Ovelha Negra [Completa]

Capítulo 2 - Sob os destroços

  Uma vez alguém disse que sábio era aquele que sabia o que plantar, pois teria sempre o mesmo a colher, já que a vida era tão justa que as pessoas apenas colhiam o que plantavam. Aurora já escutou algo parecido, mas não deu muita importância, afinal de contas ela não precisava disso. Se fosse hoje,  talvez pensaria melhor no caso, uma vez que, na sua plantação não existe nada além de terra seca.

  Seus longos dedos seguravam a folha branca que vez ou outra tremia, Kara só não sabia dizer se era nervosismo ou raiva, apostava mais na segunda opção. Aurora passava o olhos pelas fileiras rapidamente e em uma de suas mãos era possível perceber alguns indícios do papel amassado. Sinal nada bom, a amiga concluiu. Quando finalmente leu a última linha e estudou cada detalhe da montagem que a tal Ovelha negra havia feito com sua foto, Aurora se virou, sua pele clara agora tão vermelha quanto um pimentão, seus olhos faíscando cada vez mais, sua respiração acelerada.

_Quem, escreveu, essa, droga? -perguntou quase que soletrando, Kara elevou seus olhos calmamente escolhendo bem as palavras que usaria dali pra frente

_Eu não sei, ninguém sabe -murmurou umedecendo os lábios- é a mesma Ovelha Negra da semana passada. Ninguém sabe quem é a pessoa, pode ser qualquer um.

_Eu não quero qualquer um, quero um nome! -Aurora amassou o pedaço de papel depositando uma boa porcentagem do seu ódio no gesto, mas ele só crescia mais e mais- Quero saber a cara de quem fez isso para fazer essa pessoa pagar por cada palavra que usou contra mim, cada mentira que inventou, quero fazer essa pessoa pagar caro por sequer ter pensado que eu fiz qualquer coisa contra aquela imprestável da Paula.

_Eu tenho o mesmo desejo que você, Aurora, mas a gente não sabe quem está por trás disso, ninguém sabe -Kara olhou para amiga procurando uma brecha para tranquilizá-la, coisa que não conseguia.

_Ninguém sabe é? -um lampejo passou pelo olhar de Aurora e sua melhor amiga sabia o que isso significava, e não gostava nadinha do que vinha pela frente- vamos ver até quando.

  Em um momento, Aurora estava naquele canto isolado ao qual Kara a havia arastado, no seguinte estava de volta ao corredor principal onde mais uma vez as pessoas se silenciaram e encararam a garota, com os papéis ainda em mãos. No fundo todos acreditavam no que a folha falava.

  Aurora nunca teve uma boa relação com Paula, que era seu alvo preferido, e, quando não estava implicando com a garota o fazia com outro adolescente, o que não lhe garantia uma boa visão em meio aos colegas. Mas isso não era algo que ela levasse em consideração. No momento, sua única preocupação era descobrir quem havia insultado seu nome para, em seguida, fazer essa pessoa pagar. Se tinha uma coisa que ela não deixava, era barato.

_Quem fez isso? -gritou a plenos pulmões enquanto seu olhar intimidador passava de um estudante para outro - Eu vou repetir mais uma vez. Quem. Fez. Isso? -é claro que ninguém ousaria abrir a boca, mesmo não sabendo de quem se tratava ninguém ousaria ir contra ela em um momento de óbvio descontrole