Capítulo 43 - Para ficar de olho em você

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 Eu não sabia o que era pior: estar deitado no chão imundo sendo parcialmente estrangulado no meio de um temporal, ou ser defendido por uma mulher que eu odiava e que segurava um guarda chuva preto como se fosse uma espécie de arma

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 Eu não sabia o que era pior: estar deitado no chão imundo sendo parcialmente estrangulado no meio de um temporal, ou ser defendido por uma mulher que eu odiava e que segurava um guarda chuva preto como se fosse uma espécie de arma.

William logicamente não entendeu a minha afirmação, já que não tinha ideia de quem era Catarina, mas nem me dei ao trabalho de explicar, apenas me concentrei na minha fraca respiração e no incomodo que uma das poças de água suja causava em mim, porque mechas e mais mechas dos meus cabelos estavam boiando nela.

Nunca me senti tão sujo na minha vida e estava pensando nisso quando Catarina partiu para cima de William com uma força que não parecia ser dela. Eram chutes e movimentos tão hipnotizantes e tão profissionais, que parecia que eu estava vendo um filme de artes marciais.

Em poucos segundos, ele saiu de cima de mim e caiu para o lado, pedindo arrego, implorando para que ela parasse, enquanto eu continuava ali em estado de choque, me sentindo muito mal por uma mulher ter me defendido, de ela ser capaz de derrubar um homem com o dobro do tamanho dela sem esforço algum, chegava a ser surreal.

Ela finalmente parou, ajeitando o vestido surrado e com o guarda chuva ainda em mãos, só que dessa vez aberto, a protegendo da tempestade. William parecia tão mal quanto eu, encolhido em uma poça com as mãos escondendo o rosto ferido.

Catarina se voltou a mim, ajoelhando ao meu lado e me ajudando a levantar passando um dos braços em torno da minha cintura e deixando que eu me apoiasse nela. Antes, eu teria franzido o nariz ou surtado com a nossa aproximação, mas eu não estava em condições de reclamar ou não aceitar ajuda, tive que engolir meu orgulho e esconder o ódio que eu sentia por ela, enterrá-lo bem fundo para que não se manifestasse.

Ela me levou até o carro, onde Nathan esperava com os braços cruzados, parecendo bem tenso. Quando nos avistou, foi correndo em nossa direção e a ajudou a me carregar até o banco de trás do carro, onde me acomodei, tremendo de frio.

Ninguém falou nada até chegarmos ao palácio, Nathan e Catarina me levaram até o meu quarto e ela chamou Sonia para que me ajudasse a tomar banho e tive que ouvir aqueles discursos preocupados dela, dizendo que eu devia tomar cuidado com esses arruaceiros e que iria medir a minha temperatura para ver se eu estava com febre, sendo que uma coisa não tinha nada a ver com a outra.

De certa forma eu fiquei feliz com aquela preocupação dela, às vezes era bom saber que alguém no mundo se importava com você, que a sua existência fazia diferença para alguém.

Eu nem tinha vergonha de ficar pelado na frente dela, então foi muito fácil para ela me ajudar com isso, me ajudou a me esfregar tomando cuidado para não me machucar ainda mais e colocou a minha roupa tendo que ouvir meus palavrões quando ela esbarrava em um machucado e logo pedia mil desculpas.

Ela me levou até a cama e deu um beijo bem demorado na minha testa, tirando uma mecha intrometida dos meus olhos antes de sorrir de dizer ''Boa noite, querido''. Isso me fez sorrir também e confesso que mal me lembrei da dor e do fato de que eu estava em greve de sorrisos.

Enquanto eu me enroscava nas cobertas, ainda tremendo de frio ouvi a porta bater, me despertando da minha leve sonolência.

Meu rosto ainda ardia muito devido aos machucados e meu pescoço tinha marcas de estrangulamento, as mãos daquele homem pareciam desenhadas ali. Encolhi-me, pensando que fosse a minha mãe, já que eu tinha esquecido de reabastecer o estoque de remédios e senti uma lágrima escorrer por um de meus olhos quando pensei que fosse ela para me machucar ainda mais.

Só que o aperto em meu perto e a tensão em meu corpo cessou assim que ouvi a voz fraca de Catarina, que me chamou bem baixinho enquanto dava batidas controladas na porta.

— Entre — falei, um tanto aliviado.

Ela segurava uma maleta e vestia uma roupa diferente, os cabelos soltos caindo em camadas e deixando os olhos azuis ainda mais azuis.

— Desculpe incomodá-lo — murmurou. — É que o senhor ainda está muito ferido e pensei que eu pudesse passar um remédio talvez.

Assenti, ainda sem entender direito porque ela estava fazendo aquilo. Sempre a tratei mal e nunca escondi o fato de que a odiava, então porque ela se dava ao trabalho de me ajudar?

Meus pensamentos se dispersaram assim que a vi tirando um pote de vidro da maleta, o mesmo pote de vidro que Ian possuía com um remédio que Kevin tinha feito.

— Ian — foi só o que falei e ela levantou uma sobrancelha, sem entender. — Esse pote, foi Ian quem te deu?

— Sim — confirmou, pedindo permissão para se sentar e permiti, chegando um pouco para o lado.

— Como você conseguiu fazer aquilo? — fiz logo a pergunta a qual a resposta eu mais ansiava.

— Faço aulas de taekwondo desde os meus dez anos — informou, tirando o meu cabelo molhado da testa enquanto passava o creme em meus ferimentos.

— Você bem que podia me ensinar — soltei, um pouco animado demais, tanto que me movi um pouco, fazendo com que Catarina quase acertasse meu olho com o remédio. — Foi mal — falei, um pouco envergonhado enquanto voltava para a minha posição anterior.

— Tudo bem.

— Vai me ensinar? — Eu estava mesmo muito animado.

— É claro, príncipe — sua voz soou muito...gentil. Gentil, era assim que Ian falava dela e o fato de ter coisas que pertenceram ao Ian me fez ter esperanças de que talvez ela tivesse alguma ideia de onde ele estava, ou até mesmo um motivo para ele ter sido tão grosso comigo.

— Por que fez aquilo? — perguntei, pensando no motivo pelo qual ela se daria ao trabalho de me defender depois do modo como a tratei antes de sair.

— Ian me fez prometer que ficaria de olho em você.

— Ian — tive vontade de rir, o som do nome dele sendo pronunciado causava calafrios desconfortáveis em meu estômago. — Ele não liga para mim, Catarina. Se ligasse não teria ido embora.

Ela suspirou, como se soubesse algo que não queria me contar e foi aí que me vi na obrigação de pressioná-la.

— Ele falou com você antes de ir embora?

Catarina assentiu, sem olhar para mim.

— E o que ele disse? — me inclinei, extasiado e louco de ansiedade com o coração voltando a bater num ritmo enlouquecedor.

— Para ficar de olho em você — repetiu, me decepcionando. — Ele estava destruído.

Destruído? Por favor, não me faça rir! A única pessoa que deveria estar destruída era eu e mesmo assim eu não estava. Admito que estava magoado e triste, sentia tanta falta dele que meus dias passaram a não fazer mais sentido, tanto que fiquei me perguntando o que diabos eu fazia antes de conhecê-lo.

Catarina finalmente olhou para mim e pelas lágrimas quase escorrendo de seus olhos, eu soube que uma história estava prestes a ser contada. 

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