Capítulo 29

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Como não tenho mais carro, sigo para a floricultura a pé mesmo, porém muito contente por ter resolvido a situação com o Caio. Essa página da minha história foi encerrada com louvor.

Entro na floricultura pingando de suor, o sol está para fritar ovos no asfalto, teria que lembrar de carregar um protetor solar na bolsa além de um boné pois essa situação seria uma constante na minha vida agora.

Vanessa estava no celular com aquela cara que só os apaixonados têm quando estão conversando com o objeto da paixão: olhos brilhantes, bochechas rosadas e suspiros constantes. Acho que fiquei até diabética só de presenciar a cena.

Vanessa encerra a ligação com os famosos "beijos amor" e vem na minha direção com o sorriso congelado na face. Gosto de ver minha amiga feliz. Ela merece todo amor do mundo, penso enquanto admiro o seu sorriso. Alcanço uma garrafa de água no frigobar do escritório e me jogo na cadeira enquanto Vanessa senta no sofá e inicia o interrogatório sobre o encontro. Conto com detalhes como tudo ocorreu. Vanessa não aguenta e cai na gargalhada imaginando o Caio como o material danificado.

- Pois é, amiga, Caio é passado. A oferenda voltou pro mar. - digo

- Que alívio escutar você dizendo isso, Amanda. O cara é chave de cadeia.

- Oh se é. Agora ele vai ter que se entender com uma Suellen furiosa que pretende arrancar tudo e mais um pouco dele.

- Plantou vai colher. Essa é a lei da vida.

- É verdade, amiga. Mas agora tenho que pensar no outro lado da história: Paulo.

- E o que você pretende fazer?

- Estou pensando em fazer uma visita pra ele no sábado depois que sair daqui. Estamos precisando ter uma conversa definitiva sobre nós para resolver se voltamos ou não. Contudo, até lá vou juntando os pedaços do quebra-cabeça que se tornou o meu coração pra poder chegar, há uma resposta.

- Faça isso, amiga. Ouça o seu coração e encontrará a sua resposta.

O restante da semana passou rápido e com muito trabalho. Sábado chegou e antes de ir para a casa do Paulo passei na padaria pra pegar uns salgados que havia encomendado e solicito um táxi na cooperativa.

Estranho quando chego na casa e a porta está um pouco aberta. Paulo estava sentado na mesa e percebi que tinha companhia.

- Aceite amigo. – ouvi alguém dizendo. Só então percebi que eram os seus amigos da escola. Novamente fiquei braba ao ver aqueles caras ali, cuspindo no chão e falando palavrões. "Não mudou nada. Absolutamente nada", disse comigo mesma. Mas, no entanto, permaneci ali, para ouvir a conversa deles.

Paulo não falava nada, só tamborilavam os dedos na mesa.

- Eu vi o cara. O filho da mãe é boa pinta mesmo. Parece até aqueles modelos de comercial de cuecas. – disse novamente o mesmo cara.

- Vá pro inferno, Luís. – respondeu Paulo, jogando uma carta de baralho no amigo.

- Venha! – disse Luís. - Vamos sair. Tem várias garotas que querem te conhecer. A Tatiana já está sabendo que você está solteiro e tá doida pra liberar pra você.

- Não estou solteiro, Luís. – disse Paulo, me surpreendendo. Me arrepiei toda. - Ainda estou noivo. Olha minha aliança. Pra mim nunca acabou. E se ela não me ama mais, farei tudo: o possível e o impossível para tê-la novamente comigo. Desistam! Vocês não estão se comportando como amigos.

- Que isso, cara, a gente só quer te quer ver feliz.

- Não parece; afastando a pessoa a quem mais amo!

Eu estava escutando tudo aquilo com lágrimas nos olhos. Será que eu estava sendo justa com ele?

- Sabe; havia coisas que eu realmente reparava, mas eu evitava falar. Sabia quando o tempero estava diferente, e que ela fazia aquilo para me agradar. Sabia quando usava um perfume especial, quando chamava minha atenção antes de sair. Mas eu não dizia nada. Ela teve suas razões para se afastar de mim. Mas nada que não seja irremediável. Amores passam por declínio. São testes de Deus. Deus gosta de nos testar. E se ele estiver me testando? Não vou desistir da pessoa a quem mais amo na vida.

- Você razão, Paulo. – disse Douglas, o que mais dava forças para Paulo voltar comigo.

- Que frescura, gente. Vamos pra balada. Vocês parecem dois veados. – disse Luís.

- Vão lá. Não deixem de se divertir por minha causa. – Disse Paulo. – Vou continuar aqui, com a minha saudade. – Disse ele colocando novamente a música Ainda Lembro da Marisa Monte, música que eu amava.

- De novo essa música?! – disse Luis. – A Marisa Monte já tá ficando rouca de tanto canta-la.

- Sim. – disse ele se sentando no sofá e aumentando o som.

Eu continuava a assistir aquela cena, passivamente.

Uma lógica veio na minha mente; percebi que quão supérfluos são os detalhes de um relacionamento. Caio, meu antigo namorado, sabia de todos os detalhes de quando namorávamos, porém não passava de um mulherengo, um homem inconstante e sem sentimentos. Porém o Paulo, meu noivo, não se recordava dos detalhes, porém jamais me traiu, e ainda me amava perdidamente.

Engoli o meu choro, respirei fundo, e saí por entre as paredes, com uma interrogação que perturbava minha cabeça.

A Tentação do Meu Ex NamoradoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora