Cap. 2 - Grandpa

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"Se eu pensar em alguém para me ajudar a qualquer hora, vou pensar em você."

(Seu nome, Paula Santisteban e Eduardo Bologna)

Acordei antes das meninas e observei a bagunça. Os doces, ou melhor, os restos de doces, estavam esparramados pelas nossas camas. Ao redor de Laís havia várias caixas de bis. Fui catando algumas coisas e jogando na lixeira para adiantar o serviço.

Depois de um tempo as meninas acordaram e tomamos café. Meus pais e minha irmã estavam num sítio do meu tio e eu não sabia bem o horário que eles retornariam.

- Então... - Bia quebrou o silêncio que se instalava devido ao sono. - Vocês sempre fazem Noites de Pijama assim?

Eu não sabia bem o que responder. A Bia era legal, mas aquela tradição era nossa. Minha e da Laís. Falar que fazíamos sempre seria como entregar um convite para que ela sempre viesse. Torci para que Laís não falasse nada.

- Mais ou menos - balbuciei e senti meu coração acelerar um pouco. - Estamos no final do ano, época de provas, então é mais difícil.

Isso era verdade. Mas ainda assim me pareceu errado. Ouvi a campainha tocar.

- Olá! – Minha mãe falou me beijando no rosto. – Vamos visitar o vovô hoje. Vá se arrumar.

Minha mãe fazia de tudo para sempre parecer disposta, mas eu sabia que ela ficava horas passando maquiagem para esconder as olheiras profundas. Eu sabia que ela chorava todos os dias antes de dormir enquanto meu pai a abraçava. Isso tudo porque, aos 73 anos, meu avô estava com câncer.

As meninas foram embora e eu fui tomar um banho rápido.

A única pessoa que eu visitaria sem reclamar depois de quase virar a noite é o meu avô. A pessoa mais humilde, generosa e engraçada que eu conheço. Tirei o pijama e coloquei uma calça jeans, com uma blusinha branca simples. Penteei meus cabelos quase lisos e calcei um all star. Lavei meu rosto e escovei os dentes para finalmente passar um batom rosa claro. Depois desci as escadas e entrei no carro, onde todos já estavam me esperando.

Chegamos no hospital enorme e passamos pelos corredores brancos. A maioria das pessoas não gosta de hospitais. Algumas têm pavor. Mas eu não. Sempre gostei daquele cheiro estranho de hospital. Eu costumava querer ser médica. Aqui em Copélia nós fazemos uma prova específica para a faculdade que queremos entrar. O meu sonho era estudar no CMA, o famoso Centro de Medicina e outras Artes. Não me pergunte se medicina é uma arte porque eu também não sei responder a essa pergunta.

- E aí Manu? – Meu avô falou com um leve sorriso quando entrei no seu quarto e uma enfermeira nos cumprimentou. – Como estão as coisas?

- Ótimas. – Respondi sem perguntar o mesmo para ele.

Meu avô tinha um câncer que se espalhava pelo seu corpo a cada dia mais. As quimioterapias e os outros tratamentos não funcionavam. Já tinha um ano desde que os médicos disseram que ele teria que ir todas as semanas no hospital. Pelo menos é assim que deveria ser, mas ele não sai de lá por mais que algumas horas.

Meus pais conversavam com ele enquanto eu observava a cena que me torturava lentamente e me fazia morrer também: meu avô vestido de uma camisola branca, vários tubos em seu corpo, seus olhos se fechando toda vez que ele pronunciava uma frase e as enfermeiras sorrindo, como se tudo estivesse bem. Minha mãe contou uma história sobre alguma coisa boa para fazê-lo rir.

Ele riu.

- Manu? - Ouvi a voz fraca daquela pessoa que eu amava me chamar.

- Sim, vô.

Corações EscondidosWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu