Capítulo 14

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Depois que eu saí da casa do Paulo, eu fiquei pensando se aquilo era o certo a se fazer. Dar um tempo pra mim foi sempre algo estranho, um eufemismo de adeus. Mas agora já era muito tarde para arrependimento, eu já tinha feito e não tinha mais volta. Quer dizer, eu podia muito bem dar meia volta e voltar até lá e pedir perdão a ele. Mas não, eu não podia ferir o meu orgulho. Era o certo a se fazer, mesmo meu coração dizendo que não. Tínhamos que ver como íamos nos comportar, distantes, sem cruzar os olhares, sem se tocar. Será que ele me faria falta? Será que eu faria falta a ele? Agora eu tinha certeza, era o certo a se fazer. Dar um tempo não podia ser tão ruim assim, tinha sim o seu lado positivo.

Assim que cheguei em casa, fui logo para o banheiro preparar a banheira. Eu precisava de um banho bem gelado, apesar do frio para esfriar a cabeça e por o tico e o teco para funcionar. Depois do banho fui à cozinha para preparar um chocolate quente. Naquele momento, enquanto a água fervia no fogão, fiquei pensando na expressão de Paulo quando eu disse pra gente dar um tempo. Meu Deus, quase eu choro. Nunca havia visto aquela expressão antes. A expressão de tristeza, melancolia, uma expressão de dor como se alguém tivesse tirando uma parte dele.

Mas é necessário esse tempo, casamento é um passo sério, uma aliança para um futuro juntos. É preciso que o casal esteja ciente que este é o melhor momento para os dois. Não existe garantia de felicidade, mas, em relação, os dois precisam estar em sintonia para caminharem lado a lado e assim enfrentar os problemas que virão.

É, eu não discernia os delírios da minha mente, mas parecia que eu e o Paulo estávamos nos distanciando. Esses sinais de indiferença com a nossa história e o pouco valor que ele tinha dado para os nossos momentos juntos tinham sido desgastantes. Até mesmo quando me perguntou sobre o meu namoro no passado com o Caio, não me pareceu interessado tão pouco com ciúmes, apenas curioso. De duas, uma, ou ele tinha muita convicção do nosso relacionamento, ou os seus sentimentos não eram tão fortes para ele mostrar tamanha indiferença.

Preparei o chocolate quente e me sentei no sofá; estico as pernas no meu puff preferido e começo a zarpar a TV. Encontro dois filmes que me interessam Diário de uma paixão e Simplesmente acontece. Como não queria chorar horrores e no outro dia ter que acordar com uma dor de cabeça infernal, opto pelo segundo.

Durante o filme fico pensando como a nossa vida é cercada de se. Como tudo é permeado pelas escolhas que fazemos. Observo as personagens do filme passando por situações diversas que são resultado das escolhas do passado que levaram a vários desencontros. Analisando a minha vida e me pergunto: Será que se o Caio não tivesse ido estudar fora, hoje estaríamos juntos, até mesmo casados? E o Paulo em algum momento o teria conhecido? São muitos questionamentos e poucas respostas.

A única certeza que eu tinha era que embora amasse o Paulo eu não acreditava que aquele seria o momento para iniciarmos uma vida juntos. Ele estava me deixando cada vez mais insegura. Além disso, tem a presença constante do Caio que aparecia em todos os lugares nas situações mais inusitadas. Seria mentira da minha parte dizer que ele não mexe comigo, o homem era gostoso e tinha uma pegada de derreter iceberg e um beijo que me tirava da órbita. Mas tinha alguma coisa no seu olhar e em algumas de suas palavras que me davam calafrios, uma sensação ruim que eu não conseguia explicar.

O filme já estava acabando e ainda bem que pelo menos na ficção os protagonistas ficaram juntos no final e o beijo tão esperado e apaixonado aconteceu. Eu, por sua vez, continuava com as mesmas indagações e sem resposta alguma. Sem contar que o chocolate quente esfriou porque foi esquecido na mesinha de centro.

Nossa, eu preciso desabafar, dividir com alguém aquele momento de dúvidas. Embora sabia que a decisão sobre permanecer ou não com o noivado caberia somente a nós, mas um ombro amigo é sempre bem vindo É não existia pessoa melhor do que a Vanessa com toda a sua calma e paciência para escutar as minhas lamentações.

Desliguei a TV , joguei o chocolate quente na pia, lavei as louças, peguei o telefone fixo do suporte e segui para o quarto comendo uma maçã. Como era de costume, Vanessa atendeu no segundo toque, conversamos por um longo tempo, chorei um pouco, mas fiquei com o coração aliviado e com a certeza que esse tempo seria o melhor a ser feito no momento. 

A Tentação do Meu Ex NamoradoWhere stories live. Discover now