Autoflagelamento

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Era insuportável ver Dulce daquela forma, sem o brilho nos olhos, a pele corada e o sorriso alegre. Nem mesmo quando discutiu comigo, encontrei a garota além de seu tempo, corajosa, que luta por respeito e livre arbítrio. Hoje só encontrei uma Dulce machucada, cheia de magoas, afiada, mas indefesa, pálida e com olheiras... E tudo por culpa minha!

Eu desejava como um louco poder cuidar dela, mas coma poderia se sou o causador de seus problemas? Agora que encontrei a felicidade, eu a estava deixando escapar, por ser burro! Antes de omitir quem sou, deveria ter falado com Ba, ela daria um jeito em tudo isso, ou não...

Pedi ajuda a Anahí para encontrar Ba, mas até agora nada. Apenas ela poderia resolver tudo isso, ou pelo menos acalmar Dulce e cuidar dela. Dulce é o que importa. O bem estar dela é o que importa. Daria minha vida pela dela, aceitaria passar a vida sozinho, que vê-la desta forma. Droga! Tenho que fazer algo!

Mas o que posso fazer dentro desta prisão, vigiado quase vinte e quatro horas por dia? Como posso cuidar dela mesmo que de longe? Como posso ajudar a mulher que amo e que consegui magoar?

- O que faz aqui? - Anahí questionou ao me encontrar parado, ao lado da porta do refeitório.

- Estava esperando você e Dulce... - não que eu quisesse atormenta-la, apenas saber se estava melhor.

- Padre Aurélio, sabe que sua presença não faz bem a ela... - Anahí lembrou desviando o olhar.

- Eu sei, só queria saber como estava... Ela virá para o jantar? Já estão servindo... - todos já estavam lá dentro e o monastério vazio.

- Dulce ainda não chegou? - ela pareceu surpresa. - Ela prometeu que iria vir!

- Vejo que ela não melhorou... - pensei alto, desviando o olhar, agoniado com o que provoquei.

- Mas vai melhorar... Vou trazê-la de qualquer jeito! - Anahí se irritou e já ia saindo, mas segurei seu braço.

- Tenha paciência com ela. Não esta fácil para mim, para ela deve ser bem pior... - Anahí observou-me por um segundo e a soltei.

- Fique tranquilo, sei como agir com ela... - deu um pequeno sorriso e se foi.

Eu estava sem fome então fiquei admirando o céu no pequeno pátio, ao lado do refeitório. Era noite de Lua cheia. "Noite onde tudo é possível e a magica esta mais próxima de nós", como diria minha mãe, quando eu era apenas uma criança. Agora que sei que essa magica existe, seria maravilhoso poder encontra-la para alguns conselhos, tanto ela quanto meu pai. Mesmo sabendo que receberia uma bronca por mentir, ou omitir quem sou... Quando o assusto era amor, aqueles dois sabiam bem como aconselhar.

- Padre Aurélio! - Anahí voltou um tempo depois quase gritando. Estava nitidamente assustada. Me coloquei de pé rapidamente, com medo da noticia que ela trazia.

- O que houve com Dulce?

- Nem cheguei a chama-la, pelos barulhos... - ela fez uma pequena pausa para respirar. - Dulce esta se autoflagelando... - Eu não respondi, apenas corri o mais rápido que pude e torci para que todos estivessem no refeitório. Não podia acreditar que ela estava fazendo isso por mim...

- Sor Maria, abra! - Bati a porta desesperado.

- Saia daqui! Agora! - gritou com a voz embargada.

- Não...! - forcei a fechadura, mas estava trancada com o ferrolho.

- Saia! - Gritou novamente. Aqueles ferrolhos estavam, em maioria, enferrujados e alguns nem mesmo trancavam mais. Me joguei contra a porta, obtendo um hematoma que, provavelmente, me incomodaria mais tarde.

Sor Maria - O Espelho I (Sem Revisão)Where stories live. Discover now