Contra Parede

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- Entra... - Anahí disse rapidamente, assim que abriu a porta e assim o fiz. - As meninas não devem demorar.

- Já pensou no que vai dizer?

- Sim... Mas escute, vamos fazer com que essa conversa acabe logo. Saia junto com elas, esperarei alguns minutos e irei para sua cela. - Anahí cochichou.

- Ok. - bateram na porta logo em seguida e Anahí a abriu novamente.

- Entrem... - Marina e Clara entraram.

- Dulce! - Marina me abraçou como se não me encontrasse a dias.

- Não exagere, Marina. - dei risada.

- Chegou há muito tempo, Dulce? - Clara questionou e revirei os olhos.

- Não, Clara, cheguei neste instante. - respondi.

- Sentem-se e vamos começar logo com isso. Estou morrendo de sono. - Anahí reclamou bocejando e nos sentamos espalhadas pela cama.

- Clara me contou sobre a conversa de mais cedo. - Marina começou. - Sinceramente, não quero que se sintam obrigadas a me contar nada. Não vou dizer que fico feliz em saber que não confiam em mim, mas posso entendê-las. Eu sou a única que realmente gosta de estar aqui. Vocês odeiam este lugar, é normal que escondam coisas de uma pessoa favorável a ele. A única coisa que peço é que não se distanciem de mim. - ela parecia que iria chorar naquele momento e senti meu coração se apertar. Marina era apenas uma criança imatura, brincando de ser freira. Eu sempre tive um carinho especial por ela, era como se fosse minha irmã mais nova.

- Oh, Marina... - a abracei. - Essa nunca foi a intensão. Desculpe-me se deixei isso acontecer, eu nem mesmo percebi.

- Desculpe, Marina. Eu também não tinha percebido o quanto estávamos distantes. - Anahí pediu acariciando sua mão e Marina sorriu.

- Só não repitam mais isso. - Tanto eu, quanto Anahí, apenas sorrimos. Nós sabíamos que não podíamos prometer não nos distanciarmos mais.

- Ok. Agora que já consolaram Marina... - Clara nos interrompeu. - Eu sim, quero saber o que está acontecendo. Se formos realmente amigas, vocês tem que nos dizer.

- O fato, Clara, é que se continuar agindo assim, amiga minha é que não vai ser mais. - Anahí se exaltou e eu quase vi faíscas saindo dos olhos de ambas.

- Ok, acalmem-se! - as interrompi. - Se estamos aqui, é por que iremos falar. Creio que querem saber o que aconteceu para que eu me autoflagelasse... Bem, foi um ato impensado e de desespero. Senti-me impotente ao saber que minha irmã é espancada pelo marido, que meu pai matou outro camponês inocente por não cumprir corretamente suas regras e que descontou isso tratando minha mãe como um lixo. E no meio disso tudo, estou presa neste lugar, pagando por pecados que nem tive a chance de cometer... Enfim, já superei isso e estou melhor.

- O autoflagelamento te ajudou, não foi? - Marina questionou curiosa. Ela vivia tentando criar coragem de fazê-lo. Como muitos neste lugar, achava que lhe faria bem.

- Não, Marina! - a repreendi de imediato. - Não foi isso que me fez bem. Muito pelo contrário, me dá pavor recordar o que fiz, isso só complicou as coisas. - ela parecia arrependida e decepcionada, mas eu tinha que dizer. Talvez o que falei a impedisse de continuar tentando fazer isso..., pelo menos por um tempo.

- Esse é um dos motivos para Dulce não ter dito nada, não a faz bem falar sobre o que aconteceu. E eu não iria contar uma história que é dela. - Anahí explicou.

Sor Maria - O Espelho I (Sem Revisão)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant