Cap. 18 - Bye, diary

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" – Bem – ele disse -, para falar a verdade, eu tenho mesmo uma perna linda."

(A Culpa é das Estrelas)

Era o último dia da viagem. Todas as minhas coisas já estavam guardadas e, enquanto eu esperava o resto das pessoas ficarem prontas para partirmos, eu relia algumas páginas do diário. Não queria avançar ainda, pois não havia digerido as constatações da minha avó. Ela escrevia de uma forma simples e pura, como se só quisesse colocar um pouco dos seus pensamentos sem se importar com opiniões alheias.

Passei as mãos pela capa aveludada e ouvi alguém se aproximar. Levantei a cabeça e Roberto estava parado na minha frente, bloqueando a luz. Levantei uma sobrancelha para perguntar o que ele queria e esperei por sua resposta.

- Quer sair comigo algum dia, Manu?

- Não.

- Eu sei que você quer – ele revirou os olhos -, e não tem ninguém melhor por enquanto.

Eu realmente fiquei surpresa com o absurdo que saiu dos lábios daquele ser. Definitivamente existem seres humanos menos desenvolvidos que outros. Eu nunca achei que alguém pudesse ser tão ridículo na vida real, pensava que isso só acontecia nos livros e séries para adolescentes.

- Para começar – fuzilei-o com o olhar -, qualquer pessoa seria melhor que você. Além disso, vê se faz alguma coisa melhor com a sua vida do que treinar em frente ao espelho para ser um babaca idiota. Eu sei que você deve se esforçar muito, mas vai acabar sozinho porque ninguém jamais vai suportar isso que você é.

Isso é o que eu gostaria de ter falado, mas não falei porque eu paraliso quando fico chocada demais com alguma idiotice. Em vez disso, apenas tentei demonstrar todo o nojo e pena que eu estava sentindo naquele momento através da minha expressão facial.

Surpreendentemente, ele ficou com raiva da minha reação. Ouvi uma risada sarcástica e nem tive tempo para reparar que ele havia pegado o diário que estava em minhas mãos. Algumas pessoas observavam a cena, porém ignoravam.

- Me devolve isso – falei -, agora.

- Por quê? - Ele começou a ler uma das páginas. - É algo tão importante assim? Aposto que é onde você escreve todos os seus podres. Estou ansioso para descobri-los.

- Tem como você ser menos criança?

- Talvez.

Foi muito rápido. Ele fechou o diário e o estendeu na minha direção. Levantei as mãos para pegá-lo, mas ele jogou para o lado, direto na piscina do hotel.

Meus olhos se encheram de água e eu sequer consegui olhar para o garoto. Corri para a piscina e pulei. Peguei o diário. Roberto me observava, talvez se sentindo um pouco culpado. Ele não teria o prazer de me ver chorar e eu não queria ficar perto dele por nem mais um segundo, então saí da água calmamente e andei até o meu quarto, fingindo que aquilo não havia me atingido.

~~~~♥~~~~

Assim que entrei no quarto, as meninas perceberam que havia algo errado. Não olhei para nenhuma delas e somente entrei no banheiro, grata por ele estar vazio. Abri o diário e vi a tinta completamente borrada. Quase nada era legível.

O diário era a única coisa que eu tinha da minha avó. Era a vida dela e a minha ao mesmo tempo. Ela pensava como eu e era mais parecida comigo do que eu jamais poderia supor. Comecei a chorar ao me lembrar do meu avô... ele havia me dado o presente como se fosse a coisa mais preciosa da Terra.

Roberto havia roubado muito mais do que um diário. Ele havia roubado a minha possível chance de ser feliz. Eu nunca saberia o que Adeline havia descoberto. Nunca saberia como tudo terminaria. Nunca saberia o fim de sua busca pelas cores. Nunca saberia como ela superou a dificuldade em beijar. E nunca saberia como meus avós haviam encontrado a resposta para aquela famosa questão.

Corações EscondidosOnde histórias criam vida. Descubra agora