Epílogo

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Obs. Escute a música da mídia! Ela resume a descoberta da Manu e tudo que ela viveu nessa história.

Agosto de 2019

Observei as estrelas fluorescentes do teto azul escuro e as contei pela quinta vez. Eu não conseguia dormir.

- Du – cutuquei-o. Ele dormia tranquilamente ao meu lado, um pouco de baba molhava o travesseiro. – Du, acorda.

- Oi – ele abriu os olhos, confuso por um momento. Depois, arregalou os glóbulos preocupados. – Você tá bem?

Ele era médico e sabia que eu deveria estar bem, mas se preocupava toda vez que eu o chamava mesmo assim.

- Estou, doutor – sussurrei e ele relaxou. – Mas não consigo dormir. Você acha melhor uma história narrada no presente ou no passado?

- Passado – ele limpou a baba da bochecha e fechou os olhos.

- Tá, então não vou mudar. Vou deixar no passado mesmo.

- Era só isso?

- Não consigo achar uma posição confortável – respondi. – E só consigo pensar no livro.

Eu estava escrevendo meu primeiro romance. O sexto período da faculdade estava começando e eu deveria estar focada nos trabalhos, mas a história precisava ser escrita. Ela parecia transbordar através de mim, como se não pudesse ser contida na minha mente.

- Ah, e tem mais uma coisa. – Seus olhos âmbar me encaram mais uma vez e faço uma voz manhosa. – Eu estou com muita, muita vontade de comer sorvete de cupuaçu.

- Mas você não gosta de cupuaçu – ele resmungou. – E são duas da manhã.

- Eu sei – fiz biquinho. – Mas seu filho pode nascer com cara de sorvete. É ele que quer, não eu.

- Sorvete é bom – ele colocou a mão na minha barriga de quatro meses. – Acho que vou deixá-lo nascer com cara de sorvete.

Mordi seu braço, uma mania que peguei dele, e ele riu.

- Estou brincando – ele me deu um beijo na bochecha. – Eu vou ir buscar agora mesmo. Tem alguma ideia de onde tem sorvete de cupuaçu as duas da manhã?

Fiz que não com a cabeça e ele colocou os novos óculos de grau no rosto, levantando-se em seguida, ainda meio bêbado de sono. Sorri, sentindo meu coração explodir de amor. Nós não havíamos planejado engravidar enquanto eu ainda estava na faculdade e apenas alguns meses após o casamento, queríamos aproveitar a vida juntos por um tempo, mas aconteceu. E amamos o bebê desde o início.

Enquanto eu o esperava, peguei o notebook e comecei a digitar freneticamente. Só faltava um capítulo para o livro terminar.

Queridos avós,

Eu preciso contar algo para vocês, mesmo que não estejam mais aqui para ouvir.

Quando fiquei dois anos afastada de Eduardo, meu atual marido, algumas coisas aconteceram. Naquela época, eu já havia entregado minha vida a Jesus e estava começando a me relacionar com ele. Meu coração estava doendo, porque eu realmente amava Eduardo. Então, passei a buscar mais a Deus.

Entendi, finalmente, porque vocês eram tão felizes. Entendi que não basta encontrar uma causa, que existe um propósito específico. Eu encontrei Jesus. Ele me consertou, me ajudou a viver meus sonhos e me mostrou que a vida é muito, muito mais do que estudar, trabalhar e morrer.

Encontrei um motivo para estar viva e gastarei o resto da minha vida aos pés daquele que me criou e que me ama mais do que qualquer outro.

Eduardo é incrível e eu o amo completamente. Não sei mais como viveria sem ele, mas sei que viveria. Sei que, no final das contas, é tudo sobre amor sim. Porém, o amor de Deus. O amor humano pode ser o que mais chega perto disso e é por isso que achamos que ele é a fonte da felicidade, mas – no fundo - sabemos que ele não é suficiente. Se ele fosse a solução, pessoas apaixonadas ficariam juntas até o fim. Se ele fosse a solução, não haveria mais corações quebrados que corações inteiros.

Eu estou tão feliz. Muito obrigada por terem feito parte disso tudo. Não sei se teria chegado até aqui sem os conselhos que vocês me deram. Eu amo vocês.

Enfim, eu encontrei as cores.

Com amor,

Emanuelle.

- Cheguei, bebê – Eduardo entrou no nosso quarto, com o sorvete em mãos. Mais de uma hora se passara.

Corri até ele e o abracei.

- Obrigada, amor. – Coloquei o sorvete em cima da cabeceira da cama. – Eu amo você.

- Eu amo você. – Ele me beijou.

Separei meus lábios para que ele aprofundasse o beijo e ele me guiou até a cama. Ele beijou meu maxilar e minha clavícula, voltando para a minha boca em seguida. Meu corpo queimava onde ele tocava, como sempre. Então ele subiu minha blusa e beijou minha barriga, sussurrando contra ela.

- Ei, bebê. É o papai. Eu te amo muito, muito, muito mesmo. Estou doido para você chegar logo e eu poder ver a coisinha mais incrível que já fiz. Agora, por favor, não faça a mamãe passar mal, porque nós vamos... dançar, ok?

Eu ri e ele me beijou mais uma vez, segurando meus cabelos curtos.

- Eu vou é comer meu sorvete – fugi dos seus braços.

Eduardo riu ao me ver revirar os olhos de prazer enquanto colocava a primeira colher na boca.

- Isso é sensacional. – Comi mais um pouco. Arregalei os olhos quando me lembrei da novidade. – Ah, eu terminei o livro!

- Graças a Deus – ele festejou e eu ri. Ele vivia reclamando que eu passava mais tempo escrevendo do que com ele, mas era só drama porque ele também vivia em plantões. – Decidiu o nome?

Assenti e me sentei em seu colo. Ele me beijou. Cada vez que ele me beijava era diferente, era sempre melhor. Meu coração se encheu de amor por ele, pelo nosso bebê e por tudo que vivemos juntos. Com a voz embargada, soltei as palavras que resumiam a nossa história.

- Corações Escondidos.

Corações EscondidosWhere stories live. Discover now