Capítulo 19 - É tarde demais

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Não sei o que deu em mim naquele momento, porém quando dei por mim já estava batendo na porta do Ian com um buquê ridículo de flores que obriguei Catarina a colher.

Fiquei meio relutante com a minha própria decisão, mas eu já estava me irritando com o quanto eu pensava nele e em quanto o fato de ele estar me odiando me incomodava. Ele me xingando e me odiando doía muito mais do que parecia, tanto que mal consegui dormir devido aos sonhos estranhos que tive com Ian me ignorando como se eu não existisse enquanto conversava com Catarina.

Eu tinha que remediar isso.

Poucos minutos depois, ele abriu a porta e ficou me encarando de cima a baixo com certo espanto antes de fechar a cara.

— O que você quer? — esbravejou. Tive que respirar fundo para não retrucar de maneira rude.

— Eu posso entrar?

Ele pensou bem e acabou deixando no final das contas, embora não parecesse nem um pouco satisfeito em me ver.

Entrei mancando e mantendo a mão livre junto ao corpo, pois a mesma ainda estava muito dolorida.

— Eu não devia ter falado aquilo tudo — comecei assim que ele fechou a porta e se virou para me encarar. — Minha intenção nunca foi te magoar.

— Fica tranquilo, não estou magoado — O modo como falou me convenceu do contrário. Ian cruzou os braços com a cara amarrada.

— Sei que está — Ergui as flores para ele torcendo para que pegasse a acabasse logo com isso. Queria que voltássemos ao que éramos antes e passássemos uma borracha no que aconteceu. — Eu mesmo as colhi.

— Você? — questionou, contendo uma risada como se duvidasse. — Nesse estado?

— Tá, mandei Catarina colher — confessei com certa irritação. — Mas eu as escolhi.

Ele pegou com o cuidado de não encostar em mim e me vi um pouco incomodado com o fato de ele estar sem camisa e vestindo uma calça saruel roxa horrorosa. Não importava o quanto eu tentasse, meus olhos acabavam recaindo sobre o contorno de seus braços, as pequenas cicatrizes que mal apareciam em volta dos mamilos e até mesmo no pescoço, onde continham marcas de mordidas causadas por mim.

Pela coroa! — queixei-me em pensamento. Como esse idiota tinha um corpo bonito, tão bonito que eu não conseguia parar de olhar, mesmo com aquelas cicatrizes horríveis cravadas ali.

— Não é bem um pedido de desculpas — soltou, cheirando as flores e interrompendo meus pensamentos.

— Mas aceite como um — pedi, tentando não relutar. Algo dentro de mim sempre borbulhava quando eu me via na obrigação de pedir desculpas, tanto que jamais o fazia. — Não sou muito de me desculpar.

— Sei bem disso — Para o meu alivio, ele sorriu e soltei o ar assim que o fez. Pensei que jamais veria aquele sorriso de novo e tive vontade de chegar mais perto dele.

Obedeci meus instintos e me aproximei ousando pegar em sua cintura e puxá-lo para mim. Eu queria ter certeza de que era isso que eu queria, de que caso eu abrisse mão disso eu não conseguiria mais ter a felicidade que eu tanto almejava. Será que Ian era o que me faria feliz?

Para a minha surpresa, ele se afastou de meu abraço com um leve empurrão e se sentou na cama, me deixando como um idiota parado ali diante daquela rejeição.

— Minha vez de pedir desculpas — disse, colocando as flores na mesinha de cabeceira antes de se apoiar com os cotovelos na cama e inclinar o queixo para mim. — Você estava certo.

O quê? — Me vi dizendo completamente perplexo. Eu só tinha falado atrocidades, que mesmo sendo verdadeiras a meu ver, sabia que eram grosseiras.

— Disse que estava certo — repetiu com calma. — Eu tenho vinte e três anos, Noah e você tem dezessete. Por mais que eu goste de você, nossa relação é legalmente errada. Já sou um adulto e você um adolescente, fui um idiota em pensar que estava tudo bem, sendo que não estava.

— Sério que você tá me chamando de criança?

— Não, só estou dizendo que o que temos tem que parar justamente por causa disso. Se alguém descobrir eu posso ir para a cadeia e eu não quero ir pra lá tão cedo.

— Então não quer ficar comigo por medo?

— Não venha colocar a culpa pra cima de mim, você quem me deu um fora primeiro.

— Mas foi um erro, podemos fazer isso dar certo — insisti. Eu já estava quase perdendo as esperanças. — Ian...

— É aí que tá, Noah, isso nunca vai dar certo — O modo como falou destruiu meu próximo argumento. — De que adianta lutar por um relacionamento que já veio errado? Eu trabalho para você, nossa relação deveria ser meramente profissional e não passar disso. Sou seis anos mais velho do que você e isso é tempo demais, meu príncipe!

— Então é isso? Fez eu gostar de você para depois dizer que não quer mais porque nossa relação já nasceu condenada?

— Só estou ressaltando o que você já tinha dito, embora eu não concorde nem um pouco com esse seu preconceito. Dois homens juntos não tem nada de errado, nós dois juntos sim.

— E qual é a diferença? Somos dois homens, não somos?

— Não, você ainda não é um homem, ainda é imaturo e infantil como uma criança mimada. Não tem ideia do que é um relacionamento.

— Então me mostre — pedi, chegando mais perto dele e tentando ignorar o fato de ele ter me chamado de criança imatura.

— Para que? Para no final das contas perdemos um ao outro? Você vai se casar, ter filhos e isso é uma coisa que eu não posso te dar, meu príncipe. Se você quiser tudo isso, não pode ficar comigo.

Tive que reprimir a minha vontade louca de chorar. Por que ele estava fazendo isso? Tudo bem que eu não fui nada amigável na nossa última conversa, mas o que ele dizia era mil vezes pior a meu ver.

— Tenho que te libertar antes que acabe gostando muito de mim — falou e foi como um filme passando diante dos meus olhos. Cada sorriso que dirigiu a mim, cada toque que me desestruturou, as mordidinhas, os abraços, os beijos, tudo o que compartilhamos um com o outro sendo despejado na minha cara, revelando algo que de alguma forma tentei manter escondido de mim mesmo, e foi o que bastou para romper aquilo que bloqueava as minhas lágrimas.

— É tarde demais, Ian — choraminguei, deixando as lágrimas finalmente rolarem. 

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