Capítulo 39 - Meu turno acaba daqui a pouco

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Cortinas fechadas, quentinho debaixo das cobertas e não ousando abrir os olhos para nada, foi assim que fiquei praticamente o dia inteiro, mesmo com as batidas insistentes na porta trancada

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Cortinas fechadas, quentinho debaixo das cobertas e não ousando abrir os olhos para nada, foi assim que fiquei praticamente o dia inteiro, mesmo com as batidas insistentes na porta trancada. O lado bom disso tudo foi que a minha mãe não usou a sua cópia da chave para entrar e me perturbar.

A culpa era toda dela e eu sabia disso, então vê-la era a última coisa que eu queria. Só que com o tempo e com a choradeira infinita que acabei tendo, resolvi parar de sentir pena de mim mesmo. Sério, parecia que eu só chorava e isso estava começando a me irritar.

Eu era um homem quase adulto, ficar agindo como criança e chorando pelos cantos não ia me ajudar em nada e muito menos trazer Ian de volta. Se bem que depois do que ele falou, eu não queria vê-lo tão cedo. Aquela conversa que tivemos foi tão surreal que fiquei por horas me perguntando se aquilo realmente aconteceu, mas eu sabia que sim, minha imaginação não era tão fértil para elaborar uma cena daquelas.

Quando tomei coragem para sair da cama, tomar um banho bem demorado e vestir uma roupa qualquer, me senti mal ao descer as escadas deslizando os dedos pelo corrimão dourado. Embora o palácio estivesse cheio, para mim ele nunca esteve tão vazio. Cada cômodo que eu olhava era como um soco no estômago, um lembrete de que não importava onde eu olhasse, jamais o encontraria.

Resolvi afastar esse pensamento e fui agraciado pela presença de Sonia que fez o favor de me servir com uma torta de limão e eu comi um pedaço razoável tentando me concentrar no sabor do alimento e não nos problemas da minha vida.

— Está tudo bem, meu filho? — perguntou, passando a mão na minha testa para medir minha temperatura, toda preocupada como já era típico dela. — Está meio pálido, querido. Tem certeza de que está se alimentando direito? Quer que eu traga algo mais?

— Não, Sonia — sussurrei, forçando um sorriso que fez o canto dos meus lábios tremerem. Pelo jeito, Ian também levou meu sorriso espontâneo com ele. — Eu estou bem, só estava um pouco cansado.

Eu a adorava, mas eu não estava a fim de conversar. Engraçado que parecia que eu não a via há anos, sendo que ela morava no mesmo lugar que eu. Era estranho o fato de que a única pessoa fora o Ian que tinha o maior contado foi logo Catarina, justamente a pessoa que eu mais odiava.

Apesar de não parecer, eu sentia falta da Sonia, das sopas que ela fazia, dos cafunés enquanto eu comia, seu tom urgente e preocupado que deveria pertencer a minha mãe e não a ela. Sempre a vi como minha mãe, ou a figura ideal dela. Tudo na Sonia tinha esse tom maternal, era a única pessoa dali que eu realmente respeitava, a única que eu nutria o mínimo de afeto.

Comi um pouco rápido demais enquanto ela observava com a preocupação estampada no rosto gorducho e sacudindo os cabelos vermelhos e curtos, enquanto colocava as mãos na cintura larga que estava coberta por um avental branco como todas as cozinheiras do palácio.

— Estou mesmo bem — insisti, enquanto ela levava os pratos, mas ela não pareceu se convencer.

Decidi ignorar isso e arriscar dar uma volta lá fora para dar uma espairecida, ou até mesmo voltar as minhas raízes no Clube 5 com mais moderação, é claro. Já estava anoitecendo, o que era bom porque era geralmente nessa hora que o clube enchia de gente.

Feche a porta quando sair ✅Where stories live. Discover now