Noah
Acordei sentindo o aperto da minha mãe ao redor da minha cintura, sua cabeça estava apoiada em meu peito e notei que nós dois estávamos nus.
Parecendo que eu tinha algo preso em minha garganta, tentei me livrar lentamente de seu toque, tomando cuidado para não acordá-la.
Levantei da cama, coçando os olhos e pegando as roupas jogadas no chão e as vestindo, mesmo estando amarrotadas, dali eu conseguia extrair o cheiro enjoativo do perfume dela enquanto se esfregava em mim na noite anterior.
Passei um tempo bem longo olhando para ela, agarrada aos lençóis com uma expressão serena, sem culpa e aquilo não me fez nada bem, porque mesmo depois de tudo, ela não se sentia culpada, nunca se sentiu na verdade, nem mesmo depois de eu ter exposto todas as minhas angustias. Ela ainda teve a coragem de retribuir quando a beijei, de continuar me tocando daquela forma e aqueles pensamentos nebulosos precisaram ser afastados antes que ficasse difícil respirar devido ao nó imenso instalado em minha garganta.
Saí daquele quarto claustrofóbico, onde todas as minhas dores estavam depositadas e desci as escadas com pressa, nem mesmo parando para tomar café e nem nada, queria fazer logo aquilo.
Chamei Nathan e nós dois fomos até a delegacia assim como instrui, sem dar muitos detalhes a ele.
Eu estava transbordando ansiedade, mal podia esperar para ver Ian novamente, para tirá-lo de lá e trazê-lo de volta para a minha vida, como deveria ser.
Chegamos após um tempo que na minha cabeça foi infinito e pedi para que ele me acompanhasse caso algo desse errado. Cheirei de novo a minha roupa e fechei os olhos enquanto Nathan abria a porta para me deixar entrar antes dele.
Como era cedo, não tinha muita gente na fila de espera, mas nem sequer sentei naquelas cadeiras de plástico azul, fui direto para o balcão, exigindo ser atendido imediatamente.
O balconista não foi muito simpático comigo e Nathan tentou me acalmar quando me exaltei. Ele tinha dito que eu tinha que esperar na fila. Como assim? Noah Chevalier não espera em fila, ele é sempre o primeiro a ser atendido.
Logo um delegado - ou algo assim, não sabia como funcionavam aquelas coisas, então para mim tudo era delegado - foi até mim a fim de conter o tumulto que eu estava causando e me encaminhou até a sua sala assim que pronunciei meu nome completo, deixando transparecer o orgulho dele e me deliciando com o respeito que recebi assim que pronunciei, tanto que até consegui arrancar um pedido de desculpas meio nervoso do balconista. Só desculpei por educação e também porque não valia a pena perder meu tempo sentindo ódio de um balconista qualquer.
- Veio prestar depoimento, príncipe? - perguntou, assim que expliquei mais ou menos o meu caso.
- Não, vim fazer um exame de corpo de delito.
- Como assim? O jovem te violentou? - O delegado levantou a sobrancelha grisalha.
- Não, quero fazer uma denuncia e quero que tirem Ian da cadeia - discursei, com as palmas das mãos úmidas e unidas em meu colo. Minhas palavras tremiam assim como o meu corpo inteiro, mal acreditei que eu estava mesmo fazendo aquilo.
- Podemos fazer um boletim de ocorrência, mas tirar Ian da cadeia não vai ser possível, ainda mais sabendo os abusos que cometeu.
- Ele não cometeu abuso nenhum - grunhi, entredentes. - Eu queria estar com ele, tem diferença.
- Mas a rainha...
- É exatamente sobre ela que quero falar - soltei, interrompendo-o bruscamente. Respirei fundo antes de falar friamente sobre os abusos cometidos pela rainha, que era referência na ilha, um símbolo de respeito e de admiração. Era gratificante e ao mesmo tempo assustador, desconstruir a imagem que todos tinham dela, mostrar que de perfeição ela não tinha nada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Feche a porta quando sair ✅
RomancePLÁGIO É CRIME! É proibida a distribuição e reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia do autor. Noah Chevalier tinha um plano: iria se casar, ter uma filha e assumiria o posto de rei da Ilha das Flores como sempre sonh...