Cap. 15 - Crossed fingers

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"Porque nada tão perfeito pode durar uma eternidade. Como as estrelas cadentes. [...] porque algo tão perfeito e especial é destinado a desaparecer. Por fim, tem de ser levado pelo vento."

(Mil beijos de garoto – Tillie Cole)

Juntamos nossas coisas e deixamos perto de uma das barracas da praia. Refiz meu rabo de cavalo, ajustei o vestido no meu corpo e coloquei um short jeans por baixo dele.

Acompanhei Eduardo para algum lugar desconhecido. Eu não fazia ideia do que ele estava procurando. A cidade estava cheia de turistas e por isso ninguém prestava atenção em nós. Uma mulher vestindo várias coisas muito coloridas puxou o filho repentinamente, fazendo-o trombar em mim.

O número de pessoas começou a diminuir conforme entrávamos por ruas desconhecidas. Du... ai Senhor, eu já estava chamando-o pelo apelido... Eduardo andava calmamente ao meu lado, como se conhecesse a cidade com a palma da mão.

Ele parou, finalmente, quando encontramos uma área de lazer para crianças. Era como um pequeno parque abandonado. Havia vários brinquedos velhos e alguns pareciam quebrados. A grama estava morrendo e o lugar parecia clamar por uma restauração.

- Você conhece a cidade? - Perguntei-o. - E o que estamos fazendo aqui?

- Digamos que eu gosto de sair andando às vezes. - Ele sorriu. - E você não está doida para brincar nesses brinquedos?

Ele puxou minha mão antes que eu pudesse responder e abriu o portão do parque, fazendo-o ranger sob suas mãos.

- Primeiro – ele se virou para mim, - você tem que escalar isso.

Ele apontou para uma montanha artificial cheia de buracos propositalmente adicionados.

- É uma experiência renovadora – ele afirmou com uma cara engraçada.

- Não – eu disse. - É uma experiência inútil.

- Claro que não! - Ele falou, fingindo estar indignado. - Vai te tirar do sedentarismo.

- Como você sabe que eu sou sedentária?

- Eu não sabia – nós rimos.

- Tudo bem – concordei, - só porque quero provar que posso não ser sedentária.

Apoiei meus pés nos primeiros buracos e comecei a subir. Ele esperou até que eu estivesse na metade do caminho para começar. Eu já estava muito cansada e quis desistir, mas Eduardo riu da minha cara e me senti desafiada a terminar de escalar o brinquedo. Se crianças podiam fazer isso, eu também podia.

Quando cheguei do outro lado, soltei um suspiro de alívio. Eu sabia que estava com a cara toda vermelha e começava a suar. Eduardo chegou logo depois e me levou até uma cama elástica.

- Nós temos que pular! - Surpreendi-me com minhas próprias palavras.

- Sabia que, no fundo, você estava animada. - Ele sorriu satisfeito consigo mesmo. - Liberte a criança que há em você!

Nós começamos a pular juntos e me perguntei como um lugar assim estava simplesmente abandonado numa cidade turística. Era como um livro.

Nós riamos como crianças quando caíamos e pulávamos cada vez mais alto. Seus cabelos castanhos balançavam levemente. Um homem barbudo passou pela rua do parque e nos olhou surpreso. Quase pude ouvir seus pensamentos... esses jovens de hoje em dia estão cada vez mais estranhos.

- Eu não... - pausei devido ao cansaço. – Aguento. Mais. Pular.

- Eu também não – o dono dos olhos dourados disse e nos deitamos.

Corações EscondidosWhere stories live. Discover now