Capítulo 53

17.2K 1.4K 379
                                    

Emily narrando

Estava tão nervosa ao ponto das minhas mãos soarem, o que é muito surreal. Mesmo com ar condicionado do carro ligado eu sentia toda parte do meu corpo vira gotículas de suor. Tudo isso porque estava indo pela primeira vez no grupo de apoio, depois de ter negado várias vezes que eu não queria falar sobre o que me aconteceu com pessoas estranhas que de fato passaram pela mesma coisa que eu ou parecido. 

A minha aceitação fez com que Arthur ficasse mais feliz por me ver dando um grande passo para a mudança, e querendo ou não, a felicidade dele é a minha. Ele já viveu todo o terror que eu vivi e sabe tão bem quanto eu que hora ou outra iria precisar de ajuda para só assim viver em paz comigo mesma.

Pego o celular e decido responder a mensagem de Jéssica que foi tão generosa em enviar aquele e-mail de apoio e superação. Não consegui dormir a noite inteira pensando no seu sofrimento e nas diversas maneiras que ela arranjou forças para lutar contra o trauma que, de qualquer forma, levará para a vida toda. 

[...]

De: Emily Lacerda Young.

Assunto: Obrigada pelo e-mail.

Olá Jéssica, como vai?

Ainda estou surpresa por você ter me enviando um e-mail sendo que nem me conhece, mas de qualquer forma fico animada em saber que mesmo morando longe uma da outra você retirou um tempinho do seu dia para me enviar uma mensagem contando brevemente a sua historia, que se assemelha tanto a minha o que de certa forma é tão dolorosa. A sua superação me fez finalmente ir ao grupo de apoio, porém ainda estou receosa com toda essa mudança, a única coisa que eu espero nesse momento é que dê tudo certo. Torço fielmente para ser feliz, mesmo passando todo o horror e ainda ter lembranças assombrosas.

A dor é sentida e talvez nunca vá deixar de ser, só quem passou por isso sabe o quanto é ruim a invasão do seu corpo. Da sua alma, privacidade e de todo o resto.

Agradeço muito pela mensagem e, mesmo já tendo superado, lhe desejo mais forças e garra para lutar com todo o trauma. E também para a sua amiga que me surpreendeu com o ato de cuidar da criança mesmo sendo fruto de um abuso...

De qualquer forma, obrigada. Você me ajudou muito. Agora é a minha vez de me ajudar.

Um grande abraço,

Emily L. Young.

[...]

Escrevo algo breve e significativo, aperto para enviar e volto a olhar para Arthur que carregava um semblante de alivio. Olho para o meu dedo onde estava a aliança e sorrio. Irei me casar, construir uma nova vida, mas ainda não sei se essa criança que carrego participará disso tudo. A minha mudança não encaixa essa criança, pelo contrário. É só eu e Arthur, juntos e felizes.

Logo sinto um chute no pé da barriga, dessa vez mais forte que o habitual.

Olho para a minha barriga imaginando se o bebê escuta os meus pensamentos e se sim, deve que ouviu isso e ficou com raiva porque quero distância dele assim que nascer. Garoto atrevido!

—Chegamos. —Avisou, parando em frente de um prédio.

Avisto algumas pessoas entrando no local, quase todas eram mulheres. Franzo o cenho e penso em voltar com medo do que iria ouvir.

Obsessão PerigosaWhere stories live. Discover now