Capítulo 16

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Depois daquele fatídico jantar que me deixou mais confusa do que nunca, passei o restante da semana no piloto automático. Minha vida estava uma bagunça, quase falida, meu noivado na beira do abismo e um ex-namorado que estava me tirando os últimos vestígios da minha sanidade.

Eu precisava tomar as rédeas da minha vida novamente, não podia ficar em stand byte, precisava resolver meus problemas. Pra começar, resgatei meus tênis de corrida do fundo do armário, coloquei uma legging preta e uma camiseta, ajustei os meus fones de ouvido com a minha play list favorita e saí pelas ruas da cidade, sem destino. Como ainda era muito cedo, 5:30, pra ser mais exata, as ruas estavam vazias, o orvalho da noite ainda cobria a superfície dos carros estacionados no meio fio. Esses momentos me traziam paz, me deixava livre para resolver os meus conflitos e tomar decisões que acreditava serem melhores para todos.

Duas horas depois, eu estava deitada no gramado da praça da cidade com os braços cobrindo o meu rosto cantarolando baixinho Não é fácil da Marisa Monte, começo a lembrar dos momentos que vivi com o Paulo, os encontros na biblioteca, o jeito tímido dele que tanto me encantou, o primeiro beijo na porta da floricultura, a nossa primeira noite juntos, o desejo explodindo pelos poros e ao mesmo tempo uma vergonha em expor os nossos corpos nus um para o outro; a primeira briga, tudo porque eu queria assistir o show da Ana Carolina e ele não quis me levar, ficamos dois dias sem nos falar. Tantos momentos felizes, outros nem tanto, mas sempre confidentes, companheiros, parceiros.

Quando foi que a relação começou a desandar, quando a indiferença do Paulo passou a me encomendar, será que todos esses anos eu fingi que isso não existia e só passei a notar agora? Eu não tinha essa resposta, mas tinha certeza que não poderia viver assim insegura, fingindo. Amava o Paulo, não tinha dúvidas disso, contudo somente o amor não é o suficiente para levar uma vida pela metade, escondendo uma eterna insatisfação, é preciso estar inteira, convicta e eu não estava. Além disso, sentia esse tesão incontrolável pelo Caio que acendia lugares desconhecidos no meu corpo. Não é amor, não é paixão, é tesão puro, carnal. Não devia permanecer em um compromisso com o Paulo, é meio estranho, canalha. Não seria justo pra ninguém. Os três cada qual da sua maneira mereciam a sinceridade e eu além de enganar os dois enganava a mim mesma.

Essa aliança tinha um peso diferente no meu dedo, o peso da dúvida, do conflito. Infelizmente era algo que eu não podia mais usar, não me trazia a felicidade que deveria, pelo contrário, a culpa me corroía toda vez que a olhava e lembrava dos amassos com o Caio quando quase transamos por duas vezes.

Enquanto houver sol, dos Titãs, tocava pulsante nos meus ouvidos e eu já tinha a minha decisão tomada. Procurar Paulo e romper o noivado, lhe entregar a aliança, mas deixar claro pra ele do porquê dessa decisão e o que me levou a isso, ele merecia a verdade. Se esse amor teria chance de recomeçar, só o tempo traria essa resposta. No momento, deixaria o Paulo livre e nos colocaríamos livres para o que viria a seguir.

Levanto em um salto e sigo para a minha casa. Envio uma mensagem de texto para o Paulo combinando um encontro para conversarmos no nosso lugar favorito, lugar esse que testemunhou muitos momentos bons da nossa história o Lago Jacarta.

Fiz um lanche, tomei um banho rápido, vesti uma calça Capri que por sinal estava mais larga, pois estava perdendo peso que não notava; uma regata branca e sapatilhas e fui ao encontro do Paulo. Minhas mãos estavam suando e um pouco trêmulas, no fundo nunca imaginei que esse momento chegaria.

Estacionei o meu carro e vi que Paulo estava a minha espera sentado em um banco, admirando o Lago. Me aproximei e não escondi o desconforto quando avalio a sua aparência, visivelmente mais magro, com olheiras profundas e barbudo. Digo um oi baixo que ele prontamente responde no mesmo tom e sento ao seu lado.

- O que houve com você, Paulo? Por que está tão abatido assim? – digo.

Ele segurou as minhas mãos, mas aos poucos fui tirando. Creio que percebeu minha indiferença.

- Você sabe; trabalho, noites mal dormidas, almoço fora de hora, preocupação.

- Sei. – respondo.

- Saudades sua também. Acho que principalmente isto. – ele diz abatido.

Fico sem graça, sem saber o que lhe dizer. Na verdade eu estava ali para acabar com tudo, e escutar as suas palavras me destruíam.

- Amanda, neste pouco tempo que ficamos separados, eu percebi que eu não posso mais viver sem você. Como você me faz falta. Você não tem noção disto. Eu não te esqueci por um momento sequer. Nunca deixei de te amar. Meus planos com você não foram palavras ao vento. Foram palavras sinceras de um sentimento que eu jamais havia sentido por alguém.

Não consegui conter minhas lágrimas. Algumas rolaram em minha face desfazendo minha maquiagem.

- Por que você sumiu de mim, Amanda? – ele continua. – Não responde minhas mensagens.

- Paulo, todo esse tempo que ficamos separados foi importante para eu refletir sobre nossas escolhas. Nós não estamos mais em sintonia, caminhando lado a lado como um casal que pensa em construir um futuro juntos. Você está sempre tão ocupado com sua carreira, suas coisas e foi deixando o nosso relacionamento de lado. Não culpo você, esse é o seu momento e você deve agarrar todas as oportunidades que a vida te oferecer. Mas pra mim isso é pouco, não sei lidar com a indiferença, com a falta de importância. Talvez isso seja infantilidade minha, ou vaidade, não sei. Mas não posso estar com alguém assim.

- Você não me ama mais.

- Amo muito e é exatamente por isso que não posso mais, porque sei que se eu aceitar a nossa situação como está esse amor vai acabar e tudo vai se transformar em mágoa, rancor.

- Não pode ser verdade. – ele fala dobrando braços.

- Mas é a verdade. – digo tirando as alianças. – Pegue-a. Sinto muito, Paulo, mas acabou.

Ele a segura, aperta forte em suas mãos, e diz:

- Você acha que ainda temos uma chance de volta?

- Só o tempo poderá nos dar essa resposta.

Levanto seguro o seu rosto e olhando nos seus olhos pela última vez, digo – Adeus.

A Tentação do Meu Ex NamoradoWhere stories live. Discover now