Capítulo 13 - A fofoqueira

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   Rafaela estava cansada quando teve que levantar naquele dia

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Rafaela estava cansada quando teve que levantar naquele dia. Ainda encarava resquícios de semanas mal dormidas, semanas mal vividas, semanas torturantes. Seus olhos eram tão profundos quanto a cratera que ocupava boa parte de sua rua há alguns meses e sua aparência tão deplorável que ela se sentia mais um zumbi após o apocalipse. Porque ela parecia morta, por dentro e por fora.

Narrar suas últimas semanas era como narrar um pesadelo sem fim. Ainda recebia mensagens indecentes por mais que houvesse se afastado de qualquer rede social. Montagens com suas fotos, e até mesmo bilhetes na caixa de correio. Na última semana ligaram pro seu pai, perguntaram quanto que ela cobrava pelo programa, como ele nunca foi a pessoa mais calma do mundo, foi logo desligando na cara e indo cobrar explicações da filha. Mas o que ela poderia dizer? Que não passa de uma brincadeira? Adolescentes idiotas fazendo hora com sua cara? Podia até mesmo admitir que o caso era mais grave, que provavelmente até o presidente da República tinha uma foto sua de topless no celular. Podia falar como passou a ter medo de flash, filmagens, câmeras, pessoas. Ou de como passou a, pela primeira vez, odiar seu corpo avantajado que agora era conhecido por boa parte de Fontana.

Ela podia falar qualquer coisa que nada ia mudar porque as pessoas que faziam isso com ela não iam mudar. Ela tinha certeza disso porque, se não fosse a vítima nisso tudo, agiria exatamente como todos eles. E pensar que era tudo culpa dela. Não de Rafaela, é claro, mas de Aurora.

É claro que a ruiva conhecia a fama da abelha rainha, é claro que já havia escutado sobre do que ela era capaz, mas não deu ouvidos. Estava tão cega pela ganância, pela atenção que recebia, tinha o namorado dela, tinha mais inteligência que ela, estava acima dela. Naquele momento Aurora não passava de um garota fraca que Rafaela reconhecia, não estava acima dela como imaginava, e não era tão perfeita quanto os outros pregavam. A perfeita era Rafa, e ela amava isso.

Porém, Aurora não era a menina indefesa que ela imaginou, tampouco a patricinha perfeita que todos viam. Não, ela era mais, era pior. Aurora era inteligente, ambiciosa, sabia o que queria e sabia como conseguir, sabia ficar por baixo quando sabia que em pouco tempo daria a volta por cima. Ela era metida a superior, era egoísta, manipuladora, fria, calculista, baixa, mas ainda assim, era boa no que fazia.

Olhou seu reflexo soltando o ar decepcionada, a algum tempo ela tinha tudo, pouco tempo depois mais nada. Só que ficar trancada em seu quarto estava fora de questão, seu pai deixou isso bem claro quando ela quis faltar aula e ele a lembrou, "é coisa de adolescente sem o que fazer, daqui a pouco eles esquecem". Foi essa a explicação mais neutra que ela poderia pensar no momento em que inventou. Agora não restavam muitas opções, era obrigada a ir, obrigada a encarar as provocações de frente como se aquilo não a afetasse. Sua última alternativa era se agarrar a suas próprias palavras, e rezar para que os, adolescentes sem o que fazer, esquececem o quanto antes essa história.

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Quando chegou ao Colégio procurou ir o mais rápido que conseguisse até a sala. O corredor era a pior tortura, isso é claro, incluindo o refeitório. Desde a maldita festa em que caiu direitinho na armadilha de Aurora, ela havia passado a se esconder entre as salas, as pessoas, ou qualquer outro lugar onde não pudesse ser encontrada. Não queria ser motivo de chacota, não tinha nascido pra isso. Mas ainda assim, era o último assunto dos colegas, "a garota oferecida", era o que todos murmuravam enquanto lançavam olhares reprovadores ou risinhos nada discretos.

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