Capítulo 1

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Meu celular tocou exatamente às oito horas da manhã, justamente quando a juventude do sol começava a trespassar a minha cortina. "Droga", disse comigo. Eu estava super atrasada para o trabalho. Levantei-me rapidamente procurando os meus chinelos. "Droga", mais uma vez. Eles não estavam lá. "Onde será que eles estão?", disse olhando ao redor do quarto, ainda com as pálpebras latejando de sono. Eu não podia pisar no chão frio, de manhã cedo, nem morta, pois tinha alergia, depois uma maldita coriza não me deixava em paz pelo resto do dia. Vasculhando melhor, achei. Eles estavam debaixo da cama. Calcei-os e corri para o banho. "Logo hoje que tirei o dia para lavar os cabelos. Isso vai ter que ficar para mais tarde, ou amanhã". Saí do banho ainda úmida me segurando pelo o que via pela frente. Pus uma calça preta, regatinha de seda verde, um pouquinho de rímel, batom vermelho; pronto! Ótimo. Uhm o cabelo, parecia um espantalho, então o prendi para disfarçar. Calço as sapatilhas pretas que já estavam por ali, e corro, já muito atrasada.

Tirei o carro da garagem às oito e vinte. O tempo que eu tirava para chegar ao trabalho era cerca de dez minutos, então, arredondando, chegaria exatamente às oito e meia, em ponto. "Meia hora atrasada. Nunca mais fico no celular até tarde". 

O trânsito até que estava favorável; "poucos carros para uma sexta feira", pensei. Em frente à Floricultura Marie, vi Vanessa tentando acalmar o primeiro freguês do dia que parecia muito nervoso balançando a chave do carro e olhando inúmeras vezes para o seu Rolex. Dei a ré e estacionei na minha vaga de sempre.

– Bom dia! – disse sorrindo, educadamente, para Vanessa e àquele primeiro freguês do dia.

– Bom dia. – disse ele, meio que amargo. – Pensei que o horário de funcionamento fosse a partir das oito.

– E é, sim senhor. Porém tive um pequeno contratempo.

– Quase desisto e ia pra concorrência.

"E por que não foi?", pensei, me segurando.

Ajudei Vanessa a levantar a grade rapidamente e assim demos visibilidade para as flores que estavam atrás da porta de vidro. Peguei as chaves e entrei para ligar tudo o que tinha para ligar. O homem foi logo entrando em seguida, sem minha permissão. "Pronto, é hoje!".

– Você tem a mescla de rosas e lírios, se possível com vaso plastificado, adornado da frase Love So Much?

– As rosas e lírios eu tenho, sim. O vaso plastificado também. Quanto ao papel presente com dizeres, eu só tenho Eu te amo tanto que tem o mesmo significado que Love So Much.

– Isso eu sei. Qualquer um sabe disso. Mas eu queria Love So Much.

– Entendo. Mas infelizmente eu não tenho Love So Much.

– E agora? – se interrogou o homem, mais do que para si mesmo. – Será que ela vai gostar?

– Olhe, essas rosas e lírios estão lindas, eu tenho certeza que ela vai adorar.

– Não posso negar que estão bonitas. Mas idealizei isto, com as palavras Love So Much, pois é o tema de nossa música.

– Sinto muito, senhor. Sei a importância da música tema de namoro, mas realmente eu não a tenho. Leve a tradução, é a única opção.

– Sim, sim. Acho que vai ser o jeito levar essa droga. – disse mais uma vez o homem com a sua abominável grosseria.

Respirei fundo tentando tragar o máximo da pureza das flores, e disse:

– Muito bem. Vou prepará-las.

– Só vá com mais pressa, por favor. Já estou muito atrasado para o trabalho. Você abriu terrivelmente tarde hoje.

O dia realmente não era dos meus. Preparei às flores e o homem não saía de cima de mim dizendo que queria assim e assado. Eu já estava para mandar ele para bem longe e desistir de fazer aquela venda para aquele ser impertinente. E alguns minutos depois, com cara de poucos amigos, o homem foi embora.

Logo que o cliente saiu Vanessa veio conversar.

– Que sujeitinho chato, hein! – disse ela.

– Nem me fale. – disse pegando a garrafa térmica das mãos dela e me servindo do café. – Começar o dia atendendo uma mala como essa é o inferno.

Vanessa sorriu e disse:

– E se eu te disser que estas flores são para a sua amante?

– O quê?! – disse desacreditada. – Para a sua amante?

– Sim. O próprio filho da mãe me contou enquanto aguardávamos por você.

– Mas que cretino. Se eu soubesse disto eu nem lhe venderia às flores.

– Ah, vai ver ele ama mais a amante que a esposa.

– Sim, e para a esposa ele dá as obrigações do dia a dia. Me poupe, Vanessa.

Vanessa sorriu, continuou:

– Mas relaxa. Vai vir mais sujeitinhos como este hoje.

– Por que diz isso? – perguntei enchendo mais uma vez o copo de café.

– Amanda. Onde você está com a cabeça? Hoje é o dia dos namorados. Esqueceu?

– Meu Deus! – exclamei nervosa. – Como eu pude esquecer disso?!

– Repito, Amanda: onde você está com a cabeça. E que aparência é essa? Está com uma cara horrível. Caiu da cama?

– Quase isso. – Respondi pensativa

– Por que, o que aconteceu?

– Como você sabe, ontem eu e o Paulo fomos jantar naquele Bistrô super aconchegante do Sr. Gerard e, para minha surpresa, ele fez o pedido.

– Que pedido? – perguntou ela franzindo o cenho num gesto de curiosidade.

– Como que pedido? O pedido de casamento, Vanessa.

– Meu Deusss! Eu não acredito! Nossa! Já não era tempo? Faz 3 anos que vocês estão juntos.

– Pois é, só que fiquei tão surpresa. Ele foi muito romântico e carinhoso, mas bateu uma insegurança.

– Por quê?

– Não sei. Será que é a hora certa de dividir uma casa, compartilhar uma vida...?

– Claro que é. Vocês são tão perfeitos juntos. O queijo e a goiabada.

– Não sei. Tomara que você tenha razão e essa insegurança seja somente pela surpresa do pedido.

– Mas deixa eu ver essa aliança. – Vanessa pediu, toda contente.

Mostrei com um pouco de vergonha, já que quase não uso jóias ou acessórios.

– É lindo disse ela. É incrível como essas coisas ficam mais bonito nas noivas.

– Sim. É verdade. – disse olhando para os meus dedos. Agora eles estavam mais belos, e pensei no futuro, positivamente, eu e Paulo juntos, para sempre, com nossos filhinhos andando pela casa, correndo pra lá e pra cá, e nós dois abraçados, curtindo os pestinhas.

Um monótono dia de trabalho se estendeu por horas e horas naquele dia. Elas pareciam se repetir diante dos meus olhos clementes. A cada atendimento, eu dirigia o olhar para o relógio. Aquele parecia ser o pior Dia dos Namorados. Mas o que eu estava dizendo? Eu era agora a noiva do cara que mais amava na vida.

– Deus! O tempo parou? – disse à Vanessa. Ela me olhou e me deu uma risada bastante gostosa.

Finalmente o relógio batia as dezoito e trinta e eu pude voltar pra casa e ficar quietinha pensando nas mudanças que estavam por vir.

A Tentação do Meu Ex NamoradoWhere stories live. Discover now