Capítulo 59 - Meu ponto de luz

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Ian

Não demorou muito para Noah vir correndo atrás de mim, agarrando meu ombro antes que eu atravessasse a rua.

- O que foi? - grunhi, me virando com raiva.

- Você precisa voltar, seu pai precisa da sua ajuda - sussurrou, parecendo desolado. Nada me machucava mais do que desapontar aqueles olhinhos tristes, mas meu sangue fervia e se eu não me afastasse de Noah naquele exato momento, eu iria socá-lo.

Respirei fundo e expirei lentamente, procurando me estabilizar sem usar qualquer tipo de violência. Sempre fui pacifico, calmo...O que estava acontecendo comigo?

Como se não tivesse entendido que eu o queria longe, ele chegou mais perto de mim e me pegou pela cintura com a mão que não segurava meu queixo.

- Não posso fazer isso - confessei, sacudindo a cabeça a fim de me livrar de seu toque.

- Por que não? Fala comigo, Ian! - exclamou assim que o empurrei e voltei a caminhar como se nada tivesse acontecido. - Você me ensinou que não devemos dar as costas para as pessoas - continuou, com a voz alta o bastante para que eu ouvisse.

- Não - neguei, fechando bem os olhos antes de me virar e fitar Noah quando eu estivesse mais calmo, o que durou longos minutos. - Isso você aprendeu sozinho, porque foram inúmeras às vezes em que dei as costas para você.

- Teve seus motivos - disse com um sorriso fraco. Sempre odiei o fato de que ele não aceitava meus erros, achava que eu era uma espécie de príncipe encantado perfeito, que não cometia erros ou se cometia, eram esquecidos e perdoados instantaneamente.

- Isso não muda os fatos, meu príncipe, não anula meus erros - Cheguei mais perto dele, abaixando um pouco a cabeça para fitar o seu rosto. - Meu pai não merece ser salvo por mim, não depois de ter praticamente me expulsado de casa quando eu tinha cinco anos, me renegado.

- Sei que tem um coração bom, Ian e que não deixaria seu pai morrer - insistiu. - Nossos pais são uma decepção e sei que a maioria das coisas que fizeram foram imperdoáveis e que as cicatrizes ficarão para sempre com a gente. Não estou falando de esquecer, Ian, um simples perdão não apaga as lembranças sufocantes, mas sim nos torna mais humanos, mostra que temos coração, empatia, é o que esperamos deles não é? Se não podemos dar aquilo que não recebemos das pessoas, sem esperar nada em troca, como vamos crescer, Ian? Como vamos nos tornar dignos daquilo que tanto almejamos?

Não consegui disfarçar a minha expressão de choque. Aquele era mesmo o Noah falando? O mesmo Noah que não hesitava em pisar em todo mundo, que era imaturo e infantil como uma criança mimada? Aquele era o meu Noah?

Deixando o choque um pouco de lado, soltando o ar, decidi ponderar todos os meus motivos, fazê-lo entender o porquê não podia ajudá-lo.

- Eu não consigo perdoar, Noah - confessei, sem conseguir disfarçar a mágoa. - Me lembro como ele olhava para mim, como se eu fosse uma decepção, como se preferisse que eu jamais tivesse nascido, um produto defeituoso. Imagine ser olhado dessa forma aos cinco anos de idade, quando ainda estava se descobrindo, quando mal sabia o que estava acontecendo...

- Exatamente, o problema dele é não te entender, e virar as costas para ele só dirá que estava certo esse tempo todo. Mostre que ele estava errado, meu amor - Confesso que algo aqueceu dentro de mim no momento em que ele me chamou assim, quase me deu vontade de sorrir. - Seja melhor do que ele porque eu sei o quanto dói perder alguém que você ama - Um vislumbre de tristeza passeou por seus olhos, era quase imperceptível para alguém que mal o conhecia, mas para mim era nítido e me destruía sempre que eu o via triste. Acho que ele estava pensando em seu avô e isso me fez soltar um gemido de dor. - Você pode odiá-lo agora, mas no final das contas, ele ainda é parte de você, ainda é seu pai e o peso que você terá que carregar será ainda maior quando descobrir que ele morreu antes de poder ver o quanto você cresceu e evoluiu.

Feche a porta quando sair ✅Where stories live. Discover now