Sor Maria

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- O que houve Sor Maria? Há horas atrás, estava tão corada e saudável... - Sor Madalena, uma mulher de meia idade, perguntou-me preocupada. Aquele padre acabara de deixar-me na cama da enfermaria, como se fosse meu cúmplice...

- Já me sinto bem, Sor Madalena. Penso que foi apenas um ligeiro mal-estar. - Tentei acalma-la.

- Ora, menina, chegastes quase inconsciente nesta enfermaria. Me conte o que sente... - pediu tocando minha testa, verificando se estava quente.

- Senti minha cabeça ficar leve como vento e meu corpo amolecer, depois tudo girava e meu estômago revirava. - Floreei os sintomas um pouco mais.

- Deus queira que não seja uma dessas enfermidades horríveis... - Sor Madalena examinava cada detalhe que podia: meus olhos, meus braços, meu pescoço...

- Sor Madalena, basta! - Segurei suas mãos a fazendo parar. - Me escute, estou bem, acredite.

- Não me parecia bem a pouco, deixe-me examina-la criança. - Pediu preocupada, mas logo suas feições mudaram para espanto - Oh, céus! Só há um único motivo para que não me deixe examina-la.

- Ao que se refere? - Perguntei confusa.

- Seus sintomas, eles são... - Sor Madalena fez uma pausa. - Me escute e seja sincera, tinhas algum pretendente, antes de vir para este monastério?

- Pretendentes tive muitos, mas nenhum me agradava.... Nenhum me fez sentir aquela explosão de sentimentos em meu peito... - dei um rápido sorriso, pensando em como seria divino sentir algo assim, mas logo me dei conta da pergunta sem nexo de Sor Madalena. – Por que a pergunta?

- Bem, então nunca se deitou com um homem?

- Obviamente que não, Sor Madalena! Como pode pensar algo assim? - Perguntei assustada e me sentei rapidamente na cama.

- Seus sintomas são de uma mulher que espera um filho, criança... - ela explicou, mas sua expressão era duvidosa.

- Sor Madalena, não vou ter um filho, a menos que Deus me escolha para ser a Maria do século XVI... Conto-lhe o que aconteceu se me prometer guardar segredo.

- Não blasfeme Sor Maria... - me deu um rápido sermão. - Certo, eu prometo! - Ainda me parecia preocupada.

- Derrubei vinho em Padre Francisco e para que não me castigassem, fingi estar enferma... - Expliquei implorando piedade com os olhos, porém Sor Madalena deu uma boa risada.

- Ora criança, por que não me disse? Eu adoraria ter visto a expressão de Padre Francisco. – Pensei no rosto de fúria do Padre e rimos juntas. Sor Madalena não era uma adepta das Regras de Padre Francisco, muito menos dele.

- Eu gostaria que estivesse lá para vê-lo.

- Não compreendo a raiva que sentes de Padre Francisco, Sor Maria. Recebo ordens dele e vejo as injustiças que comete, por isso não gosto desse Padre e peço perdão a Deus todos os dias, por este sentimento. Mas você criança...

- Não é difícil te explicar... Padre Francisco é o Padre mais próximo de minha família, sempre realizou todas as cerimônias religiosas da família Saviñón. Porém, desde que tenho algum entendimento do mundo, ele influenciava meu pai a me aprisionar neste lugar. Por algum tempo papai resistiu à ideia e fui apresentada a vários pretendentes, mas eu não queria me casar à força, eu queria passar o resto de minha vida com alguém que me fizesse sentir algo forte, que me fizesse sentir amor.... Enfim, afugentei a todos os meus pretendentes e hoje estou aqui, aprisionada entre estas paredes cheias de histórias tristes e trágicas. – Isso me entristecia e despertava uma fúria que nunca imaginei sentir. – Ah! Voltando a Padre Francisco, depois que ele conseguiu o que tanto desejara, agora fica querendo me fazer de sua escrava e às vezes, me olha diferente.... Me causa medo...

Sor Maria - O Espelho I (Sem Revisão)Where stories live. Discover now