Capítulo 8 - O purgatório

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  Entre todas as salas e corredores que o Colégio Órion possuía, a diretoria certamente era o mais evitado, ou em outras palavras, temido

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  Entre todas as salas e corredores que o Colégio Órion possuía, a diretoria certamente era o mais evitado, ou em outras palavras, temido. A sala ficava depois da secretaria, tesouraria, coordenadores entre outros, era isolada no fim de um corredor que era conhecido como purgatório. Isso porque, segundo a maioria dos alunos, ou no caso os que visitavam o local com frequência, a sala de porta vermelha era o inferno, a fileira de cadeiras pretas a sua frente o purgatório, e o corredor que se iluminava a medida em que se afastava da diretoria, seria o céu. É claro que essa lógica havia sido criada por algum dos gênios que passava cola nas cadeiras, tinta no corrimão das escadas, e colocava laxante no lanche da cantina.

   De qualquer forma, mesmo que a ideia pudesse ser considerada idiota a primeira vista, tinha uma certa coerência. O "céu" era o sonho de qualquer aluno que fosse levado ali, o "purgatório" era classificado como um tormento sem fim, à espera por um destino já delimitado, e o "inferno", bem, o nome já exemplificava  o quanto o local era um pesadelo. Por isso, essas denominações ganharam o reconhecimento merecido entre todos os alunos, frequentes ou não nessa área. Dentro do seleto grupo que o treinador escoltava até a diretoria a maioria era novidade por ali. As secretárias da primeira sala, - que não faziam mais nada além de lixar as unhas e falar da vida dos outros- já estavam com os olhos vidrados acompanhando as sete pessoas que passavam, se perguntavam o que eles haviam feito.

  E é claro que nem todos tinham culpa no cartório, alguns só estavam com as pessoas erradas no momento errado, como Caio. Outras tinham culpa justamente por não fazer nada, como Kara. A exceção de quem havia sido o pivô da briga, Olívia. E como não poderia deixar de destacar, a que tinha mais culpa do que qualquer outro ali, não por não ter feito nada no momento, mas por ter feito tudo para que chegassem a ele, essa era Aurora. E ela sabia disso assim como sabia que tomava um caminho sem volta, uma conversa que poderia definir seu próximo passo daqui pra frente. Caso se complicasse naquela sala, seria necessário muito mais do que um piscar de cílios para contornar a situação.

  Quando pararam no purgatório o treinador abriu a porta vermelha e sumiu por alguns segundos, depois fez sinal para que o grupo entrasse. Todos permaneceram silenciosos, apenas pensando no resultado daquela conversa e como isso os afetaria.

_Encontrei os seis no vestiário. Quando cheguei, esses dois -disse sinalizando Vinícius e Otto- estavam trocando socos. Uma barbárie!

  O diretor, que não passava de um homem na casa dos cinquenta cansado da sua sina de educar os jovens, meneou a cabeça pedindo para que o treinador continuasse. No entanto, não precisava de muito mais explicação, havia ocorrido uma briga dentro das dependências do Colégio e de acordo com as normas de boa conduta da instituição, os envolvidos deveriam ser punidos. Era um julgamento com fim definido: condenação, assinatura de pais, e todo mundo feliz, ou pelo menos ele, que voltaria para suas palavras cruzadas.

_Muito obrigada pelo esclarecimento treinador, -disse pigarreando enquanto indicava as duas cadeiras a sua frente para que as seis pessoas se sentassem, em um claro gesto costumeiro já que obviamente não havia lugar para todos- de qualquer forma acredito que agora seja o momento dos envolvidos se explicarem.

Ovelha Negra [Completa]Where stories live. Discover now