pobre, com o filho de um de seus servos. - É por tudo que vivi que estou aqui. Para te aconselhar. Não quero que passe pelo que passei.

Sor Maria - O Espelho I (Sem Revisão)Where stories live. Discover now