II - As cores em minha vida [FINAL]

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- O que significa isso? - indaguei, me controlando para não gritar. - Saí de perto dela!

Confesso que meu sangue ferveu no momento em que vi Lipe dando em cima descaradamente de Jasmim, a minha Jasmim!

Assim que me ouviu, o rapaz loiro revirou os olhos, jogando os fios para o lado com uma virada de cabeça que me dava náuseas.

- Para de dar chilique, Noah - ousou dizer, com aquela voz fina e espalhafatosa.

Sinceramente eu não estava entendendo bulhufas. Como aquele ser visivelmente afeminado, que ousou dar em cima de mim na minha festa de dezoito anos agora estava dando em cima da minha filha como se fosse algo normal?

- Chilique? Você só pode estar ficando louco, como ousa dar em cima da minha filha seu retardado? Você não era gay? - perguntei, olhando desconfiado para suas botas rosa de salto agulha.

O rapaz estava de pernas cruzadas e exibia aquela sua echarpe cor de rosa como se fosse a coisa mais hétero do mundo.

- Nunca disse que eu era gay - protestou, voltando o olhar para a minha filha, que dava um sorriso tímido para ele. - Sou pansexual, meu querido.

- E eu vou querer saber o que é isso? - grunhi, tentando falar alto para fazer aquele babaca se afastar da minha filha. Se ele tocasse nela eu iria acabar com a raça dele.

- Gosto de pessoas, meu amorzinho - revelou, fazendo um gesto com a mão pedindo para que eu ficasse quieto. - Não importa o que elas tenham entre as pernas.

- Não sou seu amorzinho - Meu punho enrijeceu e estava me controlando para não avançar naquele idiota. Só não tinha feito nada ainda porque estávamos no meio da festa de casamento de Ícaro e Leo e não queria estragar tudo com o meu ciúme.

Assim que viu que eu estava um pouco distraído, Lipe arrastou a cadeira para mais perto dela e começou a passar os dedos nos longos cabelos negros da minha filha, que soltava uma risadinha em resposta, vermelha como um tomate.

- Eu vou arrancar a sua cabeça se você não parar com essa saliência - alertei, com o olhar firme e tentando manter a calma.

- Para de me tratar como criança, pai - reclamou Jasmim, com a voz fina e delicada que encantava a todos, inclusive o palerma ao seu lado.

- Mas você é uma criança...Ian! - exclamei, buscando qualquer tipo de suporte dele, já que a minha própria filha conspirava contra mim.

- Calma, meu príncipe! - Ele apareceu ao meu lado, com Max no colo. Ele já estava com cinco anos e não parava de puxar a echarpe do pescoço de Ian, que tentava não morrer enforcado com isso.

Enquanto o Max infernizava a vida do pai, Alex estava correndo em direção a Lipe e fazer o favor chamar a sua atenção, desviando da minha filha adolescente que não era para o bico imundo dele.

- Não me manda ficar calmo - reclamei, entredentes. - Ele tem o dobro da idade dela.

- Não tenho nada! - protestou Lipe, pegando a minha pequena no colo e girando no ar com aqueles braços magros como galhos que ele tinha.

- Quando a gente se conheceu, você era mais novo do que eu - disse Ian, tentando fazer Max parar quieto no lugar, segurando suas mãos intrometidas, que insistiam em puxar a roupa dele.

- Tá defendendo ele? O mesmo ser que deu em cima de mim na minha festa de dezoito anos agora está dando em cima da minha filha de quinze, como isso pode ser certo?

- Deixa ela, amor, ela sabe se cuidar. Precisamos confiar nela, tá bom?

- Obrigada - Jasmim arfou, cruzando os braços parecendo satisfeita. - Pelo menos um dos meus pais me entende.

- Estou só tentando te proteger desses trastes, meu amor. Não precisa ficar brava comigo, se ele tocar em você, avisa ao papai que ele mata, só quero deixar isso bem claro - Peguei a taça sobre a mesa e comecei a bebericar a fim de me acalmar.

Ian riu, enquanto ninava Max, que finalmente tinha pegado no sono. Era muito louco ver como tudo estava tão diferente agora. Para alguém que cresceu sem amor e afeto era algo muito grande e muito rico de se ver, nossa família se amava, se ajudava, se protegia e eu lutaria até o fim para mantê-la.

Pousei os olhos em Ian, que já estava com os cabelos levemente grisalhos, embora ele ainda fosse novo. Ele continuava de olhos fechados, ninando nosso filho e foi naquele momento que Thinking out loud começou a tocar. Ian levantou a cabeça para olhar para mim e dividir um sorriso comigo, aquele mesmo sorriso que me desarmava sempre e que deixava meu coração descompassado.

Eram essas coisas pequenas e únicas que faziam tudo valer a pena, que faziam meu mundo ganhar as cores que faltavam nesse arco-íris imenso que era a vida.

Fim

***

E assim termina a história de Noah e Ian <3

Essa história é muito especial para mim porque sempre quis escrever sobre um personagem transexual, além de abordar a transfobia, que infelizmente ainda acontece muito na nossa sociedade e eu espero de verdade que isso mude porque não há nada de errado em ser quem você é.

Beijos com purpurina!

Feche a porta quando sair ✅Donde viven las historias. Descúbrelo ahora