Capítulo 64 - Uma linda bola de futebol

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Noah

 A cerimônia demorou um tempo para acontecer. Tive que conseguir comprovar que Ian de fato estava grávido e que era legitimo, só que quando conseguimos finalmente nos casar, Ian já estava com a barriga muito grande e toda imprensa estava presente, simplesmente porque além do casamento também seria feita a minha coroação. 

O salão estava incrível, abarrotada de mesas e com comidas de variados tipos. Tudo acontecia do lado de fora e havia um majestoso tapete vermelho e dourado que ia do salão até o lugar montado justamente para aquela ocasião. 

Lá fora, as cadeiras tinham detalhes floridos em contraste com a grama, pareciam que estavam enterradas ali e eram forradas com uma espécie de bordado com as mesmas cores da realeza. 

Ian queria usar um suspensório, mas por causa da barriga não estava nada fácil de ser colocado, então tivemos que deixar essa ideia de lado.

— Me sinto inchado — reclamou, tentando sem sucesso abotoar uma das diversas camisas que compramos. 

— Você está lindo, meu amor.

— Não minta para mim — grunhiu, assim que abotoou a camisa extra g que colocamos nele e ainda assim estava meio apertada. — Estou parecendo uma bola de futebol.

— Uma linda bola de futebol.

Ian riu e logo fez uma careta para o espelho. Ofereci-me para colocar a gravata nele, mesmo com a minha aparente falta de habilidade. 

Eu vestia um traje parecido com a que usei no meu aniversário, só que esse era bem mais detalhado e elaborado, a roupa de um rei. Olhei de relance para a minha coroa do outro lado do quarto, feliz por me livrar dela e usar uma ainda mais bonita e elegante. 

— A gente não devia se ver só na cerimônia? — eu quis saber, conseguindo finalmente dar um nó certo naquela coisa sem enforcá-lo. O corpo dele tava muito diferente e era ainda mais difícil chegar até ele sem ficar na ponta dos pés por conta da barriga, que saltava da camisa apertada. 

— Nada disso, você tem que me ajudar a colocar a roupa. Nem pensar que vou deixar outra pessoa me ver sem camisa, se com você já fico envergonhado quem dirá um desconhecido.

Eu ri, meneando a cabeça e o ajudando a colocar os sapatos. Embora ele se achasse uma bola de futebol, eu achava que ele estava mesmo muito bonito. Foi difícil vestir o paletó nele sem quase derrubá-lo no chão, mas graças à coroa dourada consegui e me senti muito orgulhoso no final. 

Depois chamei um dos contratados para dar um jeito no cabelo dele e o cara estava olhando para o Ian de forma esquisita, sem dúvida nunca tinha visto um homem grávido na vida. 

Isso incomodou um pouco o Ian, que tentava sem sucesso esconder a barriga gigantesca. Estava quase perto do nascimento, é claro que não conseguiria escondê-la. 

Quando ficamos prontos, tive que dar de cara com o meu pai do corredor, que pediu para nos apressarmos porque a cerimônia aconteceria em poucos minutos. 

Ele não ficou surpreso quando descobriu que Ian estava grávido, ainda mais depois que falamos um pouco a respeito da transexualidade dele. Foi fácil para ele desmanchar meu casamento com a Mel, tanto que logo depois eles já estavam assumindo um romance para a imprensa, já que quase ninguém sabia que aquela mulher era para ser a minha futura esposa. 

Todo mundo ainda falava do escândalo envolvendo a família real e a minha mãe ainda atrás das grades. Não tive tempo e nem coragem para visitá-la e fiquei me perguntando se algum dia eu teria. 

Meu pai foi o único que a visitou, apenas para que assinasse os papéis do divórcio, algo inédito na história real. 

Mal consegui conter a minha surpresa quando vi Ícaro Tramontini sentado na sua tão famosa cadeira de rodas motorizada, ao lado de seu noivo, que estava com a cabeça apoiada em seu ombro. Ver aquilo me fez sorrir e me apressar para chegar logo no lugar onde eu devia ficar aguardando a chegada do Ian.

Tinha muita gente ali, cochichando e sem dúvida falando coisas que eu não queria ouvir. Poucos estavam satisfeito e felizes. Com dentes trincados, resolvi fitar a grama que parecia bem mais amigável do às pessoas cruéis daquela ilha, que insistiam em destruir com palavras o dia mais importante da minha vida. 

Só levantei o olhar quando uma música começou a tocar, lenta e precisa. Encontrei o olhar de Ian, que atraiu ainda mais olhares de incredulidade e ainda mais cochichos. Ele estava de braços dados com Kevin e caminhava lentamente até mim, sorrindo.

Não tirei os olhos dele um minuto sequer, não queria olhar para os lados e me deparar com tantas pedras jogadas sobre nós. Algo me dizia que as pessoas só estavam ali para confirmar de que o meu casamento estava de fato acontecendo. 

Já podia imaginar como seria a manchete no dia seguinte e isso me fez soltar um gemido quase inaudível. 

Resolvi parar de pensar nisso e me concentrar apenas no motivo para tudo ser tão maravilhoso: Ian.

***

A coroação foi logo depois e conseguiu ser mais longa do que o casamento. Tive que ouvir todo aquele discurso chato e monótono do rei, que conseguiu alguns aplausos ao finalizar e usar a sua tão famosa falsidade para dizer o quão orgulhoso estava de mim e a maravilha que eu iria fazer pela ilha.

Só não ri daquilo porque seria antiético e me renderia muitos problemas no futuro, ainda mais sabendo que aquela coroação estava sendo gravada ao vivo em rede nacional. Então eu não podia fazer feio justamente naquele dia. 

Colocaram uma faixa em mim e luvas brancas que só não vesti antes por causa da aliança que eu teria que colocar. 

Alejandro penetrou seus olhos nos meus, quando tirou a coroa de sua cabeça e colocou na minha. Pude sentir o peso de suas mãos, o quanto ele não queria fazer aquilo, abrir mão do poder que tinha. 

Abri um sorriso satisfeito assim que tomei posse dela. Ela era bem mais pesada do que a minha e muito mais bonita, sabia que tinha sido feita exclusivamente para mim e mal olhei para o meu pai quando me virei com indiferença prestes a dar um discurso tão elaborado e verdadeiro quanto o dele. 

***

A festa foi mais legal, descontraída.

No entanto, a dança dos noivos foi bem desconfortável, todo mundo ficava olhando para gente com cara feia e até mesmo rindo.

Ian ficava toda hora olhando para os lados, dava para ver que estava se sentindo mal. Dançar com ele grávido já era difícil, quem dirá quando ele nem se dava ao trabalho de memorizar os passos e se concentrar neles, esquecendo as pessoas ao nosso redor que não tinham nada a ver com a gente.

— Ei — sussurrei, puxando-o pelo queixo. — Não olhe para eles, olhe para mim. Esse é o nosso momento e não os deixem tirar isso de nós.

Ian assentiu, apertando os lábios como se tentasse controlar a sua vontade de chorar. Aquelas pessoas o julgando, estava machucando ele e eu sabia disso, ainda mais tendo noção do quão desconfortável ele se sentia no próprio corpo devido aos hormônios que se misturavam mudando-o completamente. 

— Eles sabem sobre mim, não sabem?

— Não importa — garanti, engolindo em seco. — Se concentre na dança e só pense em nós dois e o quão feliz nós seremos daqui para frente. 

Inclinei-me para colar a testa na dele e conseguir fazê-lo dançar direito como deveria. Logo seu corpo foi relaxando e seu aperto ficou um pouco mais forte ao meu redor.

Ambos fechamos os olhos, sem pensar na música, no que as pessoas falavam... Concentramos-nos apenas nas batidas do coração um do outro, que para mim era o único som que importava naquele salão.

Feche a porta quando sair ✅Where stories live. Discover now