Sor Maria - O Espelho I (Sem Revisão)

Fugitivos

- Sor Maria! - ouvi alguém chamando atrás da porta. Já era tarde e eu tinha acabado de deitar. Só poderia ser uma pessoa: Anahí.

- Anahí ainda iremos ser pegas... - disse ao abrir a porta e puxa-la para dentro.

- Desculpe-me. Sabe que não me arrisco muito, mas precisava falar com você. - Explicou ao sentarmos de frente uma para outra, na cama.

- É, não temos conseguido conversar muito nos últimos dias... Mas o que tem para me contar?

- Há boatos de que estão querendo transferir as noviças mais antigas para outro convento e nós estamos na lista.

- Sim, já estou sabendo... Padre Pedro pediu a opinião de Padre Aurélio. - Anahí pareceu surpresa.

- E o que ele disse?

- Padre Aurélio conseguiu convence-lo que seria bom ter certeza que nossas famílias não se importariam com isso.

- A minha com certeza não se importa... - desviou o olhar.

- Oh, não fique assim... Você não quer ir? Posso pedir para Alfonso intervir por você... - logo que falei o nome de Alfonso me arrependi e provavelmente, minha expressão me entregou, pois Anahí deu uma pequena risada.

- É esse o nome dele?

- Sim... - respondi encabulada. - Pode guardar esse segredo?

- Claro! Sempre guardo. Mas respondendo a sua pergunta... Eu não tenho muito que fazer aqui, apenas lamento que minha família não se importe. - seus olhos desviaram novamente.

- Oh, não fique assim! - a abracei. - Eu sentirei sua falta quando nos separarem.

- Eu também sentirei a sua... - ficamos abraçadas, em silencio, por alguns segundos. - Tenho algo para te falar em relação a isso.

- Sobre o que? - me separei para mira-la.

- Sei que você e... Permita-me chama-lo de Alfonso, é estranho chama-lo de Padre e saber que estão juntos... - uma risada me escapou.

- Claro... – lhe permiti.

- Sei que você e Alfonso pretendem fugir. Pensando nisso, após saber sobre as transferências, tenho pensado muito em fazer o mesmo...

- Você quer fugir? - a interrompi surpresa.

- Sim. - sorriu satisfeita. - Sei que não tenho ninguém lá fora, mas ser freira nunca vai me trazer paz, não consigo sentir-me bem nem mesmo na hora em que estou orando. Todos os dias acordo, olho ao redor e revivo o que me trouxe a este lugar... Acho que até na sarjeta seria-me mais feliz.

- Por Deus! Não diga isso! - a repreendi imediatamente. – E... Como planeja fugir? Tem para onde ir?

- Estou planejando fugir durante a transferência. Pular da carruagem, ou qualquer coisa parecida... Tenho uma irmã vivendo próximo a Madri, talvez ela possa me ajudar. Não planejei nada direito, só tenho a certeza que irei fugir e para isso, farei algo que talvez te interesse... - Anahí disse com uma expressão diferente. Travessa, talvez...

- O que?

- Irei sumir com meus arquivos, aqueles relatórios que fazem quando entramos. Se eles sumirem, não poderão colocar as autoridades atrás de nós, pois não terão como provar que somos freiras. - eu não podia acreditar que esta ideia veio de Anahí. Ela sempre se desviou de problemas e agora estava se arriscando a criar um... Um, não. Dois. Ela realmente estava decidida.