A confissão

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- Padre eu cometi um pecado horrível! - uma das amigas de Dulce começou se confessando, se não me engano, chama-se Sor Isabel.

- Confessa e será perdoada, filha. - falei minha frase pronta.

- Padre cometi o pecado da gula... Eu estava em minha cela dormindo, quando acordei antes do amanhecer, desci escondida e peguei leite e biscoitos da cozinha. - Eu realmente tinha que ouvir isso?

- Só estavas com fome, reze um Pai Nosso e uma Ave Maria.

- Mas não foi apenas isso... Hoje, cuidando da horta, eu me descuidei e pisei em um pequeno formigueiro, destruí a casa das formigas e devo ter matado alguma... Eu juro que não foi por mal. - Se isso for pecado eu devia ter sido uma criança demoníaca, adorava matar formigas e destruir formigueiros...

- Então reze mais dois 'Pai Nosso' e duas "Ave Maria".

- Estou perdoada?

- Sim criança. - Ela se foi e mais algumas vieram. Tive que absolve-las de mais pecados da gula, avareza, preguiça, vaidade, inveja... Eu já não aguentava mais ouvir tantos "terríveis pecados", quando ela chegou.

- Perdoe-me padre porque eu pequei. - Era a voz de Dulce. Eu fiquei nervoso e queria fugir dali. Eu precisava contar que era eu. - Padre?

- Desculpe-me filha, confesse e será perdoada. - falei tropeçando nas palavras.

- Que bom que esta aí, pela primeira vez sinto que tenho um pecado relevante para confessar, um pecado que esta me deixando atordoada... - por culpa minha? - Ultimamente, meu coração não tem me obedecido. Toda vez que me aproximo de uma pessoa..., de um homem, meu coração tem reações estranhas, bate mais rápido, ou mais lento, às vezes parece subir pela garganta... E eu acho que ele é o culpado por eu não parar de pensar neste homem. Eu crio fantasias e penso nele a todo o momento. Já não sei o que fazer para controlar-me. - se ela soubesse que me sinto da mesma forma...

- Isso chama-se amor... - eu falei mais para mim mesmo, que para ela.

- Eu acho que sim. - ela suspirou de maneira desesperada. - Não vai me dar uma dura punição? Ou mandar-me cometer autoflagelamento?

- Quem sou eu para julgar-te? - fiz uma pequena pausa tentando por meus pensamentos em dia. - Reze o terço, essa será sua punição. - Em um ato desesperado, eu tentei fazê-lo ontem à noite, mas foi em vão. Antes da metade, me perdi em meus pensamentos, que só me recordavam dela...

- Sim senhor. Obrigada padre. - ela agradeceu e saiu.

Eu fiquei mais alguns minutos no confessionário, tentando absorver tudo que Dulce havia confessado. É tudo tão contraditório... Como é possível que eu tenha que viajar no tempo para poder me apaixonar de verdade? Essa história é uma grande merda...!

- Padre Aurélio, venha... - Padre Pedro me chamou. - Vamos revelar as noviças com quem elas se confessaram. - Engoli a seco. Como assim, revelar? Dulce terá vontade de me matar..., ou se matar...

- Tenho que fazer isso? - questionei.

- Por que não? Assim veremos se foi aprovado. - Eu tenho certeza que não... Sem escolha, o acompanhei até o altar da igreja. As noviças estavam todas espalhadas nas primeiras cadeiras, apenas Dulce estava mais atrás, ajoelhada e concentrada.

- Meninas, sinto interromper... - Todas olharam menos Dulce. - Só vim para anunciar que acabaram de se confessar com Padre Aurélio... - ela finalmente olhou para nós, boquiaberta e mirando-me fixamente. – Se tudo der certo, ele as confessará de agora em diante. - Algumas noviças também pareceram um pouco surpresas, mas nada falaram. Eu olhava Dulce tentando pedir desculpas com o olhar, mas eu não acho que ela estava enxergando isso. - Bem, se ninguém tem nada a declarar... Continuem suas orações e quem terminou, pode retirar-se. - Dulce foi a primeira a sair, quase correndo. - Como se sentiu Padre Aurélio? - Padre Pedro perguntou no mesmo instante.

Sor Maria - O Espelho I (Sem Revisão)Where stories live. Discover now