A Derrota

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Enquanto o esperava, imaginava todas as possibilidades do que poderia ter acontecido. Nenhuma era plausível. Todas levavam-me a conclusão de que ele havia mentido para mim. Mas o que realmente me assustava, era descobrir que o homem que eu amo, não era nada do que eu pensava.

- Dulce, esta tudo bem? - ele apareceu e logo me bateu a vontade de chorar, mas eu não faria na frente dele. - Conseguiram o que queriam? - tentou beijar-me, mas virei o rosto. Ele estranhou e se afastou.

- Sim, conseguimos além do que precisávamos... - fui o mais seca que consegui.

- E o que precisavam? - observava com atenção.

- Precisávamos de nossos arquivos, aqueles de quando entramos neste maravilhoso monastério. Se o tivéssemos, quando fugíssemos, ninguém poderia nos trazer de volta, pois não teriam como provar que somos padre e freira em adultério. - expliquei tentando controlar a raiva.

- Você conseguiu? Isso é maravilhoso, não é? - questionou confuso, inocente, como sempre.

- Excelente! Principalmente pelo seu arquivo... - o peguei e li. - Padre Aurélio. Nome de batismo: Leonardo Casillas de la Mancha. Data de nascimento: 25 de maio de 1557. - ele finalmente pareceu entender. - Este é você, Padre?

- Si... Não... Digo, deixe-me explicar. - ele finalmente assumiu e tive que me forçar a ser ainda mais forte.

- Não, agora é a minha vez! - deixei claro. - Você se chama Alfonso, ou Leonardo?

- Alfonso, Dulce, você sabe... - ele começou a desesperar, mas o interrompi.

- E você não nasceu em 1557...

- Não, eu não nasci, mas...

- Chega!! - gritei sem recordar o quão perto do monastério estávamos. - Quem é você Padre Aurélio?

- Dulce, eu não menti para você, sou Alfonso Herrera, tenho 26 anos e o homem que te ama. - foi como uma pontada no coração, mas eu não podia render-me. Ainda não sei em que parte, só sei que ele mentiu para mim.

- Será que ama mesmo Alfonso? Que eu saiba, quem ama não mente!

- Eu não menti, Dulce. Você nunca perguntou sobre meu passado... - tentou defender-se.

- Não importa!! - surtei de novo, mas baixei o tom. - Eu fui pra cama com você porque acreditava que te conhecia por inteiro e agora descubro que não sei nada de você... Por isso nunca se importou com nada, você não é Padre.

- Você esta certa, eu não sou, mas estou sendo obrigado a ser! - ficou nervoso. - Por isso me identifiquei com você, porque estou de saco cheio de ser quem não sou. A única pessoa com quem pude ser eu mesmo, Alfonso Herrera, foi com você e eu nunca faria nada para te magoar.

- Não é o que parece Alfonso! Você me magoou, me machucou e mentiu para mim. E nem sequer esta se explicando devidamente. Escute bem... - falei bem de vagar. - Eu exijo saber quem é você.

- E eu vou te explicar direitinho quem sou, mas aqui não... Vamos para cabana, com sorte, Ba aparecera e me ajudara a te explicar melhor.

- Então ela também esta nisso tudo? - questionei incrédula. A mulher que me criou, que ensinou-me tudo que sei, que considero mais que minha própria mãe, havia mentido e apoiado que o homem que amo mentisse para mim.

Sor Maria - O Espelho I (Sem Revisão)Where stories live. Discover now