Corações Escondidos

Cap. 30 - Sunshine

"Eu tenho a luz do sol em meu coração, independentemente das circunstâncias ao meu redor."

- Gifted Hands: The Ben Carson Story (1990)

EDUARDO

Quando vi Manu se ajoelhar, nada conteve meu sorriso. Eu sabia que ela não ficaria bem imediatamente, era um processo. E aquele era o primeiro passo.

EMANUELLE

Sabe quando você está apaixonado e quer ver alguém todos os dias? Quando você sente que todo o tempo do mundo com essa pessoa não é suficiente? Conhecer Jesus foi assim. Foi totalmente diferente de tudo que eu esperava. Foi muito mais. Foi ser desfeita em pedaços e ser reconstruída. Foi correr uma maratona e descansar em um jardim. Foi transbordar um rio inteiro e explodir em partículas de alegria.

Mais de quatro meses se passaram desde o Luau. Eu comecei a frequentar a igreja de Eduardo e me tornei amiga dos seus amigos. Passei, também, a ir em uma psicóloga todo mês e a tomar um medicamento para ansiedade. Mesmo com a quantidade excessiva de estudos e com o trabalho, eu nunca havia sido tão feliz.

Não era tudo um mar de rosas. Eu ainda lutava contra meus medos e inseguranças, ainda tinha momentos de tristeza, ainda tinha dificuldade em deixar as pessoas entrarem na minha vida, mas não pensava mais nas coisas ruins que podiam acontecer a elas antes de dormir. Eu tinha esperança. Eu tinha uma causa e um propósito. As circunstâncias não me moldavam mais, eu estava começando a entender quem era. 

- Oi, Manu – Eduardo chegou e sorriu quando viu Caio e eu atacando um pote de nutella. – Nós vamos sair amanhã. Você quer vir?

Ele colocou a mochila na mesa da cozinha e cumprimentou Caio, balançando a mão como se o soco do irmão tivesse sido muito forte.

- O Felipe vai?

- Não sei – ele revirou os olhos. – Por quê?

- Se ele for eu vou – sorri.

- Você está tentando me irritar? – Ele cruzou os braços.

- Claro que não. Por que isso te irritaria? – Comi uma colher inteira de nutella. – Nós somos amigos.

O acordo da amizade estava dando certo até então.

- Ah, sim – ele deu um meio sorriso. – O que achou do presente da última segunda? Estou pensando em dar para a Júlia, a partir de agora. Ela odeia as quartas e é uma ótima amiga, você sabe.

Ok. Não estava dando tão certo assim.

- Pode dar, se quiser – fingi não ligar. – Desde que os meus não parem de chegar, o dinheiro é seu.

Toda segunda-feira Eduardo deixava alguma coisa para mim em cima da mesa. Geralmente eram bebidas de uma cafeteria fofa que ficava perto da faculdade dele. Eu virei fã dessa cafeteria e esperava poder conhecê-la um dia. Passei a odiar menos as segundas.

- Tudo bem – ele falou. – Acho que ela gosta do frappuccino de chocolate. É bom que é o seu preferido, porque posso comprar o mesmo para vocês.

Olhei para Caio. Ele estava totalmente concentrado na televisão. Eu amo a pessoa que criou a TV. Peguei uma almofada e joguei em Eduardo.

Ele a segurou e riu.

- Amanhã. Oito horas. Vamos no cinema.

Assenti com a cabeça e, quando eu voltei meus olhos para a TV, uma almofada me acertou em cheio na cara.

~~~~♥~~~~

Encontrei todos eles na praça de alimentação.

- Ei, Manu! – Alícia disse, abraçando-me. – Que bom que você veio!